Eu que sou muito mais consumidor de obras audiovisuais (filmes e séries), sempre me encanto quando vou ao teatro e como a criatividade explora as infinitas possibilidades que essa forma de contar história carrega. E “Ana Livia” é um desses projetos que me fazem pensar: “deveria ir mais ao teatro”.
Imagine um ambiente escuro, onde duas mulheres, vestidas de preto, estão sentadas em cada ponta de uma grande mesa. Tudo ali é estranho – as mulheres, o cenário, o que elas estão falando. Saí da sala após assitir a peça sem entender absolutamente nada, mas, ao mesmo tempo, entendia tudo.
É nessa estranheza que “Ana Livia” encanta e se apoia.
A peça mergulha na metalinguagem, onde aos poucos entendemos que as mulheres estão discutindo sobre uma peça teatral. No entanto, uma interrompe constantemente a outra, tornando impossível chegar a qualquer conclusão. Elas não dizem nada, mas ao mesmo tempo, estão dizendo tudo. Falam sobre lembranças, sobre a vida, sobre a morte, sobre a peça escrita por ele. Quem é ele? Realmente importa?
Quem são essas mulheres afinal? Elas são a mesma pessoa, representando diferentes aspectos? O presente e o futuro, a juventude e a velhice, a vida e a morte? O drama e a comédia? Não sei te dizer, mas também não é como se fosse algo importante.
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Bete Coelho e Georgette Fadel brilham naquele palco escuro. Elas usam e abusam dos seus corpos, do texto, dos tons de voz, das expressões. Exploram cada nuance do que é ser ator para dar vida a esse texto.
Os diálogos fluem como um rio, levando o espectador junto. Durante aqueles 75 minutos, você vai se familiarizando gradualmente, como quem coloca os pés na água, até se ver completamente imerso nesse emaranhado de sensações. Quando você sai da sala é como sair do mar, recuperando o folego e voltando a realidade. É magico.
Não é à toa que quando a peça terminou, a plateia se levantou em aplausos fervorosos, reconhecendo o talento das duas atrizes por quase 10 minutos. “Ana Livia” não é apenas uma peça de teatro, é uma experiência que nos convida a mergulhar na complexidade da vida, do teatro e da própria existência.
Ficha Técnica:
Texto: Caetano W. Galindo
Direção: Daniela Thomas
Codireção: Bete Coelho e Gabriel Fernandes
Elenco 1: Bete Coelho e Georgette
Fadel Elenco 2: Bete Coelho e Iara Jamra