Olympo Netflix

Ah, Netflix… Sempre ela. A campeã mundial em pegar uma fórmula que já deu certo, espremer até o último suspiro e depois servir de novo com um molhinho diferente, só pra gente fingir que é outra coisa. Depois de sugar Elite até virar uma espécie de fanfic de si mesma, a plataforma agora nos entrega Olympo, uma tentativa nada sutil de manter o público órfão de Las Encinas ocupado e de preferência renovando a assinatura.

E olha… não dá nem pra fingir surpresa. Olympo é o tipo de série que não promete muito, mas entrega exatamente o que se propõe: jovens bonitos, intrigas adolescentes, tensão sexual em volume industrial e aquele mistério meia-boca que te faz pensar “ok, só mais um episódio antes de dormir”… e de repente já são três da manhã.

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De Elite pra cá: o que muda além do figurino (e do cheiro de cloro)

Se em Elite a gente tinha corredores de colégio, agora o palco é o Centro de Alto Rendimento dos Pirineus. Um spa de atletas com cara de resort caro, mas com o dobro da tensão. Sai o uniforme escolar, entram os collants, as sungas e muito suor. Literalmente.

Olympo é aquela mistura já testada de competição, rivalidade, pegação e segredos debaixo do tapete. Só que agora o tapete é de borracha antideslizante.

O roteiro? Meio bagunçado, às vezes com cara de improviso, mas funcional. A ideia é simples: um grupo de atletas jovens e hiperambiciosos, todos dispostos a fazer escolhas péssimas em nome da glória olímpica (ou só pra causar mesmo). O mistério é cortesia da tal marca de roupas esportivas Olympo, que aparece oferecendo patrocínio com aquela energia de “empresa que claramente tem um porão cheio de segredos”.

Olympo

Quem tá ali suando (e causando)

No centro da bagunça, temos Amaia (Clara Galle), a nadadora sincronizada com princípios mais rígidos que a lombar de quem dorme no sofá. Ela é focada, fria e… meio insuportável. Mas faz parte. Seu namorado, o jogador de rúgbi Cristian (Nuno Gallego), completa o casal “tensão-passivo-agressiva”, porque claro que todo relacionamento teen da Netflix precisa de pequenas doses de descontrole emocional.

Tem também a Zoe (Nira Oshaia), a novata trágica com um passado digno de novela das oito, e o melhor personagem disparado: Roque Pérez, vivido por Augustín Della Corte, que parece ter saído direto de um briefing que dizia “precisamos de alguém carismático pra carregar a série nas costas”. E ele carrega. Entre um tackle e outro, Roque é o personagem mais interessante, mais humano e o único que você realmente quer que se dê bem.

Mistério? Tem. Sexo? Também. Coerência? Olha… nem sempre.

Se você acha que o drama é só emocional, pode repensar. Olympo entrega doping, manipulação, dilemas éticos e até uma vibe meio Black Mirror corporativo com o tal patrocínio suspeito. Mas o que realmente segura a gente é o caos emocional dos personagens.

Aqui, ninguém é bonzinho. Ninguém é o vilão oficial. Todo mundo toma decisão ruim com uma confiança invejável. É o tipo de ambiente onde “os fins justificam os meios” virou filosofia de vida. E sabe o que é o mais curioso? Funciona. Não porque o roteiro seja genial, mas porque a dinâmica de grupo tem aquele equilíbrio perfeito entre gente insuportável e gente insuportável que a gente ama odiar.

Olympo

O grande talento de Olympo: ser impossível de largar (mesmo quando dá vergonha)

A direção da série é competente o suficiente pra não deixar a peteca cair. Os episódios têm um ritmo que beira a irresponsabilidade: mal termina um cliffhanger e já começa o outro. E mesmo quando o roteiro escorrega (e escorrega bastante), a gente continua assistindo. Por quê? Porque é entretenimento puro. Daquele que você não coloca no Letterboxd com orgulho, mas que maratona feliz.

O piloto cumpre sua função: apresenta personagens, cenário e estabelece a vibe de “ninguém aqui tá emocionalmente estável”. Zoe serve como nossa ponte com aquele mundo, mas rapidamente a gente entende que o foco não vai ser exatamente a trajetória dela, e sim a teia de conflitos e rivalidades que ela ajuda a acionar.

Vamos falar de doping, homofobia e a boa e velha pegação de sempre

Entre uma treta e outra, a série até tenta levantar discussões relevantes: pressão no esporte de alto rendimento, ética esportiva, doping e homofobia. E olha… dentro do possível, faz isso sem parecer palestra do Fantástico. Especialmente no arco do Roque, onde a questão da sexualidade é tratada com um misto de humanidade e caos, do jeito que a vida real costuma ser.

E claro: tem sexo. Muito. Tem nudez softcore, tem pegação no vestiário, tem cena de tensão sexual que se resolve no estilo “não vou te beijar… ok, beijei”. Alguém aí surpreso? Eu também não.

Olympo - Netflix

Elite 2.0? Com certeza. Mas com charme próprio.

Não adianta: a comparação com Elite é inevitável. Mesma produtora, mesma fórmula de “jovens lindos em situações moralmente duvidosas”. Mas Olympo consegue não ser só um Ctrl C + Ctrl V. Ela tem sua identidade, ainda que a identidade seja meio bagunçada, com um pé no drama esportivo e o outro no melodrama adolescente.

O tom? Instável. Às vezes parece que estamos vendo um episódio de Skins dirigido por alguém que nunca pisou numa pista de atletismo. As escolhas musicais? Questionáveis. A profundidade dos personagens? Rasa como uma piscina infantil em dia de manutenção. Mas… é exatamente isso que faz a série funcionar. É aquela mistura de excesso, contradição e entretenimento sem culpa.

Será que Olympo rende uma segunda temporada?

A temporada fecha com um final satisfatório (e surpreendente, dentro dos padrões da série), e deixa a porta aberta pra uma segunda leva de episódios. Se a Netflix vai conseguir manter o ritmo ou se vai transformar Olympo num novo Elite que se recusa a morrer… só o algoritmo sabe.

O fato é: Olympo entrega o que promete. Não é a série que vai mudar sua vida, mas também não é a que vai te fazer desistir no terceiro episódio. É aquele meio-termo gostoso, com gosto de maratona de domingo.

Se é arte? Não.
Se é entretenimento? Com certeza.
Se vale a pena? Olha… depende da sua disposição pra aguentar gente jovem tomando decisão ruim em câmera lenta.

E agora eu te pergunto: você vai assistir? Ou vai fingir superioridade e depois dar o play escondido?

Assista ao trailer de “Olympo”

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Escrito por

Erick Sant Ana

Redator, negro, TDAH, amante da cultura geek e de uma boa coquinha gelada. Adoro histórias, sejam elas contadas através de livros, filmes, séries, HQs ou até mesmo fofocas. Sempre vi nos livros não apenas uma válvula de escape, mas também uma forma de diversão. Com o tempo, essa paixão se expandiu para o universo dos filmes e das séries. Após anos sem ter com quem compartilhar essas paixões, decidi falar sobre elas na internet.