A Hora do Mal

Escrever essa resenha às 2:17 da manhã parece apropriado. É como se o próprio filme exigisse ser comentado nesse horário, no silêncio, quando tudo ainda vibra dentro do corpo e da mente. A Hora do Mal é aquele tipo de experiência rara no terror contemporâneo: você entra nela sem saber absolutamente nada e sai com a alma preenchida por camadas de tensão, simbolismo, medo e diversão também. Foi exatamente isso que senti ao assistir à nova obra de Zach Cregger, diretor que já havia surpreendido em Noites Brutais (The Barbarian) e que agora se solidifica como um dos grandes nomes do terror moderno. O filme é uma obra-prima em construção narrativa, que prova que revelar aos poucos pode ser mais potente do que mostrar tudo de uma vez.

A trama se desenvolve como um quebra-cabeça. Em diferentes linhas temporais, através de cada personagem, vamos acompanhando uma série de eventos ligados ao desaparecimento de 17 crianças, que numa noite simplesmente correm porta afora, especificamente às 2h17. O que deixa tudo mais estranho é que todas as crianças são alunos da professora Justine Gandy (Julia Garner), que resolve investigar esse estranho incidente, já que praticamente toda a cidade acredita que ela é a culpada do acontecido. Apenas uma criança da sala da senhorita Gandy, Alex Lilly (Cary Christopher), não saiu correndo de sua casa naquela madrugada. Aos poucos, os personagens são costurados em uma narrativa inquietante, onde o mal parece estar sempre à espreita.

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Suspense que cresce com precisão cirúrgica até o terror explodir

O que Cregger faz aqui é um estudo sobre como contar uma história de terror. Ele mergulha na construção de tensão com uma precisão cirúrgica, quase literária, permitindo que o suspense goteje por cada cena. A Hora do Mal é um daqueles filmes que te puxam pra dentro como um livro: você não quer parar até entender o que está acontecendo, e mesmo quando entende, a necessidade de saber detalhes é gigante. Não há alívios cômicos forçados, não há pressa em entregar respostas. O filme é feito com confiança, cada elemento está onde deveria estar.

É impossível não destacar o elenco brilhante que dá vida a esses personagens. Julia Garner conduz a trama com a força e a fragilidade certas, provando mais uma vez sua versatilidade, especialmente depois de suas recentes participações em filmes diversos, como Lobisomem e Quarteto Fantástico. Amy Madigan, simplesmente perfeita, entrega uma performance hipnotizante, no estilo “freak” que lembra o melhor de Nicolas Cage em Longlegs. Cary Christopher é um encanto, talentoso, expressivo, com uma presença que impressiona para alguém tão jovem. Josh Brolin, Alden Ehrenreich, Benedict Wong e Austin Abrams também contribuem com interpretações sólidas, formando um mosaico de personagens que se entrelaçam com naturalidade através do mistério que o longa quer e consegue construir.

O medo do inexplicável como fio condutor de um horror mais profundo

Visualmente, o filme também é um show à parte. A ambientação quase que fantasmagórica em alguns momentos nos transporta para aquela cidade, é quase como se fizéssemos parte do filme. Somada à trilha sonora incômoda e à direção segura de Cregger, isso cria um cenário perfeito para que “o mal floresça”. As cenas feitas para causar medo são, de fato, perturbadoras, mas não de forma gratuita e nem em excesso. É um terror que vai além do susto, pois se constrói no suspense.

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Além de tudo isso, A Hora do Mal é um filme cheio de camadas e significados ocultos. Simbolismos surgem aos montes, escondidos nos cenários, nos gestos, nas falas. O terror está no medo do desconhecido, da ausência de controle, do mal que simplesmente… é. Cregger percebe que o que não se vê ou entende de primeira pode ser mais apavorante, e ele brinca com essa tensão o tempo inteiro. O filme dialoga com a necessidade humana de encontrar sentido e explicações em tudo e o terror surge justamente quando o sentido escapa.

Com 2h08 de duração, A Hora do Mal é um dos filmes mais completos e maduros do terror recente. Não é exagero chamá-lo de uma obra-prima do gênero. Ele representa tudo aquilo que o terror pode ser quando tratado com respeito, criatividade e inteligência. E pelos números (mais de 85 críticas positivas e 94% de aprovação no Rotten Tomatoes), parece que não fui a única a sair impactada da sessão. Provavelmente voltarei a escrever sobre ele, dessa vez em uma resenha mais analítica, detalhando cada cena, cada símbolo, cada pista deixada no caminho.

A Hora do Mal (Weapons) estreia hoje, 7 de agosto de 2025, nos cinemas brasileiros. Corra para ver!

Assista ao trailer de ‘A Hora do Mal’:

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Escrito por

Hugo Vicente

Trans Não Binária apaixonada por design, moda, fotografia, filmes e séries. Ativista e (às vezes) Criadora de Conteúdo Digital informativo LGBTQIAP+.