A história de um artista sempre vai ser complexa demais para o cinema. Principalmente quando isso envolve uma infância e adolescência difíceis (as famosas fases dos traumas e marcas do passado), e uma vida adulta cheia de altos e baixos. Após passar pela cinebiografia de Elvis Presley e testemunhar o protagonismo e pioneirismo negro no surgimento do rhythm and blues e seu apagamento histórico por conta do apartheid, migrando este protagonismo então para Elvis; entendi que cinebiografias não precisam ser detalhistas, mas contarem o necessário para emocionar ou nos conectarmos com a essência do artista. Acredito que esta talvez seja a proposta de One Love, uma cinebiografia que nos presenteia com vida e obra de Bob Marley, o maior nome do reggae.
Sinopse
O jamaicano Bob Marley supera as adversidades para se tornar um dos músicos mais famosos do mundo.
É tímido na vida, mas compensa na arte
Não diria tímido, mas não muito aprofundado. Talvez o roteiro tenha sido encurtado? Talvez. Mas o que temos da vida de Bob Marley é o suficiente para entender um pouco da sua trajetória e capítulos importantes da sua vida. Aqui podemos partir do pressuposto que a vida de Marley era o reggae, e isso é algo que podemos concordar ao assistir o longa.
One Love é um mergulho no poder rítmico da música negra de Bob Marley, na sua genialidade ao compor e criar arautos de amor, paz, força e luta. De forma inspiradora, temos performances cheias de vida e que representam a presença de Marley nos palcos e também fora deles. A caracterização de Kingsley Ben-Adir foi algo que ajudou e muito a trazer emoção e sentimento para o longa. Una isso com um trato musical fenomenal e impecável no filme, e temos uma obra que passeia desde os principais sucessos de Bob Marley como “Three Little Birds”, “No Woman, No Cry”, “One Love” ou “Redemption Song” até mesmo outras canções ainda mais poderosas e inspiradoras como “Exodus”, “Concrete Jungle” entre outras.
Rita Marley: one love, one heart e uma grande mulher
No Woman, no Cry. É simplesmente impossível não se sentir impactado por Rita Marley no longa. O trabalho de interpretação de Lashana Lynch é simplesmente fabuloso e impressionante. Lashana nos apresenta mostra uma Rita de personalidade forte, decidida e sendo uma das principais parceiras de Bob Marley em sua vida. Desde a primeira aparição de Rita, fiquei vidrado como Lashana ocupa toda a tela do cinema de forma hipnotizante, mostrando que sua presença na história é algo cheio de potência.
Nós temos também as atuações de Lashana e Kingsley que entregam os momentos mais lindos, potentes, sensíveis e emocionantes do longa, nos apaixonando com o casal Bob e Rita que exalam química no olhar, nas conversas e em uma parceria que parece ser pra vida toda.
O poder arrebatador de Bob Marley por onde passava
Mesmo fugindo da política, Bob Marley e sua existência foi um ato político estrondoso na Jamaica. O que ele queria era promover o amor entre todos os irmãos. Marley cresceu em Trenchtown, uma das maiores favelas de Kingston, capital da Jamaica. Se tornar um astro mundial foi algo que deixou o país inteiro orgulhoso. É lindo ver o poder de irmandade e união que o artista regou em seu país, fazendo florescer um povo que entoava seus hinos de fé, esperança, paz, amor e transformação.
Kingsley Ben-Adir atua com alma, reggae e coração
Kingsley ficou lindo como Bob Marley. É nítido que o ator tenha trabalhado minuciosamente para trazer todos os trejeitos, o sotaque com raiz jamaicana, a inconfundível presença de palco, o modo como fala e age, enfim, temos uma atuação sólida e com muita personalidade. Bob Marley foi alguém único ao cantar, falar, sorrir, chorar, tocar e envolver. Este se tornou um marco, um estado de espírito, algo inalcançável. Kingsley foi brilhante na atuação, trouxe um bom sentimento e arrepiou ao executar, performar e nos encantar com o reggae de redenção de Marley.
É emocionante, envolvente e poderoso como o reggae
Se você ainda não conhece a vida e principalmente a obra de Bob Marley, sinto dizer, mas você está passando vergonha. Marley fez parte da minha adolescência rebelde. Marley vai muito além da marijuana. Mas isso eu acho que muita gente já sabe. Bob Marley é a luta pelo amor universal. Seu compromisso é com a revolução. E a gente sabe que a única revolução que existe, é o amor. E é dentro da gente que fazemos a revolução, então este filme precisa te tocar pra passar a mensagem certa. Rastafári, irmãos.
Confira abaixo o trailer de One Love (2024), que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 15 de Fevereiro de 2024.
