Em 2005, Rick Riordan presenteou o mundo com Percy Jackson e os Olimpianos, uma saga que rapidamente se tornou um fenômeno literário. Lançada no Brasil em 2005, a série de livros conquistou corações ao redor do mundo, acumulando mais de 50 milhões de cópias vendidas em mais de 35 países, formando uma verdadeira geração de amantes de mitologia grega e aventuras épicas. Não demorou muito e seguindo muito o hype de adaptações de fantasias para o público jovem, iniciado por “Harry Potter”, a a 20th Century Fox decidiu levar a história de Percy para as telas.
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O ano era 2010, e a esperança dos fãs estava tão alta quanto o Monte Olimpo. Infelizmente, “Percy Jackson e O Ladrão de Raios” deixou muito a desejar. A principal reclamação definitivamente foram as várias mudanças em relação aos livros, como, por exemplo, a idade dos protagonistas. De crianças de 12 anos nos livros para adolescentes de 16 no filme – um toque peculiar, digamos assim. E não podemos esquecer da continuação, “Percy Jackson e o Mar de Monstros” em 2013, que também naufragou nas águas turbulentas da crítica, levando a 20th Century Fox a desistir de seguir com os filmes.
Dez anos se passaram, e como os deuses do Olimpo gostam de nos surpreender, a Disney agora dona dos direitos da história, decidiu dar uma nova chance à saga. Dessa vez, com o autor Rick Riordan diretamente envolvido na produção e uma promessa de fidelidade aos livros que acendeu uma chama de esperança nos corações dos fãs órfãos de uma adaptação digna.
Nessa primeira temporada de “Percy Jackson e os Olimpianos”, que adapta os acontecimentos do primeiro livro da saga, somos apresentados a Percy (Walker Scobell), um garoto de 12 anos que descobre ser um semideus, filho de Poseidon, o deus dos mares. Ele é enviado ao Acampamento Meio-Sangue, único lugar onde os semideuses podem viver em segurança. Porém, quando Percy é acusado de roubar o raio-mestre de Zeus (Lance Reddick), ele e seus novos amigos Annabeth (Leah Sava Jeffries) e Groover (Aryan Simhadri) partem em jornada para recuperar o artefato e evitar uma guerra divina. Viajando pelo país, o trio enfrenta desafios mitológicos, desvenda segredos sobre seus pais divinos e busca manter a paz entre os deuses do Olimpo.
De fato, a nova adaptação de “Percy Jackson e os Olimpianos” representa um esforço notável em direção à se manter fiel aos livros, com Rick Riordan desempenhando um papel mais proeminente na produção. Há um claro esforço para corrigir os erros do passado. A escolha de elenco é um ponto alto, com atores que não apenas se encaixam perfeitamente na faixa etária dos personagens, mas também capturam a essência única de cada um deles. Mas, como diz o ditado, nem tudo que reluz é ouro.
A série, embora mais fiel aos livros e esteja longe de ser uma série ruim, não tem um “tempero”. O maior vilão de “Percy Jackson e os Olimpianos” não é um titã enfurecido em busca de vingança, mas sim a direção. Cortes abruptos, episódios corridos e mal montados tornam a experiência menos imersiva do que gostaríamos. O ritmo, ou a falta dele, é um obstáculo evidente, mesmo com detalhes cruciais contados de forma acelerada e várias informações sobre o universo jogados a todo momento, em muitos momentos a narrativa se arrasta. Eu, como leitor dos livros, tive dificuldade de entender algumas das explicações e soluções. Imagino que para quem está tendo seu primeiro encontro com esse universo, a experiência pode ter sido ainda mais confusa.
A pouca duração dos episódios também não ajuda muito, como tudo precisa ser apresentado muito rápido, não sobra tempo para criar um senso de urgência e perigo. Os monstros, que deveriam inspirar medo e adrenalina, não chegam nem perto disso, suas aparições são rápidas, sem grandes momentos épicos. Fica difícil se apegar à trama quando tudo é resolvido de maneira fácil e sem grande clímax. Além disso, estamos falando de uma série direcionada ao público-infanto juvenil, mas que não soube trazer aquilo que mais brilha os olhos de uma criança: a fantasia. Para uma história tão vibrante e enérgica, a direção de arte vai na contramão e nos dá cenas escuras e sombrias e essa falta de vivacidade deixa um gosto amargo.
Pela primeira vez, sinto que essa era uma série que se beneficiaria muito se todos os episódios tivessem sido lançados todos de uma vez. Poucos episódios terminavam com ganchos que causassem a ansiedade para o episódio da semana seguinte. Enquanto os filmes podem, sim, ter seus defeitos, o ritmo bem estabelecido mantinha o espectador envolvido, o que não acontece tão bem aqui.
Por outro lado, o trio de protagonistas exala carisma e química entre eles. Como já disse, toda a essência dos personagens está ali, não consigo pensar em outras pessoas que pudessem interpretar o trio. Além disso, um destaque para Virginia Kull, que apresenta atuações de destaque como Sally Jackson, a mãe de Percy, adicionando profundidade emocional, uma melancolia, mas sem perder a ternura e o amor que uma mãe sente pelo seu filho.
Além das atuações, um dos pontos mais cativantes da primeira temporada de “Percy Jackson e os Olimpianos” é a representação autêntica do Acampamento Meio-Sangue. A equipe de produção merece elogios pela atenção aos detalhes, recriando com sucesso o ambiente peculiar descrito nas páginas dos livros de Rick Riordan. Desde os chalés distintos até a atmosfera animada e repleta de energia daquele monte de adolescente super poderoso, a série realmente capta a essência do acampamento de uma forma que ressoa com os fãs. Foi de arrepiar.
Como fã da franquia, terminei a série com um sentimento agridoce. Não é uma série ruim, longe disso, mas conhecendo o material base sei que ela tinha muito, mas muito mais potencial. Ainda assim, sigo esperançoso, pois acho que todos esses problemas podem ser resolvidos em uma possível segunda temporada, que espero que seja anunciada.