Se você é brasileiro com certeza você sabe de cor a letra de “Evidências” e se não sabe, ta sendo brasileiro errado, melhore. Essa música icônica, composta por José Augusto e Paulo Sérgio Valle em 1989 e imortalizada pela dupla Chitãozinho & Xororó, tem uma força quase mística no cenário musical brasileiro. Em 2023, mais de duas décadas depois de sua criação, foi a música mais tocada em shows em São Paulo, segundo o Ecad, mostrando que não é à toa que a música é considerada o nosso “hino nacional”
É exatamente assim que “Evidências do Amor” começa, mostrando o quanto a música está ligada ao imaginário e presente na vida dos brasileiros, seja em shows de sertanejo, rodas de samba, festas de músicas eletrônicas, assim como “norvana”, “Evidências” une todas as tribos.
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É praticamente uma certeza que em algum momento em qualquer Karaokê pelo Brasil, alguém vai cantar evidências e todo mundo vai cantar junto. E é exatamente nesse contexto que somos apresentados a Marco Antonio (Fábio Porchat) e Laura (Sandy), os dois se conhecem em um Karaokê no momento em que escolhem “Evidências” para cantar, a partir dali os dois se apaixonam. O relacionamento aparentemente ia bem, mas as vésperas de se casar, Laura pede para terminar.
Um ano após o rompimento, Marco Antônio descobre que a música que um dia simbolizou seu amor, virou uma maldição. Basta ouvir alguns acordes que ele é levado para uma memória ruim do relacionamento dele com Laura. O dilema aqui é: como fugir de uma música que toca toda hora, em todos os lugares?
O retorno das comédias românticas?
Nos anos 90 e no início dos anos 2000, as comédias românticas reinavam, mas, nos últimos anos, acabaram perdendo espaço com o surgimento de grandes franquias como o MCU. Embora tínhamos alguns bons títulos aqui e ali, não havia mais a comoção que filmes como “Uma Linda Mulher”, “Dirty Dance” causaram. Mas parece que estamos testemunhando o retorno da força do gênero, “Todos Menos Você” fez um sucesso inesperado e eu diria que “Evidências do Amor” pode ter um caminho parecido, pelo menos eu espero.
Já tivemos diversas outras produções sobre músicas famosas como, por exemplo, “Faroeste Caboclo” ou “Eduardo e Mônica”, mas diferente desses, “Evidências do Amor” não é uma adaptação da música e sim a usa como elemento narrativo central, é a partir dela que as coisas se desenrolam.
Viagem no tempo e romance, funciona?
Também já outras produções que uniram tivemos romance e viagem no tempo, inclusive nacionais como o “Homem do Futuro”. Mas aqui o texto de Pedro Antonio (Tô Ryca!), que além de dirigir também assina o roteiro ao lado de Luanna Guimarães, Álvaro Campos e Fabio Porchat, utiliza a viagem no tempo de forma leve e despretensiosa. Não há uma explicação cientifica do porquê Marco Antonio volta no tempo e essa abordagem que vai mais para fantasia do que para ficção cientifica só ajuda ao espectador a gostar mais do filme. Mas não ache que por ser despretensioso, ele não é cuidadoso, há regras na viagem no tempo, assim como em outros filmes que abordam o tema, e elas não são quebradas.
O que “Evidências do Amor” tem de mais especial é justamente a brasilidade em sua narrativa, não só por ter uma música tão brasileira quanto ponto principal, mas porque também traz diverso elementos culturais únicos que garantem sua identidade. Ao mesmo tempo que não perde em nada para comédias românticas internacionais, “Evidências do Amor” não poderia ter sido feito em outro lugar além do Brasil. Ele é uma carta de amor para nós.
Humor é o grande destaque
O ponto alto do filme é definitivamente o Fabio Porchat. Embora ele praticamente esteja interpretando ele mesmo, isso acaba sendo mais um mérito do que um problema, é nítido o quão ele se entregou ao projeto, o que valorizou ainda mais o seu timing cômico. Porchat sabe explorar muito bem o humor físico e transita da comédia para o drama com maestria. Seus momentos com Evelyn Castro – que interpreta Júlia, uma grande amiga de Marco – é pura diversão. A sintonia dos dois é incrível, Evelyn rouba completamente a cena. Mérito não só dos atores, mas também do roteiro e direção que soube usar o melhor deles.
E a Sandy?
Já Sandy, após uma década longe das telas, volta as telas. Pensar nela como par romântico de Porchat, parecia algo impossível, mas não é que funciona? Essa sensação inusitada da escalação dela, na verdade, foi mais um acerto. Ela mais contida, enquanto Porchat é mais exagerado – no bom sentido – traz um ótimo equilíbrio para as cenas. A química entre os dois é surpreendentemente cativante. O fato dela ser filha do Xororó, uma das vozes por trás do sucesso de “Evidencias” é mais uma piada interna mesmo.
Sua personagem é quem fica encarregada das partes mais dramáticas do filme, com vários embates com personagem do Porchat, seu desempenho como atriz está degraus abaixo do restante do elenco, mas seu carisma e doçura faz com que nos apeguemos a Laura, sua personagem.
Pedro Antônio Paes conduz a direção com perspicácia, dando espaço para que o elenco talentoso brilhe em cada cena, brinque com o texto, e se divirta em cena. O ritmo do filme é envolvente, dando espaço para que os momentos dramáticos e cômicos se destaquem.
“Evidências do Amor” também é descolado, jovem, antenado com os problemas da atualidade. Usa metalinguagem e referências a filmes como “A Origem” e “Silêncio dos Inocentes”. Mas embora tenha relacionamentos homoafetivos, lidados com normalidade, infelizmente ainda coloca personagens negros apenas como figurantes de luxo, se encaixando nos padrões já esperados como melhor-amigo-do-protagonista, ou namorado que vai ser trocado.
“Evidências do Amor” não é o melhor filme do mundo e ele nem se propõe a ser, mas é divertido, emocionante. Você vai rir, vai chorar, com certeza cantar “Evidências” com os personagens e certamente vale o ingresso.