Superman

Fui conferir o novo Superman dirigido por James Gunn, e saí da cabine de imprensa com aquela sensação de “que bagunça legal (?)”. O filme é divertido, tem momentos genuinamente empolgantes, mas também tropeça em excesso de personagens, humor um pouco forçado e uma segunda metade bem desorganizada. Para quem acompanha os quadrinhos, há um certo charme em ver alguns rostos conhecidos do universo DC, mas para o público geral, a experiência pode parecer bagunçada.

O tom do filme busca leveza e bom humor, o que é algo que muitos críticos vêm destacando como um retorno ao Superman mais clássico, esperançoso e otimista, ainda que, pra mim, esse tom às vezes beira o brega (mas tá tudo bem, pois é Superman, sabe?). É um filme que tenta abraçar o absurdo do universo dos super-heróis com carinho, mas nem sempre com equilíbrio.

Basicamente a sinopse é essa: O Superman (Clark Kent) perde sua primeira batalha, descobre que essa ameaça que o venceu é uma obra de Lex Luthor, um bilionário genial com ressentimento profundo por ele. Esse vilão utiliza de tudo (tudo mesmo) para manipular a opinião pública, ampliando o pânico e a desconfiança das pessoas em relação ao herói. Kent então busca ajuda e recursos para conseguir mostrar seu valor para os humanos, desmascarar Lex e salvar a humanidade de uma possível catástrofe mundial (girl, so confusing).

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O filme deveria se chamar ‘Kent & Lane’

Falando sobre os personagens principais, David Corenswet segura bem o personagem. Tem presença física e um sorriso nostálgico que remete ao herói criado em 1938, o que encaixa perfeitamente com a proposta do diretor sobre a questão de mostrar o otimismo e senso de justiça do Superman (coisa que antes tava babado de encontrar nos filmes do Zack Snyder). Falta talvez um pouco mais de densidade emocional para o Clark Kent de Corenswet, mas o charme com certeza está ali.

Lois Lane, interpretada pela maravilhosa Rachel Brosnahan, é um dos pontos mais consistentes do filme. Carismática, perspicaz e emocionalmente envolvente, sua presença equilibra o caos ao redor. Ela não está apenas como interesse romântico: participa ativamente da trama, investiga, questiona e, muitas vezes, guia o próprio Kent em direção ao que importa. É uma Lois moderna, mas sem perder a essência clássica da repórter. Ouso dizer que o filme deveria se chamar Kent & Lane, já que senti o protagonismo do filme dividido entre o casal.

PS.: Rachel e David protagonizam uma das cenas mais legais do filme sem precisar de “tiro, porrada e bomba”, apenas com diálogo.

O Lex Luthor, interpretado pelo Nicholas Hoult, é retratado como um bilionário ressentido e invejoso (e só isso). A atuação de Hoult é ótima, é visível como Luthor odeia o Superman, mas a gente não vê (literalmente) de onde vem essa motivação profunda, não há contexto para os recursos absurdos que ele tem. Ele controla macacos treinados para espalhar fake news, cria uma prisão numa subdimensão para prender “desafetos”, e até comanda alienígenas… mas nada disso é explicado. Ele é temido por todos, mas não por méritos narrativos, é realmente só um homem branco, rico e muito inteligente, o que parece bastar para o roteiro.

Personagens secundários: muito figurino, pouco roteiro

Os personagens secundários não têm muito espaço, com exceção do Senhor Incrível, vivido com carisma e inteligência por Edi Gathegi, funcionando como um alívio necessário entre tanta confusão. Ele e a Lois Lane são um suporte extremamente positivo para o filme, assim como Krypto (sim, o cachorro). Apesar do CGI ser bem perceptível, é difícil não se render ao charme do supercão. Ele cumpre sua função de mascote querido e rouba a cena em vários momentos, garantindo algumas das melhores reações de quem estava na sala de cinema comigo.

O restante, incluindo os diversos capangas do vilão e outros heróis, aparece apenas como um enfeite “extra” para as cenas, entre elas as de luta, que até tentam ser estilizadas para trazer personalidade a eles, mas nem sempre acertam no ritmo ou na lógica. Sem contar que a segunda metade do filme escorrega feio. O roteiro se perde em muitas linhas narrativas de acontecimentos e entra tanta gente em cena que o desenvolvimento de qualquer um dos personagens secundários seria facilmente sacrificado. A sensação é que estamos vendo uma adaptação feita apenas para quem já conhece profundamente o lore da DC. Quem não estiver por dentro pode se perder, ou simplesmente se desconectar.

Vale demais pela tentativa “heroica” ~ba dum tss~

O novo Superman de James Gunn tem coração, boas intenções e momentos encantadores, mas também é inchado, inconsistente e por vezes sem rumo. Fica no meio do caminho entre uma carta de amor aos quadrinhos e um episódio recorrente daqueles streamings que cancelam séries e resolvem encaixar milhares de ideias em um só filme para “ter um final” e “amolecer” a raiva dos fãs. É muita coisa para pouco desenvolvimento. Para fãs da DC, há muito a reconhecer, não se enganem. Para o público geral, talvez reste apenas a sensação de que o filme poderia (e deveria) focar em algo mais simples para ser melhor resolvido.

Já houveram pré-estreias e o lançamento global de Superman começa a partir deste 9 de julho de 2025.

Assista ao trailer oficial de Superman abaixo:

Escrito por

Hugo Vicente

Trans Não Binária apaixonada por design, moda, fotografia, filmes e séries. Ativista e (às vezes) Criadora de Conteúdo Digital informativo LGBTQIAP+.