borderlands critica do filme 2024

É certo que, para se fazer uma uma obra intergalática, distópica e de impacto na indústria cinematográfica atual, é necessário ir além dos clichês. É preciso entregar algo épico e que transcenda limites até inimagináveis. Mas ao que parece, boa parte desta indústria ainda não sabe disso, levando em conta que, com um bom orçamento é possível ter um bom roteiro que atenda uma qualidade superior de produção e, principalmente, as expectativas de um público sedento por obras emocionantes e com impacto visual, sonoro e narrativo que não sejam nem razoáveis, mas impressionantes. É neste cenário que a gente encontra “Borderlands”, uma adaptação de um jogo de video-game que chega já com uma promessa de imersão de uma experiência de um ambiente (o video game) para as telas do cinema. Já digo que é um movimento perigoso por si só. O que talvez a gente pode encontrar? Vou deixar pra vocês um gostinho do que experimentei na cabine de imprensa que aconteceu a convite da Paris Filmes. Confira abaixo as principais impressões e sentimentos, sempre sem spoilers, claro. 

Sinopse

Borderlands, adaptação em live-action do game de mesmo nome, conta a história de uma infame fora da lei que forma uma aliança inesperada com uma equipe de heróis. Juntos, eles lutam contra monstros alienígenas e bandidos perigosos para encontrar uma garota desaparecida que detém a chave para um poder inimaginável. 

Falta química, enredo, engajamento e ambição  

Um grandíssimo arroz com feijão e um franguinho simples. “Borderlands” talvez se perca no enredo e tenta entregar uma história mais aprofundada, porém, esquece de trazer mais emoção e intensidade para a construção do longa. As cenas não convencem, não despertam empolgação e muito menos ansiedade sobre qualquer acontecimento. Em alguns momentos, algumas cenas são até previsíveis demais e tornam a obra ainda mais desinteressante do que já é. 

No enredo a gente sente falta de mais imprevisibilidade e emoção ao contar a história, apresentar os personagens e até mesmo mais flashbacks enérgicos. Na trama, mais ambição e emboscadas, mais emoção nas lutas e talvez até mais sangue. Um longa como este precisa ser ainda mais lunático e apostar em um combate mais pesado e devastador, principalmente pelo fato do jogo ter classificação indicativa de +18. 

O potencial desperdiçado de um bom elenco — principalmente de Jamie Lee Curtis

Aqui a gente enxerga (sem muito esforço até) a falta de química do elenco e a falta de engajamento dos personagens para criarem laços que façam mais sentido e realmente despertem mais empatia e emoção do público. Definitivamente, este não é um filme que irá fazer você chorar, se arrepiar, empolgar ou criar uma relação de carinho e admiração em especial com os personagens, que são os pilares desta trama. 

Para começar, a gente tem Cate Blanchett que interpreta Lilith, a fora da lei protagonista do longa e traz o peso de uma atriz fenomenal, conhecida pelos seus papéis de drama impecáveis e um olhar de impacto. O longa é pequeno e tímido demais para a presença avassaladora de Cate. Ao assistir o longa, esperamos que sua atuação seja um deleite, mas de fato seu papel é superficial demais e a personagem fica desconexa da atriz. Apesar disso, Cate é implacável atuando e torna-se o destaque do longa com seus cabelos de vermelho intenso e olhar penetrante. O que eu esperava mesmo era uma Kill-Bill das galáxias — uma proposta deveras interessante. 

Quem também tem seu potencial desperdiçado no longa é Jamie Lee Curtis como a Dra. Patricia Tannis. Se você espera o mesmo impacto de Jamie como em Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo (2022), nem precisa esperar para não se frustrar. Ainda temos Kevin Hart como Roland, que faz um papel de suporte importante, até mesmo deixando de lado algo muito caricato ou humorado para ser mais sério no seu propósito, mas não ganha o destaque pretendido.

Temos também a personagem Tina, interpretada por Ariana Greenblatt, que entrega carisma mas nas cenas de combate, soa como um Sucker Punch (2012), então não consegue convencer mesmo Ariana tendo uma boa presença e capacidade de interpretação superiores ao deste papel. 

Quem poderia trazer mais impacto para a trama é o personagem Atlas, interpretado por Édgar Ramírez. Atlas soa como um vilão de baixo orçamento que aparece do nada e não mostra suas justificativas e principalmente as motivações que o movem. É triste ver alguém importante para a história aparecer tão perdido e até mesmo fora de contexto. Acredito que, no fim, todo o elenco é grande demais para seus papéis e para a obra como um todo. 

Visualmente o longa tenta impressionar, mas não consegue

Depois do roteiro tentar ser leve e descontraído e a direção falhar ao tentar entregar um filme de grande impacto, digo que o visual está longe de impressionar e trazer um peso para a obra para equilibrar sua superficialidade na trama. Temos desde visuais totalmente clichês até cenários mal trabalhados e sem agregar nas cenas. São visuais de certa forma esquecíveis, que não criam uma relação com o telespectador ou até mesmo trazem referências de maior peso para serem mais identificáveis para o público. Até mesmo os figurinos deixam a desejar e tornam-se básicos demais para os personagens fortes e destemidos, até mesmo as armas parecem muito fakes, sem um pingo de realidade em sua construção. 

“Borderlands” chega a ser pretensioso e desperdiça seu potencial em uma estreia sem propósito   

Borderlands é leve, enérgico, bem humorado e até mesmo descolado. É uma pena que sua construção traga erros imensos que atrapalhem na sua experiência e tornem este longa totalmente esquecível para o público, não deixe seu legado e até mesmo um gostinho de início de uma boa franquia, ou até mesmo ser um “Novo Guardiões da Galáxia”, mas torna-se o primo feinho da galáxia que ninguém quer por perto pois não tem ambição e é fraquinho demais para lutar num ring violento. Acho que é isso, falta brigar com violência numa indústria que pede isso. Falta trazer mais violência para sua construção e ganhar até uns pontinhos dentro desta luta.

Confira abaixo o trailer oficial de Borderlands, que estreia nesta quinta-feira, 08 de fevereiro de 2024, nos cinemas de todo o Brasil.

Escrito por

Alison Henrique

Publicitário, Empresário, Dançarino, Cantor, Estudante de Filosofia e, claro, APAIXONADO por Cinema, Arte, Música e Livros. Crítico de Cinema aqui no {Des}Construindo o Verbo com muito sentimento, emoção e boas reflexões pra gente mergulhar nas obras do cinema contemporâneo. Seja Ficção, Drama, Romance, DC, Marvel, Ficção Científica, Bom, Ruim, Médio ou Péssimo. A gente sempre vai se encontrar por aqui pra discutir um pouco sobre tudo. Instagram: @alisonxhenrique.