O clichê de uma freira em um filme de terror a gente conhece de cor. Por mais incrível que seja, a maioria parece igual, escolhendo os mesmos caminhos narrativos e entregando clichês superficiais e nada interessantes. Após assistir “A Freira 2” (2023), onde a decepção se prostrou diante das telas e até risos de absurdos e coisas inacreditáveis, as esperanças de um bom terror com blasfêmias para o catolicismo até então pareciam perdidos. Eis que surge uma supernova. Imaculada é o nome deste terror que traz o novo rostinho de Hollywood, Sydney Sweeney, protagonizando um terror inovador e com uma pegada muito diferente. Será que vai vingar? Fica uma questão. 

Sinopse

Cecilia, uma jovem religiosa, se torna freira em um convento isolado na região rural italiana. Após uma gravidez misteriosa, Cecilia é atormentada por forças perversas, enquanto confronta segredos sombrios e horrores do convento.

Lindo, bem construído e inovador ao que se propõe

Imaculada consegue inovar em um segmento de terror que entrega muitos clichês e chega a ser cansativo por tramas previsíveis demais. A narrativa deste longa flui muito bem, contando a história sem deixá-la monótona, cansativa ou previsível, acertando ao deixar no ar os mistérios que circundam os personagens e o desenrolar dos acontecimentos. Além disso, temos um clímax interessante e até mesmo inesperado. 

Outro ponto que chama a atenção é a direção de arte minuciosamente explorada, trazendo uma estética sacra muito bem aplicada nos figurinos, caracterizações, todos os elementos que circundam as cenas e as locações do convento onde o filme se dá. 

Imaculada: bendito seja o terror inovador, belo e afrontoso. Confira a Crítica Por: Alison Henrique no {Des}Construindo o Verbo.
Imagem: Divulgação / Diamond Films

O mais impactante é perceber as metáforas e cenas que, no primeiro momento, parecem ser abstratas demais ou desconexas da narrativa, mas que você vai aos poucos entendendo e juntando todas as peças. Fico extremamente surpreso e feliz que um filme consiga conduzir a trama por bons caminhos e captar a atenção do espectador. 

“Imaculada” vai do poético ao bizarro, do sagrado e intocável, ao absurdo e abominável. A tensão presente nas cenas te prende do início ao fim — e no fim, você consegue se encantar, sentir o impacto e ficar chocado com o que acabou de assistir. 

Uma afronta ao catolicismo?

Imaculada: bendito seja o terror inovador, belo e afrontoso. Confira a Crítica Por: Alison Henrique no {Des}Construindo o Verbo.
Imagem: Divulgação / Diamond Films

O longa todo soou como uma afronta aos milagres do catolicismo, sua fé cega e devoção exagerada que leva os homens a agirem de modo absurdo em nome do pai, do filho e do espírito santo. Acredito que, por este motivo, “Imaculada” torna-se um terror interessantíssimo e com uma proposta afrontosa e até mesmo uma blasfêmia perante a devoção de fiéis à religião. Nós vemos isso principalmente nos diálogos do longa, que nos apresentam os ideais quase didáticos e até mesmo geniais, trazendo à tona alguns fatos um pouco difíceis de discordar, talvez? Mas no geral, é ótimo quando o propósito do cinema é te fazer pensar e trazer uma luz principalmente para as convenções e condicionamentos impostos por algo tão problemático que já foi o catolicismo. 

Trilha sonora elegante e intensa do início ao fim

Uma trilha sonora impecável do início ao fim, conferindo uma aura de lamento e preces inconcebíveis. Na realidade as preces são em latim. Mas o importante aqui, é exaltar a escolha sonora que compõem as cenas e, principalmente, a música em coro que transborda em momentos cruciais e oferece um clima de redenção para a trama, o que, ao meu ver, deixa tudo ainda mais grandioso e potente. 

Sydney Sweeney ocupa muito bem seu lugar na missa

Bendita seja Sydney Sweeney, que brilhou na atuação e defendeu sua personagem do início ao fim, criando uma conexão incrível com o espectador. Bendita seja também sua personagem, Cecilia, que oferece um arco de redenção até mesmo imprevisível e inesperado, o que é ótimo pois temos uma percepção inicial de que a protagonista será um grande clichê, então a narrativa vem e nos impressiona. Sydney foi de encontro com a proposta inovadora do longa e se jogou na interpretação. Um rosto ainda fresquinho nas telonas e que já conquistou uma fanbase que a aclama principalmente por sua entrega estupenda em Euphoria (2019), vai gostar deste protagonismo em um terror vertical onde, inclusive, Sydney é também produtora, sendo sua segunda produção após Todos Menos Você (2023).

Imaculada: bendito seja o terror inovador, belo e afrontoso. Confira a Crítica Por: Alison Henrique no {Des}Construindo o Verbo.
Imagem: Divulgação / Diamond Films

“Imaculada” vem para causar impacto na cena de terror e ser inesquecível 

Imaculada: bendito seja o terror inovador, belo e afrontoso. Confira a Crítica Por: Alison Henrique no {Des}Construindo o Verbo.
Imagem: Divulgação / Diamond Films

Não à toa, o filme alcançou classificação indicativa de 18+. Portanto, deixem as crianças e adolescentes fãs da Cassie, de Euphoria (2019), em casa. Imaculada chega para trazer uma nova roupagem ao terror e fundir o clássico com o moderno. A qualidade estética, sonora e narrativa é o ponto alto deste longa, que executa uma orquestra audiovisual muito bem planejada e arquitetada, mostrando que não está para brincadeira ao deixar de seguir caminhos convencionais e se entregar aos clichês — assim como tantos terrores com potencial desperdiçado. 

“Imaculada” tem potencial para virar uma grande franquia de sucesso que não tem nem chance de se perder, visto que trouxe, logo de cara, elementos que instigam o espectador a questionar a trama e ter fome de respostas. Um bom filme de terror faz isso, deixa mistérios no ar sem parecer iniciante e nem precisa se explicar demais pois, sua qualidade, representa sua grandiosidade e originalidade.

Confira abaixo o trailer oficial de Imaculada, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 30 de maio de 2024.

Escrito por

Alison Henrique

Publicitário, Empresário, Dançarino, Cantor, Estudante de Filosofia e, claro, APAIXONADO por Cinema, Arte, Música e Livros. Crítico de Cinema aqui no {Des}Construindo o Verbo com muito sentimento, emoção e boas reflexões pra gente mergulhar nas obras do cinema contemporâneo. Seja Ficção, Drama, Romance, DC, Marvel, Ficção Científica, Bom, Ruim, Médio ou Péssimo. A gente sempre vai se encontrar por aqui pra discutir um pouco sobre tudo. Instagram: @alisonxhenrique.