“Eu sou James, tenho 17 anos e acho que sou um psicopata” é com essa frase totalmente clichê que começa “The End of the F***ing World”.
E se você acha que aqui teremos mais uma história com adolescentes brancos sofrendo com os seus “White People Problems”, você está completamente certo! De qualquer forma, ainda assim, ao longo dos seus oito episódios, “The End of the F***ing World” nos apresenta um roteiro até que bem elaborado e personagens que possuem uma estranheza muito carismática.
O casal protagonista
Como ele mesmo diz no início do piloto, James tem 17 anos e tem quase certeza que é um psicopata e a primeiro momento é difícil discordar do garoto, que em uma narração em off nos confidencia que nunca sentiu nada, além de já ter matado diversos animais. Agora o plano dele é matar algo maior, uma pessoa e a escolhida: Alyssa.
Alyssa por sua vez é o completo oposto de James, embora seja tão “desajustada” quanto ele. Enquanto o garoto tem dificuldade em sentir, ela sente demais e se expressa muito mais ainda. A garota que tem uma personalidade muito forte, com traços de bipolaridade, e que dispara comentários ácidos para Deus e o mundo, se mostra uma personagem muito mais complexa que imaginamos, suas narrações em off demonstram o quão vulnerável ela é e o desastre que é a sua vida.
Enquanto Alyssa, acha James interessante, de alguma forma, James, por outro lado está tentando encontrar o momento perfeito para matá-la. Os dois partem em uma roadtrip e o que inicialmente era para ser apenas uma fuga do mundo chato na qual nenhum dos dois se encaixava, toma proporções que os dois não esperavam, onde crimes são cometidos e suas vidas que já não eram perfeitas viram de cabeça para baixo.
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Um coming out age de estranhezas
Embora tenha parecido que dei uma “problematizada” ali no primeiro parágrafo, histórias de coming-of-age são minhas favoritas, acompanhar essa transição de amadurecimento e autodescoberta. E quando essas historias são contadas de uma forma inteligente e criativa, elas tendem a entrar na minha lista de favoritos automaticamente. E esse foi o caso de “The End of the F***ing World”
Baseada na série de quadrinhos escrita por Charles Forsman, “The End of the F**ing World” tem muito daquele humor negro e politicamente incorreto bastante comum em produções britânicas, mas, ao mesmo tempo, nos mostra uma história sensível e um tanto triste de autodescoberta. Esses dois adolescentes, que no são apresentados de maneira extremamente caricata e exagerada, vão sendo desconstruídos ao longo dos episódios, fazendo com que nós expectadores nos afeiçoemos (e talvez até identifiquemos) com eles.]=
Sem tempo irmão
Por ter apenas oito episódios de mais ou menos vinte minutos cada, “The End of the F***ing World” não tem tempo para enrolação, tudo acontece de forma bem rápida, com a direção seguindo por esse mesmo caminho, com cortes bem dinâmicos que vão de cenas com planos abertos, para planos mais fechados em um piscar de olhos e que casam muito bem com a confusão que se passa na cabeça desses dois protagonistas.
A fotografia também é muito bonita, ela é iluminada, mas não muito, lembrando muito dias nublados onde o sol aparece às vezes, mas tudo é sempre puxado para o vermelho. Vários elementos em cena são vermelhos e eles sempre vão estar em destaque.
A escolha dos protagonistas também foi muito acertada e o grande mérito dela é por conta dos atores. Alex Lawther (O Jogo da Imitação) embora não tenha lá grandes desafios, já que James, seu personagem, não demonstra sentimentos, tem um enorme carisma, além de conseguir passar no olhar e com alguns gestos sutis toda a confusão que o personagem sofre. Já Jessica Barden (“Penny Dreadful”) está um espetáculo, a garota consegue de forma brilhante nos passar todos os dilemas e questionamentos que a peculiar Alyssa sofre.
A série termina com um final aberto, mas ao mesmo tempo ao termina-la você tem aquela sensação de que a historia que devia ser contada já foi contada. Já que nesse caso a jornada que James e Alyssa percorrem é muito mais importante do que o lugar que eles precisam chegar e imaginar como eles lidaram com a consequência de seus atos talvez seja muito mais interessante do que saber de fato como isso aconteceu. Se fizerem uma segunda temporada definitivamente estarei lá assistindo, mas se não tiver, por mim já foi mais do que suficiente
Se você gosta de séries com humor “peculiar” e historias sobre amadurecimento, “The End of the F***ing” é um prato cheio. Corajosa, politicamente incorreta e repleta de palavrões, a série promete divertir e fazer a gente se apaixonar e torcer por esse casal extremamente perturbado, que tem uma história triste, mas que é contada de uma forma bem humorada.