Dead Boy Detective

No ano passado, a Netflix lançou uma série adaptada de “Sandman”, uma das obras mais emblemáticas de Neil Gaiman, introduzindo e encantando muitos com o universo do autor. As HQs, que têm mais de 30 anos desde a publicação de sua primeira edição, apresentam um universo rico e intrincado, que se conecta até mesmo com o mundo da DC Comics, permitindo diversas ramificações. E aparentemente a Netflix está querendo destrinchar esse âmbito também e o primeiro vislumbre disso é um spin-off ambientado no mesmo domínio: “Dead Boy Detectives”.

Embora seja creditado como produtor executivo da série, Neil Gaiman é creditado apenas como criador dos personagens. Ele não esteve envolvido no roteiro ou direção dos episódios. Quem toma essa responsabilidade é Steve Yockley, conhecido por seu trabalho em “Supernatural” e “The Flight Attendant.

A série traz uma abordagem um pouco mais leve e descontraída ao mundo de Sandman, mas sem perder a sua estranheza e riqueza. Porém, embora compartilhe conexões e referências claras com sua série “mãe”, “Dead Boy Detectives” consegue brilhar por si só, contando sua própria história de forma cativante.

Leia também: “Dead Boy Detectives”: Tudo que você precisa saber sobre a nova série do mesmo universo de Sandman

Qual a história de “Dead Boy Detectives”?

Dead Boy Detectives - Charles, Edwin e Crystal

Em “Dead Boy Detectives” conhecemos Edwin Payne (George Rexstrew) e Charles Rowland (Jayden Revri), dois garotos que após morrerem em vez de seguirem rumo ao pós-vida, decidem ficar na terra e abrir uma agência de investigação paranormal. No episódio piloto, rapidamente compreendemos a dinâmica entre os personagens. Edwin, mais tímido e racional, é o “cérebro”. Ele viveu na década de 1910. Já Charles, expansivo, extrovertido e explosivo, é a “força”. Vindo dos anos 80, eles combinam suas expertises para resolver casos sobrenaturais há décadas.

A dinâmica da equipe muda com a chegada de Crystal Palaces (Kassius Nelson), a garota que está viva, mas possuída por um demônio. Depois que os garotos a exorcizam, ela perde a memória e não tem para aonde ir. Então, ela decide ficar com os garotos, já que é uma vidente e além de conseguir vê-los, também pode ajudá-los em alguns casos até recuperar sua memória.

Dead Boy Detectives - Niko e Crystal

Após a adição de Crystal à equipe, um novo caso os leva a cidade de Townseed. No entanto, mesmo após resolverem o caso, eles acabam ficando presos na cidade. Sem tempo a perder, decidem aproveitar ao máximo a situação, ajudando a movimentada população fantasma de Townseed com seus problemas. Enquanto tentam fugir da Enfermeira Noturna (Ruth Connell), responsável por encontrar espíritos perdidos e levá-los para o pós-vida. Edwin, Charles e Crystal alugam um apartamento no último andar do açougue de Jenny (Briana Cuoco), uma mulher e têm como nova vizinha Niko (Yuyu Kitamura), uma garota alegre com problemas paranormais que mais tarde se junta à equipe.

Um toque teen ao universo de Sandman

Os episódios iniciais são focados em resolver casos independentes. Isso nos permite conhecer melhor os personagens e o mundo em que vivem. Essas subtramas são escritas e concluídas de maneira inteligente, com cada episódio resolvendo o problema com muitas reviravoltas. Conforme a temporada avança, somos levados ao combate com a principal antagonista.

A primeira temporada de “Dead Boy Detectives” é uma experiência rápida, envolvente e divertida, perfeita para uma maratona de fim de semana. No entanto, alguns podem sentir falta da profundidade encontrada em “Sandman”. Mas isso não é um problema, a proposta da série é dar um tom mais jovem a esse universo.

Dead Boy Detectives - Grupo

Isso não significa que “Dead Boy Detectives” seja superficial ou tenha um roteiro fraco, muito pelo contrário. A série é ágil, criativa, bem dirigida e consciente da mensagem que deseja transmitir. Ser uma série teen não a torna necessariamente ruim. “Dead Boy Detectives” aborda questões profundas, como trauma, sexualidade e relacionamentos abusivos, de forma sensível e realista. Os personagens enfrentam seus próprios demônios internos enquanto lutam para encontrar seu lugar no mundo.

Edwin lida com sua estranheza oculta, receoso de revelar seu verdadeiro eu a todos ao seu redor. Ele também passou décadas no Inferno devido a um erro administrativo. Charles cresceu com um pai abusivo que o atacou fisicamente. O relacionamento anterior de Crystal com David prejudica sua saúde mental, levando-a a esquecer memórias cruciais sobre sua vida. A maneira como lidam com esses traumas é ajudando uns aos outros. Como Edwin e Charles foram deixados para trás, esquecidos e seus traumas são semelhantes, eles desejam ajudar os outros a se sentirem menos solitários e fornecer um caminho seguro para o plano final.

É possível Garotos Mortos serem amigos?

Dead Boy Detectives - Charles e Edwin

A resposta é sim, a alma de “Dead Boy Detectives” está na relação entre Charles e Edwin, em nenhum momento a conexão que os dois têm fica em dúvida, mesmo quando eles brigam e algumas verdades vem a tona. Acreditar nessa ligação é fácil ao perceber que, em algum momento do passado, Charles renunciou um pós-vida feliz para permanecer na Terra ao lado de Edwin. Com o passar das décadas, essa decisão se solidificou em uma lealdade ainda mais profunda do que a simples amizade.

Todos os atores parecem estar à vontade em seus papéis e embora nenhum deles tenham momentos que pedem grandes atuações, eles irradiam carisma. É difícil não se afeiçoar aos personagens, torcer, vibrar e ficar com medo por eles quando as coisas ficam complicadas.

Dead Boy Detectives - Cat King

E isso não se resume apenas aos protagonistas. O elenco de apoio também merece destaque, apresentando figuras memoráveis como Esther (Jenn Lyons), uma bruxa vingativa com uma voz sussurrante e um senso de humor ácido. Enquanto ela assusta, também dá a impressão de ser uma vilã de novela das seis que está constantemente embriagada de vinho. E o Rei Gato (Lukas Gage) cujo novo brinquedo favorito parece ser Edwin.

Dá para dizer que “Dead Boy Detectives” combina elementos de “The Chilling Adventure of Sabrina” e “Supernatural”, adicionando ainda mais profundidade ao universo de “Sandman”. A série é divertida, intrigante e cativante, conquistando os espectadores desde o primeiro episódio. Com personagens carismáticos e tramas instigantes, “Dead Boy Detectives” promete se tornar uma favorita entre os fãs do gênero. E confesso que ficarei bem triste caso a Netflix não a renove para mais temporadas.

Confira o trailer de “Dead Boy Detectives”

A 1ª temporada de “Dead Boy Detectives” está disponível na Netflix

Escrito por

Erick Sant Ana

Redator, negro, TDAH, amante da cultura geek e de uma boa coquinha gelada. Adoro histórias, sejam elas contadas através de livros, filmes, séries, HQs ou até mesmo fofocas. Sempre vi nos livros não apenas uma válvula de escape, mas também uma forma de diversão. Com o tempo, essa paixão se expandiu para o universo dos filmes e das séries. Após anos sem ter com quem compartilhar essas paixões, decidi falar sobre elas na internet.