Primeiramente, eu não estava esperando por esta grata surpresa nas telonas que impactou como uma boa obra pode fazer. Segundo, dou-lhe boas-vindas para presenciar a estreia de Zoë Kravitz como diretora de um longa com uma proposta desafiadora, mas também inovadora e grandiosa. Nossa musa inspiradora com hype altíssimo nas redes sociais, consagra-se como excelente diretora na estreia estrondosa de “Pisque Duas Vezes”, um suspense psicológico que promete grande bilheteria e discussões importantíssimas acerca de pautas fortes abordadas no longa — que inclusive, ao ser dirigido por uma mulher, consegue trazer um olhar muito aguçado e questionador para uma obra que terá o poder de incomodar, gerar desconforto e nos fazer pensar sobre violência, consequência, trauma, esquecimento e memória (tudo interligado de um jeito que você não espera). Quer saber mais? Fica aqui comigo nesta crítica sem spoilers mas com muito sentimento.
Sinopse
A garçonete Frida coincidentemente conhece o bilionário Slater King e concorda em passar as férias em sua ilha particular. Mas o que parecia ser a viagem perfeita se torna uma experiência angustiante quando Jess, a melhor amiga de Frida, desaparece. A garçonete questiona a realidade após situações estranhas acontecerem e luta para descobrir a verdade.
Forte, instigante, impactante em sua construção e perfeito na direção
Pisque Duas Vezes mergulha em um suspense psicológico obscuro, traumático e até um pouco doentio para mostrar o mais profundo da psique humana. Este não é um confronto comum e nem um longa de história comum ou muito previsível. Tudo é feito com uma objetividade sólida sob uma narrativa que consegue instigar, captar a atenção do público para ninguém piscar e manter os olhos abertos. Acredito que até mais que isso, manter nossa mente aberta para captar diálogos importantíssimos, cenas delirantes, desequilibradas e até pesadas demais, para mergulhar em traumas que podem inclusive serem pessoais.
O que é mais intenso e brilhante, é a direção de Zoë Kravitz que estreia com os dois pés na porta, colocando no mundo sua assinatura de direção que nem nasceu direito e já é aclamada em todo o mundo. O mais incrível é notar a presença que Zoë tem em suas atuações transpassadas em seu trabalho de direção impecável. Zoë, que também assina o roteiro junto de E.T. Feigenbaum, nos presenteia com uma condução fantástica, um ritmo fluido sem deixar pontas soltas ou ser chato ou perdido nos acontecimentos e uma trabalho entre cena e elenco absolutamente conciso e bem amarrado.
Uma estética refinada numa direção de arte arrebatadora
No aspecto visual, o longa primeiro apaixona pelo seu trabalho de cores fenomenal, com um uso muito bem explorado em cenários e figurinos, e unindo-se com códigos e enigmas que se entrelaçam perfeitamente com a história. Depois, notamos a impecabilidade com que foram trabalhados os cenários e locações, onde tudo está em seu devido lugar minuciosamente e até metodicamente, tudo com um objetivo e propósito na história, tudo conspirando a favor e contra os personagens e carregando inúmeros significados. Por fim, é a estética como um todo da história que mais nos deixa encantados, principalmente com os figurinos que sabem exatamente o que querem passar e casam com os personagens e o propósito da história.
Violências fortes com uma abordagem cuidadosa e muito bem executada
As violências físicas e psicológicas são o ponto central deste longa, mas mais que levantar discussões importantíssimas sobre esse tópico, é saber como abordá-las por mais difíceis que sejam. Enalteço aqui novamente o trabalho mais que necessário e importante de Zoë Kravitz ao conduzir a narrativa, seja no roteiro ou na direção, por caminhos que não precisam ser radicais e extremamente desconfortáveis ou desnecessários para o cinema, mas ser precisa e inteligente tanto na abordagem quanto no desenrolar e desenvolvimento dos fatos, criando uma obra que faça sentido e não polêmica.
Channing Tatum entrega a melhor atuação de sua carreira
Um nepo lover de respeito. Quem disse que namorados não podem atuar no filme de suas namoradas? Channing Tatum supera a si próprio ao interpretar o personagem Slater King, um bilionário que acha que é dono do mundo e das pessoas. Em seu primeiro longa como vilão e seu primeiro suspense psicológico, Channing impressiona ao colocar pra jogo seu lado mais sombrio, psicopata e assustador, não prometendo nada no início e entregando tudo no final.
Naomi Ackie e Adria Arjona são as maiorais do elenco
Após brilhar ao protagonizar ninguém menos que Whitney Houston na cinebiografia I Wanna Dance With Somebody (2022) disponível no Prime Video, Naomi Ackie nos dá o ar de sua graça e de seu talento com a personagem Frida e, mais uma vez, arrebatar com sua interpretação avassaladora. Naomi é um furacão em cena, consegue hipnotizar com seus olhos, fixar com sua presença com facilidade e ser o centro das atenções em qualquer cena. É lindo ver seu crescimento e principalmente que já conseguiu atingir um patamar de atuação que só tem a entregar cada vez mais.
Se você já se apaixonou por Naomi, a paixão é certeira com sua parceira de tela neste longa, a atriz Adria Arjona que interpreta a personagem Sarah e é absolutamente maravilhosa em seu papel. O mais incrível é ver sua primeira impressão em cena e a evolução do seu papel na narrativa que é de tirar o fôlego. Junto delas, temos também Alia Shawkat, como Jess (amiga de Frida), e Liz Caribel (Camilla) e Geena Davis (Stacy) que possuem pouco tempo de tela mas são implacáveis no momento de redenção de suas personagens.
“Pisque Duas Vezes” é uma surpresa e torna-se uma das melhores obras de 2024
Se você não está esperando, acho melhor esperar. “Pisque Duas Vezes” foi a maior surpresa de 2024 e tenho certeza que triunfará em sua estreia, pois é uma obra disruptiva e muito ambiciosa, revelando para todos o talento de Zoë Kravitz para direção (e também roteirização), trilhando novos rumos para o cinema que precisa parar de ter um olhar retrógrado, parar de ser quadrado e engessado, parar de apostar em uma direção que não agrada o público ou que não conversa com o mundo em que vivemos. Este longa abre os olhos e os deixa muito abertos para enxergar o que está sempre sendo escondido, esquecido ou calado propositalmente. É um grito de alarde e revolução. Por mais obras como esta no cinema e no mundo.
Confira abaixo o trailer oficial de Pisque Duas Vezes, que estreia nesta quinta-feira, 22 de Agosto de 2024, nos cinemas de todo o Brasil.
