Pense no primeiro filme de romance que vem à sua cabeça. Vou arriscar um palpite: provavelmente, você pensou em um filme com Julia Roberts, Sandra Bullock, Kate Hudson ou Hugh Grant como protagonistas. Não é? Agora, deixe-me perguntar: quantos de vocês pensaram em um filme protagonizado por um casal preto? Se você não pensou, não se sinta mal. Não é culpa sua. A sociedade e a indústria cinematográfica têm nos condicionado a ver o amor através de uma lente predominantemente branca esquecendo que pessoas diversas tem experiências de vida diversas.
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A Importância do Amor e do Romance no Cinema e na TV
O amor e o romance são temas centrais nas narrativas audiovisuais. Eles exploram a conexão humana, a vulnerabilidade e a alegria que vem do amor compartilhado. Quando assistimos a um filme ou uma série por amor, acabos nos identificando com os personagens, torcendo por suas jornadas e sentir suas alegrias e tristezas. Por mais bobos e escapistas que algumas obras de romance no audiovisual possam ser, querendo ou não elas foram e são fundamentais para moldar nossas percepções e expectativos sobre o que o amor deveria ser.
O amor no audiovisual nos dá um espelho no qual podemos nos ver e um sonho no qual podemos nos perder. Ele pode nos confortar nos momentos de solidão e nos inspirar a buscar conexões genuínas. Além disso, os romances podem, de alguma forma, desafiar normas sociais, promover empatia e ensinar valiosas lições sobre relacionamentos. Ao ver personagens se apaixonarem, lutarem por amor e superarem obstáculos, aprendemos sobre a vulnerabilidade e a força necessárias para amar e ser amado.
O amor tem uma cor?
O problema, é que historicamente, o amor e o romance no cinema e na TV foram amplamente dominados por protagonistas brancos. Se olharmos para os filmes clássicos, como “Casablanca” (1942), “Uma Linda Mulher” (1990) e “Notting Hill” (1999), vemos histórias de amor que se tornaram ícones culturais, mas que também perpetuaram uma visão muito restrita de quem pode ser o herói ou a heroína romântica. Séries populares como “Friends” (1994-2004) e “Sex and the City” (1998-2004) também contribuíram para essa visão limitada, apresentando majoritariamente personagens brancos em seus arcos românticos.
Essa predominância de representações brancas não é meramente uma coincidência. É um reflexo de uma indústria que, por muito tempo, foi controlada por uma perspectiva eurocêntrica. Durante décadas, as histórias de amor preto foram ignoradas, minimizadas ou estereotipadas. Quando pessoas negras apareciam, muitas vezes era em papéis secundários ou caricaturais, longe dos complexos e multifacetados personagens que mereciam ser.
Por exemplo, o cinema dos anos 30 e 40 raramente apresentava casais negros em papéis românticos significativos. Quando isso acontecia, eram frequentemente retratados de maneira estereotipada e desumanizadora. Com o movimento dos direitos civis nos anos 60 e 70, começamos a ver uma mudança gradual, com filmes como “Adivinhe Quem Vem para Jantar” (1967), que explorava temas de amor interracial e preconceito racial. No entanto, ainda eram raras as histórias que centravam no amor entre pessoas negras.
Foi apenas nas últimas décadas que começamos a ver um aumento nas representações autênticas e variadas do amor negro. Filmes como “Rafiki” (2019) e “Moonlight” (2016) mostraram a profundidade e a diversidade das experiências amorosas negras, mas ainda há um longo caminho a percorrer para que essas narrativas se tornem a norma e não a exceção.
Temos vivências diferentes
Todo esse histórico de romances protagonizados majoritariamente por pessoas brancas infelizmente contribuiu para que muitas pessoas negras, subconscientemente, acreditassem que não fossem merecedoras de amor. Este padrão cria uma lacuna na percepção e na autoestima das pessoas negras, reforçando a ideia de que suas experiências amorosas não são dignas de serem contadas.
Até porque, quando paramos para pensar nos principais clichês de filmes de comédia romântica, como largar uma carreira estabilizada para viver um grande amor, raramente se aplicam às vivências de pessoas negras. As realidades socioeconômicas e as pressões culturais frequentemente impõem diferentes prioridades e desafios. A narrativa de “arriscar tudo por amor” pode parecer um luxo inacessível para muitos negros, cuja segurança financeira e estabilidade são vitais.
Querendo ou não essa representações limitadas geram frustração quando nos comparamos com os filmes que assistimos, pois a narrativa “universal do amor branco” muitas vezes não reflete nossas vivências reais.
A Experiência do Amor Preto
Será que é preciso aprender a amar? Fomos nós, sujeitos negros, excluídos da “dádiva” do amor? Sabemos o que é o amor? Somos capazes de (re)conhecer o amor? Com a chegada do Dia dos Namorados, torna-se quase automático pensar sobre as afetividades e o amor. A representatividade é crucial para mostrar diferentes tipos de amor, incluindo o amor entre pessoas negras.
Como dissem, nem sempre o cinema foi feliz em retratar o amor preto. Muitas vezes, eles foram estereotipados ou serviram apenas como escada para protagonistas brancos. No entanto, isso tem mudado na indústria graças à crescente presença de pessoas negras contando suas próprias histórias. É crucial que as histórias de amor preto sejam contadas de forma autêntica e respeitosa, sem recorrer a clichês e estereótipos negativos.
