A magia de Oz é um sentimento de um lugar que sempre existiu em nossos corações. Acredito que cada pessoa tenha se conectado de modo diferente com esta terra belíssima e cheia de encantos. Eu, por exemplo, sempre fui mais conectado ao livro “O Mágico de Oz” (1900) de L. Frank Baum, e ao filme “O Mágico de Oz” (1939), disponível no streaming Max. Não tive muito contato com o musical ‘Wicked’, um clássico da Broadway que também veio para o Brasil. Mesmo sem ter este contato, a adaptação para o cinema trouxe uma experiência grandiosa e impecável em todos os sentidos. O longa ‘Wicked’ aflorou as expectativas e conseguiu entregar o filme do ano nos cinemas, que além de abrir com uma nota incrível de 96% no Rotten Tomatoes, tem o poder de deixar em lágrimas os fãs irremediáveis de Ariana Grande e Cynthia Erivo, as estrelas que nos presenteiam com seu talento que foi primordial para esta obra acontecer. Vem saber um pouquinho mais sobre os sentimentos da obra comigo.  

Sinopse

Na Terra de Oz, uma jovem chamada Elphaba forma uma improvável amizade com uma estudante popular chamada Glinda. Após um encontro com o Mágico de Oz, o relacionamento delas logo chega a uma encruzilhada.

É lindo, mágico e encantador em sua construção   

Uma produção com pouco CGI e uma terra de Oz de verdade, com um campo de flores com aproximadamente 9 milhões de tulipas, um trem de verdade que pesa 16 toneladas, performances com captação ao vivo das atrizes e atuações simplesmente arrebatadoras. Wicked foi um acerto imenso nas mãos do brilhante diretor Jon M. Chu, que consegue nos transportar para um mundo que parece absurdamente real, tangível e palpável. 

Wicked é um filme que nos abraça, nos leva pra conhecer a terra dos sonhos e, principalmente, nos aprofundar na história de Elphaba, nossa bruxa verde mais amada que se torna, na história, a Bruxa Má do Oeste. Não imaginava que teríamos o prazer de olhar a trajetória de Elphaba com tantos detalhes e que isso, principalmente, despertaria grandes emoções. O longa nos oferece um espaço para se encantar, rir, se divertir e também chorar ao nos colocar diante da rejeição, preconceito e humilhação. 

Wicked não é uma história qualquer e isso fica muito claro no longa, que consegue apresentar muito bem os personagens e mostrar a complexidade de cada um, do seu jeito, seja o mais difícil que seja. Para complementar, temos uma direção de arte de tirar o fôlego, cenários que passam uma realidade irretocável e números musicais que satisfazem e muito em sua produção. 

Os números musicais são primorosos e contagiantes 

Um bom filme musical precisa entregar e muito em suas performances e números musicais. Após presenciar o fracasso e tristeza que foi “Coringa: Delírio a Dois” nos cinemas, com números musicais fraquíssimos e uma falta de primor e até mesmo valorização e aproveitamento de artistas grandiosos como Lady Gaga e Joaquin Phoenix, temos em “Wicked” um dos maiores atos pop que já vi no cinemas, levando em conta a brilhante produção e execução por trás e os talentos absurdos de Ariana Grande e Cynthia Erivo em cena. 

Que as vozes são celestiais e divinas, nós já sabemos. Mas vamos combinar que elas sempre conseguem se superar. Ariana e Cynthia entregam notas altíssimas e performances impecáveis, mas não é só isso que chama atenção. O que mais impacta é que ambas conseguem não deixar um filme musical chato, cansativo e entediante. Simplesmente todos os números trazem um impacto para a experiência, elevando todos os níveis da produção e mostrando a união perfeita entre talento e produção. 

Cynthia Erivo entrega a melhor Elphaba de todos os tempos

Primeiramente, digo que é um feito gigante Elphaba ser interpretada por uma mulher negra, e que isso traz mais sentido e uma coesão enorme para a obra. Você não acha curioso uma obra que, em seu enredo, traz uma mulher julgada por sua cor de pele e que dá voz para pessoas oprimidas, tenha pouquíssimas atrizes negras como protagonistas em seu papel?

