

Com a volta do gênero terror nos últimos anos, impulsionado por produções ousadas como Longlegs, Fale Comigo, Oddity – Objetos Obscuros e muitas outras, não é surpresa que novos cineastas se aventurem a explorar esse território com cada vez mais coragem. E é justamente isso que vemos em Juntos (Together), longa de estreia de Michael Shanks na direção, que também assina o roteiro. É visível que Shanks tem apreço pelo gênero e talvez até tenha sido inspirado pela boa recepção de A Substância, especialmente nas premiações que há tempos deixavam o terror de lado.
A trama acompanha o casal Millie (Alison Brie), uma professora, e Tim (Dave Franco), um artista. Ambos enfrentam um momento delicado de sua relação: o limbo entre o “continuar juntos por hábito” ou “seguir caminhos separados”, mas mesmo assim se mudam para uma cidade isolada do interior por conta de uma oportunidade de trabalho da professora. Nessa nova casa, e última tentativa de reconexão, alguns eventos sobrenaturais começam a acontecer, unindo-os de forma literal e angustiante.
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Um roteiro fechado… mas com rachaduras estratégicas para continuações
É interessante como Juntos consegue caminhar entre a tensão emocional e o horror visual. A ideia de um amor que se torna prisão (não só emocional, mas física) é trabalhada de forma que instiga e perturba. O roteiro opta por uma narrativa com começo, meio e fim, mas com brechas calculadas que podem abrir espaço para o surgimento de uma franquia. Fica claro que há histórias a serem contadas antes e depois dos eventos do filme, e isso pode render, caso o sucesso de bilheteria se concretize.
Dave Franco e Alison Brie, além de protagonizarem, também atuam como produtores do filme, e isso talvez explique o nível de entrega e sintonia entre os dois em cena. O casal (também junto na vida real) constrói os personagens de forma que carreguem frustrações, ressentimento, carinho e amor, para que se crie uma conexão real com o público. Alison entrega uma atuação intensa, enquanto Franco carrega um estereótipo meio cansativo para 2025 (o do artista preguiçoso, infantilizado, visto como fracassado), mas consegue encontrar momentos para entregar verdade e vulnerabilidade. A química entre eles torna a experiência ainda mais divertida de assistir.


Agoniante, incômodo e curioso (como um bom terror deve ser)
Um dos pontos altos de Juntos está na decisão consciente de misturar momentos de CGI, mas sem esquecer dos efeitos práticos. Nada contra CGI, mas há algo muito mais visceral e real quando vemos corpos conectados, costuras, veias e texturas que parecem palpáveis. É nessa linha que o filme acerta em cheio, evocando lembranças de obras como Faça Ela Voltar e A Substância, que também priorizam o realismo grotesco em suas abordagens. A ambientação da casa isolada ajuda a reforçar o clima de distanciamento do casal, enquanto os sons sutis e bem posicionados constroem a tensão de forma eficiente.
Se há um ponto que incomoda, é a sensação de que em alguns momentos o filme poderia ter ido ainda mais longe. Há uma contenção, talvez por inexperiência ou por medo de ser “demais”, que impede o longa de alcançar seu potencial completo. Ainda assim, Juntos é uma estreia promissora de Michael Shanks e mais uma prova de que o terror está vivendo uma fase criativa e respeitável. Com 102 minutos de duração, é um filme que causa incômodo, reflexão e agonia, e isso é um elogio no contexto do gênero.
Juntos (Together) estreia nos cinemas brasileiros no dia 14 de agosto de 2025.
Confira o trailer de ‘Juntos’:
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