As experiências de amor entre pessoas negras são diversas e complexas, influenciadas por cultura, classe social e histórico familiar. Narrativas interseccionais que consideram como raça, gênero, sexualidade e outras identidades se cruzam são essenciais para uma representação completa e genuína do amor preto.
A representatividade e a diversidade nas narrativas românticas do cinema e da TV são fundamentais. Quando vemos nossas histórias refletidas na mídia, somos lembrados de que nosso amor é válido e digno.
Amor Preto é Potência
De acordo com Bell Hooks, apesar de a palavra “amor” ser um substantivo, ele deve ser compreendido como um verbo. Nos filmes de comédia romântica, nas músicas e nos romances, o amor é frequentemente retratado como uma sensação passiva, não uma escolha ativa. Aprendemos e ensinamos que o amor é o ponto final, o fim de uma corrida, com muitos filmes terminando em casamentos. No entanto, o amor é uma decisão contínua, não um encontro mágico e repentino.
Em outro texto, Bell Hooks nos lembra que as mazelas do sistema escravocrata impactaram nossa forma de amar. Precisamos reconhecer que a opressão e a exploração distorcem e impedem nossa capacidade de amar plenamente. Embora o amor em uma relação interracial seja possível, muitas vezes pode impedir que uma pessoa preta se sinta completamente compreendida devido a essas dinâmicas históricas.
Uma relação afrocentrada não é apenas aquela em que pessoas negras optam por se relacionar com outras pessoas negras, mas aquela em que essas pessoas negras são conscientes do seu lugar e, juntas, se fortalecem. O cinema, a TV e a cultura pop podem contribuir significativamente para que pessoas pretas consigam enxergar o amor por esse ângulo.
Filmes sobre o Amor Preto
Rye Lane – Um Amor Inesperado
Rye Lane é um filme de drama e romance, que acompanha a história de Dom e Yas, dois jovens que se encontram no momento menos esperado, quando Dom está chorando terrivelmente em um banheiro, preparando-se para uma refeição estranha com sua ex, que o traiu com seu melhor amigo. Cuidando de suas próprias feridas de ruptura, Yas decide mergulhar de cabeça para diminuir a dor como par de Dom. O que se segue é um dia de caos impulsivo e alegre, enquanto os dois londrinos vagam por Peckham por bares de karaokê e playgrounds, abrindo seus corações novamente.
Se a rua Beale Falasse
Se a Rua Beale Falasse mostra a história de Tish (Kiki Layne), uma grávida do Harlem que luta para livrar seu marido de uma acusação criminal injusta e de subtextos racistas. Com o objetivo de tê-lo em casa para o nascimento do bebê, ela irá fazer tudo que estiver em seu alcance.
Queen & Slim – Os Perseguidos
Em Queen & Slim – Os Perseguidos, enquanto estão juntos em um primeiro encontro em Ohio, Queen (Jodie Turner-Smith) e Slim (Daniel Kaluuya), um casal negro, são detidos por uma pequena infração de trânsito. A situação se agrava, com resultados repentinos e trágicos, quando Slim mata o policial em legítima defesa. Aterrorizados e com medo da destruição de suas vidas pessoais e profissionais, eles fogem. Contudo, o incidente é registrado em vídeo e viraliza na internet, e o casal involuntariamente se torna um símbolo de trauma, terror, pesar e dor para pessoas de todo o país.
Rafiki
Kena (Samantha Mugatsia) e Ziki (Sheila Munyiva) são grandes amigas e, embora suas famílias sejam rivais políticas, as duas continuaram juntas ao longo dos anos, apoiando uma a outra na batalha pela conquistas de seus sonhos. A relação de amizade transforma-se em um romance que passa a afetar a rotina da comunidade conservadora em que vivem. As jovens terão que escolher entre experienciar o amor que partilham, ou se distanciar em função de uma vida segura.
Moonlight – Sob a Luz do Luar
Em Moonlight: Sob a Luz do Luar, acompanhamos três momentos da vida de Chiron, um jovem negro morador de uma comunidade pobre de Miami. Do bullying na infância, passando pela crise de identidade da adolescência e a tentação do universo do crime e das drogas, este é um poético estudo de personagem.
União Instável
Em União Instável, Eva (Dandara Mariana), uma executiva de sucesso e pé no chão e Alex (Dan Ferreira), que sonha em cirar games, vão se casar. O casal se ama, mesmo muito diferentes do outro. Mas, às vésperas do casamento, Alex se mete numa série de confusões enquanto tenta chegar a tempo para a cerimônia. Para se encontrarem diante do altar, Eva e Alex vão precisar fazer o impossível. E ainda terão que descobrir se foram mesmo feitos um para o outro.
Entergalactic
Entergalactic acompanha Jabari (Kid Cudi), um jovem artista batalhando para ganhar a vida em Nova Iorque e alavancar sua carreira. Quando ele conhece Meadow (Jessica Williams), sua nova vizinha, a vida dos dois é conectada pelo amor à música e eles acabam se envolvendo em uma intensa história de amor.