Cynthia Erivo, em uma recente entrevista para o The New York Times, ao ser questionada sobre os motivos dela achar que não merece receber o papel, ela diz o seguinte: “Historicamente mulheres negras nunca foram realmente vistas para o papel. Se foram, elas não conseguiram. Se conseguiram, são normalmente alternantes ou cover. Só conheço uma mulher que fez, no West End.”. São 21 anos e mais de 8 mil apresentações do espetáculo mais famoso da Broadway. Em sua primeira adaptação para o cinema, é um feito imenso termos uma protagonista negra talentosíssima estampando os pôsteres e sendo ovacionada. 

Analisando o longa e toda a sua narrativa, digo que Cynthia foi uma escolha mais que perfeita para o papel, e sustenta isso como se fosse uma superação pessoal. Fica nítido que Cynthia, ao atuar como Elphaba, faz com naturalidade e uma veracidade voraz. Sua personagem com uma irmã negra e uma rejeição gigante de sua família e da sociedade, simplesmente nos dá um choque das feridas que o racismo deixa para uma pessoa, levantando um muro em seu coração e sobre seus sentimentos. 

Assistindo Wicked com esta baita protagonista, hoje temos um orgulho imenso de ver uma obra como sempre deveria ter sido. O lugar que Cynthia Erivo ocupa no longa é um ganho histórico. Wicked é, acima de tudo, um filme político. É uma obra que expõe as dores do preconceito em um mundo mágico como Oz. É assim que vemos a importância da ficção de contar histórias com base em uma dura realidade do mundo. 

Já Ariana Grande, torna-se o alívio cômico e uma Glinda insuportavelmente maravilhosa 

Ovacionada e exaltada durante a trajetória de divulgação de Wicked, Ariana Grande é a artista pop que amamos que brilha e muito seja em sua carreira musical, ou seja nos cinemas. Com uma personagem bastante fútil e mimada, Ariana entrega a Glinda perfeita para termos raiva e amarmos ao mesmo tempo. A loirinha preconceituosa e superficial nos presenteia com inúmeros alívios cômicos no longa, compondo as cenas quase que como um acessório de luxo. Fora isso, as performances de Ariana são lindíssimas e cheias da sua estética rosa de patricinha entojada. 

O mais curioso é que, ao assistir as cenas de interação de Glinda com Elphaba, notei que Wicked nos dá uma aula muito clara e quase que desenhada, da figura com Complexo de “Branco Salvador”, que exalta a generosidade da branquitude ao mesmo tempo que expõe a miserabilidade e vulnerabilidade de pessoas negras. Agora com uma atriz negra no papel, temos uma visão muito didática disso e fiquei bastante feliz que possamos discutir isso através de uma obra pop que, sem dúvidas, vai estar presente em muitas discussões com amigos e na internet. 

‘Wicked’ é uma obra-prima completa e um espetáculo que emociona, diverte e apaixona  

Quem duvidava do sucesso de Wicked, pode se retirar, por favor. Este com certeza é um dos lançamentos mais aguardados do ano e que irá superar todas as expectativas. Irá levar milhões de fãs sedentos aos cinemas e conquistar uma legião de novos fãs da obra e das artistas que a compõe. Temos aqui um grande feito de um clássico riquíssimo em detalhes, com uma história inspiradora e personagens icônicos. Quem descobriu a fórmula para fazer este longa, por favor, pode continuar com inúmeras outras produções para termos este gostinho de satisfação, alegria e êxtase em ir para os cinemas idolatrar uma obra atemporal. Wicked, seu lugar é aqui, em 2024, na tela dos cinemas, com uma protagonista negra que, sem dúvidas, terá uma indicação certeira para o Oscar 2025.

Confira abaixo o trailer oficial de ‘Wicked’ que estreia nos cinemas de todo o Brasil nesta quinta-feira, 21 de novembro de 2024.

Escrito por

Alison Henrique

Publicitário, Empresário, Dançarino, Cantor, Estudante de Filosofia e, claro, APAIXONADO por Cinema, Arte, Música e Livros. Crítico de Cinema aqui no {Des}Construindo o Verbo com muito sentimento, emoção e boas reflexões pra gente mergulhar nas obras do cinema contemporâneo. Seja Ficção, Drama, Romance, DC, Marvel, Ficção Científica, Bom, Ruim, Médio ou Péssimo. A gente sempre vai se encontrar por aqui pra discutir um pouco sobre tudo. Instagram: @alisonxhenrique.