

‘Pecadores’ é um filme que eu estava com altas expectativas e felizmente todas elas foram superadas. Dirigido por Ryan Coogler (Pantera Negra – 2018), o longa mistura de forma impecável terror, drama e crítica social, tudo embalado por uma estética visual impactante e ótimas atuações.
A história acompanha os irmãos gêmeos Elias e Elijah, ambos interpretados por Michael B. Jordan (o que é muito interessante, pois podemos ver como ele consegue trazer camadas profundas de emoção e conflito para cada um), em busca de recomeçar suas vidas na cidade onde nasceram. A intenção deles é abrir um bar em um galpão que fica localizado numa propriedade rural pertencente a um ex-membro da Ku Klux Klan. O que começa como um projeto de reconstrução logo vai sendo engolido pela dor deles, o peso do passado e a tensão que cresce à medida que algo sombrio começa a se revelar nesse local.
Leia também: A Mulher Rei: a celebração da mulher preta em sua força, coragem, cultura e identidade {Crítica}
Momento histórico misturado com estética sobrenatural
O cenário onde a produção é retratada é o sul dos Estados Unidos durante a era Jim Crow (período entre 1877 e 1965 em que vigoraram leis de segregação racial que se baseavam na teoria da supremacia branca) e o filme não tem medo de tocar em feridas históricas. O mais incrível é como o diretor faz isso usando elementos do “sobrenatural”. O terror aqui não vem só de susto ou sangue, é aquele tipo de medo que vem de algo muito mais real: os traumas, o racismo e toda a herança de dor que atravessa gerações.
Ryan Coogler utiliza esse “terror místico” para explorar as cicatrizes da história americana. As manifestações sobrenaturais acabam por retratar coisas reais: opressão, violência, culpa coletiva, medo. É como se a própria terra estivesse amaldiçoada por tudo que já foi enterrado nela.
Visualmente, ‘Pecadores’ também é um espetáculo! Filmado em 65mm, cada cena tem uma força estética que contribui para a ambientação e sensação de tensão constante. A fotografia é densa, elegante e arrepiante. A trilha sonora (assinada por Ludwig Göransson, que ganhou o Oscar em 2024 de Melhor Trilha Sonora Original com ‘Oppenheimer’) casa perfeitamente com a atmosfera do filme. É como se a gente sentisse o coração acelerar junto com a música em alguns momentos.


‘Pecadores’ transforma dor em arte e o elenco brilha
O elenco é composto por artistas incríveis, como Wunmi Mosaku (Lovecraft Country – 2020), Delroy Lindo (Malcolm X – 1992), Hailee Steinfeld (Bravura Indômita – 2010), Li Jun Li (Babilônia – 2022), Jayme Lawson (Batman – 2022), Jack O’Connell (Invencível – 2014) e o estreante Miles Caton. Cada um entrega performances que ajudam a construir uma narrativa emocionalmente poderosa e essencial para o que o filme propõe.
Outra coisa muito legal é que o elenco todo entende o tom do filme, não há exageros, nem atuações “gritadas”. Tudo é muito denso e dolorosamente real, mesmo quando eles estão enfrentando algo sobrenatural. Acredito que esse contraste entre o realismo das performances e a fantasia sombria da trama que faz a produção ser tão marcante.
Já tá permitido dizer que é um dos melhores filmes do ano?
Definitivamente ‘Pecadores’ é mais do que um filme de terror. É um retrato corajoso e necessário de um passado que ainda ecoa atualmente, contado com uma sensibilidade artística fora do comum. Coogler entrega uma obra que prende, emociona, diverte e faz pensar, tudo isso ao mesmo tempo. Se você ama cinema que provoca e permanece com você depois dos créditos, não perca esse filme. É, sem dúvidas, um dos grandes lançamentos desse ano.
‘Pecadores’ estreia nesta quinta-feira (17/04) nos cinemas brasileiros.
Assista ao trailer abaixo:
Nos siga no instagram: @desconstruindooverbo