a cor púrpura critica 2024

Púrpura é riqueza. A cor da realeza. A cor do misticismo, espiritualidade, sabedoria e conexão com o divino. Ela vestia nossos ancestrais e transformava-se em rituais. É inquestionável a história por trás de uma cor, principalmente quando o negro é protagonista e sua vida é colocada nos holofotes, além da sua urgência por liberdade. Tão negro quanto púrpura, “A Cor Púrpura” é um romance de 1982 escrito por Alice Walker, detendora de uma das obras mais importantes de toda a história da literatura, trazendo além de relatos fortíssimos, a discussão do fenimismo negro através da sensibilidade e coragem das mulheres negras do sul dos Estados Unidos, a negritude, amor, fé, esperança e coragem. Após nos presentear e inspirar o musical “A Cor Púrpura” de 1985, protagonizado por Oprah Winfrey e Woophi Goldberg e direção de Spielberg, A Cor Púrpura agora ressurge com o remake de 2024 com novos talentos e, principalmente, a direção de um homem negro. Um musical para os novos tempos e a mesma força da obra, aliás, uma obra obrigatória tanto literária quanto cinematográfica. Fica aqui comigo mais um pouquinho que compartilharei contigo os principais sentimentos do longa.  

Sinopse

Nettie (Halle Bailey) e Celie (Fantasia Barrino) são irmãs extremamente apegadas. Já crescidas, quis o destino que elas fossem separadas e vivessem momentos de muito sofrimento. Vítima de violência do pai e do marido, Celie era consumida pela tristeza e passa por capítulos difíceis de sua vida, encontrando pelo caminho a esperança e fé que a ajudam a continuar. 

O longa constrói uma conexão linda com o espectador 

Esta é uma jornada forte e emocionante. A Cor Púrpura consegue te prender do começo ao fim ao instigar, trazer os elementos narrativos, as motivações da personagem principal e o desenrolar de uma história complexa e grandiosa. Acredito que mais que emocionar, o longa pode impactar, trazer desconforto, revolta, tristeza e despertar a empatia no espectador que acompanha um enredo difícil.

Apesar de tantas provações, os musicais nos embalam e trazem o tom para nos envolver e nos abraçar nos momentos mais difíceis do longa. Equilibrar as cenas tensas com números musicais é algo extremamente complexo de fazer e exige um trabalho minucioso de roteiro e direção. Mas acredito que o intuito principal da direção foi entregar um filme mais leve focado nas superações, na fé amor e esperança. É um lembrete para a vida. 

Atos musicais cheios de vida, talento e intensidade que exaltam o talento negro 

O povo negro e seu talento em musicais é algo intenso, autêntico, original e belíssimo. Não à toa, somos os responsáveis por criar o country, rock, blues, jazz, samba, funk e outros. É neste protagonismo que encontramos os números e atos musicais de A Cor Púrpura, que trazem a essência do country para as telonas, emocionam no piano e formam uma orquestra negra de vozes, timbres e vocais poderosos, unidos a dançarinos que exalam sua felicidade de comunidade. Tudo isso é negro e se faz presente em seu poder e essência. Esta junção poderosa chega a emocionar ao apresentar atos impecáveis. 

O protagonismo negro em sua totalidade — sem espaço para um elenco branco 

Afinal, é o mínimo que se espera de uma obra onde o holofote principal é a negritude, sua história, etnicidade, amor, fé e ancestralidade. Presenciar desde o protagonismo até as atuações coadjuvantes, de apoio, figuração e bailarinos é algo lindo e emocionante. Este é um momento único de ter contato com um longa negro nas telonas e creio que seja importante não só para a comunidade negra (é obrigatório, né? não preciso nem falar), mas para todos da sociedade. 

O que eu não quero deixar de pontuar, é talvez a comparação com a obra de 1985 que muitas pessoas farão. “Falta dramaticidade, o drama foi pouco” foi a frase que ouvi de um jornalista branco ao sair da cabine de imprensa. Talvez seja pelo fato deste filme não colocar o branco para evidenciar o racismo e sua violência contra o povo negro? Acredito que sim. Muito cuidado ao procurar o sentimento de “branco salvador” nesta obra, pois ele não existirá. Aqui não é “Histórias Cruzadas” para você se vangloriar. 

Por fim, não só no elenco mas na direção, temos Blitz the Ambassador, um dos diretores de Black Is King (2020), filme de Beyoncé. Veja bem, para atender a exigência de direção da nossa mamãe, não pode ser qualquer um. E ainda há quem questione o look country de Beyoncé na edição do Grammy 2024. Ela não é boba. E nem inocente. Fofocas à parte, Blitz executa um trabalho inspirador em sua totalidade e faz isso com maestria contando com um time de produtores composto por Oprah Winfrey, Steven Spielberg e Quincy Jones. 

Atuações imbatíveis e de grande impacto e presença 

Um longa que começa com Halley Balley (A Pequena Sereia, 2023) no elenco, não preciso nem comentar que vai entregar muito. Ao lado de Phylicia Mpasi, que interpreta a personagem Celie mais jovem, ambas dão o ponto de partida do longa. Phylicia é essencial neste início e nos impacta com sua atuação tensa, triste e dramática. 

Agora adulta, Fantasia Barrino é quem interpreta Celie e simplesmente nos arrebata em cada uma das cenas. Ela impacta com a falta de expressão e, mais tarde, com a evolução de suas expressões. Mas seu grande poder está na voz, envolvente e que protagoniza atos lindíssimos. 

Quem impacta de verdade mesmo além de Taraji P. Henson, como a cantora de blues Shug Avery, é Danielle Brooks que interpreta Sofia na trama. Esta foi a atuação que rendeu a indicação do filme ao Oscar 2024 como Melhor Atriz Coadjuvante. Sinceramente? Merecidíssimo se ganhar, pois Danielle é a força do longa, é representação mais fiel do feminismo negro e o personagem inspirador na trama. A personagem Sofia é a urgência por liberdade que grita a todo instante. 

“Você está dizendo que Deus é vaidoso?”

“Não, não é vaidoso, só quer repartir as coisas boas. Eu acho que Deus deve ficar fora de si se você passa pela cor púrpura num campo qualquer e nem repara.”. Este é um trecho do livro e que se faz presente também no filme. Se você se pergunta o porquê da cor estar presente na obra, não há um significado específico, mas existe a máxima desta ser não uma cor, mas a representação da fé. 

A Cor Púrpura é um longa onde a fé está muito presente. Seja na igreja em cultos enérgicos onde o coral faz seus números cheios de vida, seja nos sermões musicais, enfim. Deus está presente nesta obra e é lindo ver que a fé é quem une uma comunidade, é esta que dá o tom da obra seja para o perdão, a esperança, a fé, o amor e a vida.

Confira abaixo o trailer de A Cor Púrpura (2024), que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 08 de Fevereiro de 2024.

Escrito por

Alison Henrique

Publicitário, Empresário, Dançarino, Cantor, Estudante de Filosofia e, claro, APAIXONADO por Cinema, Arte, Música e Livros. Crítico de Cinema aqui no {Des}Construindo o Verbo com muito sentimento, emoção e boas reflexões pra gente mergulhar nas obras do cinema contemporâneo. Seja Ficção, Drama, Romance, DC, Marvel, Ficção Científica, Bom, Ruim, Médio ou Péssimo. A gente sempre vai se encontrar por aqui pra discutir um pouco sobre tudo. Instagram: @alisonxhenrique.