M3GAN 2.0

Se o primeiro M3GAN brincava com o terror e fazia do desconforto sua principal ferramenta de sátira, M3GAN 2.0 troca o facão por um par de óculos escuros e uma trilha sonora agitada, apostando em uma vibe de ação estilizada, espionagem digital e maternidade emocionalmente instável. A mudança de tom é evidente e não disfarçada: aqui, a boneca assassina vira praticamente uma espiã cibernética com crise existencial e senso de humor afiado.

A trama gira em torno de uma nova ameaça: Amelia, uma arma robótica militar com inteligência artificial que começa a ganhar consciência e decide que a humanidade talvez não seja tão necessária assim. Gemma, em um surto de decisão drástica (e nada ética), resolve ressuscitar M3GAN — agora mais forte, rápida, irônica e equipada com habilidades dignas de uma versão mirim da Alita misturada com Ethan Hunt e James Bond. O objetivo? Conter o caos iminente com… outro caos.

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Divertido, sim. Insano, nem tanto.

O que surpreende positivamente é a clara expansão do universo da franquia. M3GAN 2.0 mergulha de cabeça em discussões sobre IA, vigilância, segurança digital e controle emocional. Sim, é tudo muito raso se analisado com rigor, mas a proposta do filme nunca foi ser um tratado filosófico — e, nesse quesito, ele entrega exatamente o que se propõe: uma jornada exagerada, repleta de reviravoltas e cenas de ação tão intensas que dariam inveja até nos roteiros mais esquecíveis do Steven Seagal. Sério, a quantidade de coisa acontecendo ao mesmo tempo é quase cômica, mas nunca entediante.

O grande charme do filme — e talvez seu maior paradoxo — está no quanto ele é divertido e, ao mesmo tempo, um pouco podado. O tom nonsense, prometido nos trailers, não explode como deveria. Há uma contenção visível, talvez pelo desejo de alcançar um público mais amplo. Com isso, se perde a chance de cenas realmente ousadas, violentas ou memoráveis como as do primeiro filme. É como se a M3GAN tivesse sido enviada para a terapia e voltado equilibrada demais.

M3GAN 2.0

Há, porém, um tema que ressurge com força e funciona muito bem: a maternidade. O filme é praticamente um tratado sci-fi sobre vínculos emocionais e responsabilidade parental. Seja nas tentativas de Gemma em ser uma mãe presente (de verdade agora), na relação afetiva e até simbiótica de Cady com a M3GAN, ou até mesmo na introdução da Placa Mãe como uma figura de autoridade tecnológica com contornos maternais bizarros — M3GAN 2.0 está o tempo todo dizendo: “criar alguém é difícil, e delegar isso a uma IA talvez não seja o melhor plano”. A mensagem é enviada, mesmo quando envolta em lasers, acrobacias e frases de efeito.

M3GAN, aliás, passa por uma mutação interessante. De vilã insana e assassina de primeira viagem, ela agora flerta com o anti-heroísmo. Protege, luta pelo que acredita e até ganha sua redenção narrativa. A tentativa de transformá-la em uma espécie de Deadpool robótica e estilosa é divertida, mas também traz um quê de clichê. Sim, ela ainda solta frases cortantes e dança antes de matar, mas agora com uma motivação mais “nobre”. Se isso é bom ou ruim, depende do quanto você queria ver o circo pegar fogo.

M3GAN 2.0

Quando o exagero é mais interessante que o elenco

As atuações… são. E isso já diz bastante. Com um roteiro que aposta em exagero, ironia e adrenalina, é difícil exigir performances marcantes. Tirando as divas Jenna Davis e Amie Donald que dão vida à nossa robô assassina queridinha, o resto do elenco cumpre seu papel e não compromete — mas também não vai ganhar prêmio nenhum por isso. E honestamente? Tudo bem. Esse não é o tipo de filme que depende disso.

Visualmente, M3GAN 2.0 capricha. A direção de Gerard Johnstone bebe descaradamente de referências como Alita: Anjo de Combate, Missão: Impossível e 007. A estética é polida, os figurinos são estilosos e os gadgets parecem ter saído diretamente da mala secreta do Q. As lutas são bem coreografadas, e a montagem ágil ajuda a manter o ritmo acelerado, mesmo quando o roteiro se embanana com termos técnicos e conspirações político-tecnológicas que ninguém pediu.

M3GAN 2.0

O brilho da superfície vale a pena?

No fim das contas, M3GAN 2.0 é como aquele brinquedo novo que brilha, canta e dança, mas não foge muito do que esperam dele. Isso o torna menos impactante que o original? Talvez. Mas também mais divertido — e, dependendo do que você busca, essa troca pode valer a pena. Para quem estava esperando um banho de sangue high-tech, pode haver alguma decepção. Mas para quem topa embarcar numa aventura cyberpop que se leva pouco a sério, é só sentar e aproveitar.

Assista o trailer de M3GAN 2.0

Onde assistir M3GAN 2.0?

“M3GAN 2.0”, sequência do terror tecnológico de 2022, estreia nos cinemas brasileiros em 26 de junho. Por enquanto, a única forma de assistir é nas telonas — nada de streaming, ainda. Então, se quiser encarar a boneca mais insuportavelmente carismática da cultura pop recente, é melhor garantir seu ingresso.

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