Com meus quase 30 anos, é obvio que não acompanhei Ney Matogrosso em seu auge. Mase desde que me entendo por gente sempre compreendi a magnitude dese ícone da música brasileira. Ney Matogrosso é mais do que um nome na música brasileira. Ele é sinônimo de liberdade, uma figura que transcendeu gerações com sua voz única e sua ousadia estampada em maquiagens e figurinos extravagantes. E foi essa história de liberdade e autenticidade que se desenrolou no espetáculo “Ney Matogrosso – Homem com H”, apresentado durante o Festival de Curitiba.
Com duas sessões esgotadas rapidamente, fica claro o apelo que Ney Matogrosso tem junto ao público. O texto de Emilio Boechat e Marilia Toledo, essa que também dirige o espetáculo junto de Fernanda Chamma, baseá-se em biografias oficiais, matérias jornalisticas, entrevistas e o próprio Ney Matogrosso para narrar diversos momentos marcantes dos 82 anos de vida do artista.
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Segundo a diretora e autora Marília Toledo, a ideia da montagem surgiu depois que ela soube que seus sócios Marcio Fraccaroli e Sandi Adamiu tinham adquirido os direitos para realizar um longa-metragem sobre a vida de Ney Matogrosso. “Eu logo pedi para que eles também adquirissem os direitos para levar a história para o teatro. Tivemos um almoço com o Ney, quando pudemos compartilhar com ele nossa visão sobre esse espetáculo musical”, revela.
O desafio era como contar uma história tão rica, que passa, desde sua juventude sonhadora até sua consagração como uma figura transgressora da arte brasileira em apenas 180 minutos e nesse sentido a palavra-chave é: movimento. Como um reflexo da energia inesgotável de Ney, tudo parece estar em constante movimento. É tudo dinâmico, orgânico, as cenas são ágeis, não se têm tempo a perder. Assim como Ney, o espetáculo vai sempre para frente, nada puxa ele para trás, porque a vida é agora. Os figurinos são trocados em cena, assim como as maquiagens características do artista. A estrutura do palco é feita de encaixe, se moldam pelos próprios personagens em cena conforme a história é contada. Tudo contribuiu para uma experiência teatral imersiva e envolvente.
As músicas, cuidadosamente selecionadas, não seguem uma ordem cronológica, mas se encaixam perfeitamente nos momentos-chave da narrativa. São cerca de 40 canções que compõem o repertório, incluindo sucessos do “Secos & Molhados”, do “Barão Vermelho” e de outros artistas que marcaram época. Cada música, cada letra, estabelece um diálogo profundo com a vida e a trajetória de Ney Matogrosso, enriquecendo ainda mais a experiência do espectador.
Renan Mattos, que praticamente não saiu de cena durante os 180 minutos, foi uma força motriz impressionante. Sua habilidade em incorporar todos os trejeitos de Ney, desde sua voz única até seus gestos distintivos, foi verdadeiramente notável. Ao lado dele, o restante do elenco também mostra sua versatilidade e talento ao mesmo tempo que parecem se divertir encarnando diversas pessoas importantes que passaram pela vida de Ney Matogrosso, como seus pais, Cazuza, Luiz Fernando Guimarães, Rita Lee, Vicente Pereira, Leonardo Villar, Mazzola, Marco de Maria e muitos outros.
“O Ney é um ser camaleônico, tem um lado íntimo reservado, mas, ao mesmo tempo é catártico no palco e apresenta um leque de personas a cada música. Cada uma dessas personas tem algo de místico, de misterioso, de selvagem, um ser ‘híbrido’ como definido por muitos, indecifrável. Então eu não me sinto interpretando o Ney e sim pedindo licença e pegando emprestado tudo aquilo que ele transformou na música e na vida das pessoas, todos os caminhos que ele abriu para pessoas e artistas como eu e isso é muito significativo.”
Renan Mattos sobre como é interpretar Ney Matogrosso
No final das contas, “Ney Matogrosso – Homem com H” não é apenas um espetáculo; é uma celebração da vida, da arte e da coragem de ser quem se é. É uma odisseia musical que nos lembra da importância de ser autêntico, de abraçar a liberdade e de viver cada momento com intensidade. Pois, como Ney Matogrosso nos ensina, a vida é agora, e cada nota, cada gesto, é uma oportunidade de expressar nossa verdadeira essência.