As histórias que nos envolvem, que nos fazem olhar por cima do ombro ao fechar a porta do armário ou nos fazem questionar o que aconteceria se nossos pesadelos se tornassem reais, são as que resistem ao teste do tempo. “Goosebumps”, a série de livros que se tornou um dos grandes marcos dos anos 90, voltou com uma nova roupagem, mantendo a essência que capturou a imaginação de milhões ao redor do mundo.
R.L. Stine o mestre dos arrepios
R.L. Stine, a mente por trás de Goosebumps, construiu um império literário que atravessou gerações. Com uma habilidade ímpar de misturar terror e comédia, ele conquistou o coração do público infanto-juvenil ao longo da década de 90. Seus livros serviam como portas de entrada para futuros amantes do terror, ao trazer histórias que sabiam se infiltrar no universo das crianças, trazendo elementos do cotidiano para o reino da imaginação. Cada um dos livros, onde era contada uma história diferente, traziam monstros que espreitava atrás de portas, noites de Halloween, acampamentos e locadoras – tudo se tornava potencialmente assustador. Goosebumps não era apenas uma coleção de histórias; era um convite para explorar o sobrenatural de uma forma peculiarmente próxima da realidade de cada leitor.
Sua habilidade para criar um universo onde o terror se mistura à familiaridade do cotidiano transformou-o no “Stephen King das crianças”. A série de livros, que contou com 62 livros ao total, vendeu mais de 350 milhões de cópias, tornando-se uma referência para a cultura pop dos anos 90. Era o “Harry Potter” daquela década, uma febre literária que transcendeu gerações.
Leia também: Mansão Mal-Assombrada: uma aventura gostosa em um clássico “Sessão da Tarde”
Goosebumps em outras mídias
O sucesso de “Goosebumps” foi tanto, que acabou dando origem a uma série de TV que se tornou um fenômeno na época. Assim como os livros, a série também era antológica e cada capítulo apresenta uma história única, um mergulho nos medos mais profundos do público infanto-juvenil. A série, exibida no Brasil pelo extinto canal Fox Kids, prendia a atenção dos espectadores, trazendo os monstros dos livros para as telinhas. Esses episódios ofereciam uma experiência emocionante e arrepiante, mantendo a essência dos livros que encantaram uma geração inteira. A série teve ao todo 74 episódios, divididos em 4 temporadas entre os anos de 1995 e 1998, mas foi reprisada durante vários anos. Eu mesmo sendo uma criança dos anos 2000 lembro de assisti-la.
Anos se passaram, e em 2015, “Goosebumps” chegou as telas de cinema com “Goosebumps: Monstros e Arrepios“. Estrelado por Jack Black, o filme trouxe à vida os personagens de R.L. Stine de uma maneira que deixou os fãs nostálgicos. A trama apresentou um enredo onde os monstros dos livros de Stine ganhavam vida, resultando em um caos de criaturas assustadoras e aventuras hilariantes.
Em 2018, o filme ganhou uma sequência intitulada “Goosebumps 2: Halloween Assombrado“; A história continuou a explorar o universo de Goosebumps, mantendo o equilíbrio entre o terror leve e a diversão, oferecendo uma experiência agradável para os espectadores de todas as idades.
Embora os filmes não tenham dominado as bilheterias, desempenharam um papel crucial ao reintroduzir R.L. Stine e suas histórias a uma nova geração. Eles serviram como uma ponte entre o legado dos anos 90 e a era contemporânea, trazendo a magia dos livros para um público moderno.
Chegou a hora da nova geração conhecer Goosebumps
Agora, em 2023, Goosebumps retorna com uma nova abordagem, abraçando o formato de série de TV pela Disney+. Ao invés da estrutura ontológica, esta nova versão apresenta uma única narrativa que se desenrola ao longo da temporada, explorando o universo de Stine de uma maneira mais aprofundada. Embora não seja uma antologia, cada episódio é centrado em um personagem, oferecendo experiências assustadoras inspiradas na obra de R.L. Stine, entrelaçadas por uma narrativa maior.
A série se passa na cidade fictícia de Port Lawrence no ano de 1993, onde o mistério começa com um incêndio fatal na casa de Harold Biddle, um adolescente solitário. Trinta anos depois, somos apresentados a cinco estudantes: Isaiah, James, Margot, Isabella e Lucas.
Isaiah decide dar uma festa na casa assombrada e abandonada de Harold, agora propriedade de um novo professor de inglês, Mr Bratt (Justin Long) e isso acaba desencadeando uma série de eventos sobrenaturais nas quais os adolescentes acabam experienciando.
Os primeiros cinco episódios mergulham na vida de cada um dos protagonistas, suas personalidades, medos e relacionamentos, além de aprofundar as relações familiares dando profundidade à trama enquanto revelam mistérios. Goosebumps traz uma abordagem mais madura, diferentemente da série de livros e da série de tv clássica, trazendo não apenas elementos de terror, mas também dramas e conflitos característicos da transição para a idade adulta. É notável que diferente da proposta original de Goosebumps que era focada no público infanto-juvenil, a nova série que alcançar o público jovem-adulto.
Os personagens são construídos de forma realista, fugindo dos estereótipos, e a diversidade é evidente, com representatividade de diferentes grupos étnicos e identidades de gênero. Isso adiciona camadas de autenticidade à narrativa, permitindo que cada espectador se identifique com algum aspecto da trama. O ator Miles McKenna, que interpreta James, por exemplo, é um homem trans.
À medida que o mistério aproxima os jovens protagonistas, além das peças sobre o que eles estão passando começam a se juntar, dramas também surgem.No meio do “terror”, triângulos amorosos surgem, ressentimentos de longa data são postos em mesas. Os adolescentes trocam conselhos românticos enquanto esperam o próximo monstro ou próxima pista. Há um ótimo equilíbrio no fato deles cometerem erros típicos de adolescentes, mas ao mesmo tempo suas atitudes não os tornam burros.
A série se mantém fiel à essência de Stine, com referências aos elementos icônicos da obra original, como o famoso boneco Slappy. No entanto, ela busca também estabelecer uma voz própria, direcionando-se à nova geração sem depender exclusivamente da nostalgia dos anos 90.
Ao avançar na trama, descobrimos conexões entre os eventos sobrenaturais e os pais dos protagonistas. Goosebumps homenageia a obra de R.L. Stine, mantendo a essência sem depender excessivamente de easter-eggs ou nostalgia dos anos 90. O foco é cativar a nova geração, introduzindo-as ao universo do terror com uma abordagem segura, repleta de suspense e aventuras envolventes.
Embora não seja uma série aterrorizante, Goosebumps é habilmente construída para provocar arrepios e momentos de tensão, proporcionando uma experiência de terror acessível, ideal para os iniciantes no gênero. É uma jornada estranha, nojenta e divertida o suficiente para atrair fãs em ascensão do terror, preservando o legado de R.L. Stine para as próximas gerações.
“Goosebumps” não apenas revive o universo de R.L. Stine, mas também se reinventa para uma audiência contemporânea, abraçando a diversidade, explorando novos medos e envolvendo-nos em uma trama que vai além do sobrenatural. Esta série promete ser uma porta de entrada para os futuros aficionados pelo terror, seguindo os passos da obra clássica que conquistou gerações passadas.