Entre quem já não dá muita credibilidade para o gênero terror e quem está saturado de um mercado cheio de fórmulas e narrativas fracas, sabemos como está difícil para as produções atuais agradarem e prenderem o público nos cinemas. Principalmente quando temos uma obra de comparação que foi Hereditário (2018), um marco nas produções que inovou na forma de aterrorizar nossa mente e nos deixar com “traumas cinematográficos”. Sem precisamente inovar ou reinventar o terror nos cinemas, a A24, mesma produtora de Hereditário, traz aos cinemas nesta quinta-feira (17), o longa Fale Comigo, um terror que promete gerar muito desconforto e trazer uma narrativa atual e que conversa com a nova geração. 

Sinopse

Em Fale Comigo, terror da A24, acompanhamos um grupo de amigos que praticam uma brincadeira muito peculiar nas festas locais: invocar espíritos através de uma misteriosa mão embalsamada. Viciados em emoção, a brincadeira vai longe demais e acaba abrindo uma porta para o mundo dos mortos. 

À primeira impressão, um terror adolescente insuportável 

Sim, adolescentes são insuportáveis (a maioria), e eu vivo fugindo deles em qualquer lugar. Mas o que seria um elenco gen-Z irritante, a princípio, mostra-se como algo mais profundo e que dá vida à uma narrativa profunda que mergulha em traumas, dependência emocional e as fraquezas que tornam o ser humano vulnerável. Fale Comigo inova não só na história em si, mas no modo em que ela é contada, trazendo nosso psicológico para entrelaçar os acontecimentos. 

Foto: Divulgação / Diamond Filmes

Como lidamos com a morte e o trauma? 

É o que eu sempre digo, um bom psicólogo já resolveria grande parte dos problemas de protagonistas de filmes de terror. Mas quem somos nós sem o entendimento das emoções humanas que o cinema nos traz, né? Não obstante, Fale Comigo traz uma discussão importante sobre os traumas que a morte de alguém pode nos causar — e até onde isso pode nos levar. 

O longa nos mostra como a morte paralisa, aprofunda todas as vulnerabilidades e nos deixa em um estado de dependência emocional constante. E me diga, quem é que não foge de discutir sobre a morte, evitando discuti-la, interpretá-la e até mesmo buscar outros significados para ela. O mais impactante sobre isso, é que a discussão cabe para a geração atual, nossa amada Geração Z, que lida de forma diferente com as emoções — talvez se anestesiando para não senti-las? talvez ignorando as consequências? fica uma questão.

O clássico e psicológico lado a lado 

É incrível como Fale Comigo consegue ir do terror clássico, que traz um enredo conhecido sobre morte e artefatos espirituais, até o terror psicológico, que navega por nossos sentidos e transforma a experiência nos cinemas, fazendo com que seja única para cada pessoa. Ao mesmo tempo, temos uma profundidade muito grande dos sentimentos e emoções dos personagens na narrativa, e claro, momentos extremamente desconfortáveis com cenas perturbadoras. O filme é uma junção de elementos que constroem algo muito bem entrelaçado e encaixado, onde nos surpreendemos a cada cena e sofremos junto com os personagens. 

Foto: Divulgação / Diamond Filmes

Um protagonismo poderoso de Sophie Wilde

A protagonista Mia, interpretada por Sophie Wilde, é uma adolescente complexa, frustrada, dependente emocional e distante nas emoções. É extremamente impecável o trabalho que Sophie executa em cena, trazendo à tona o furacão de emoções que a personagem passeia durante do longa, oferecendo uma experiência de muito impacto para o espectador. Como personagem principal, Mia se conecta muito bem e carrega a narrativa brilhantemente, nos fazendo ficar vidrados em seu olhar expressivo e a intensidade como sente em cada cena. 

Foto: Divulgação / Diamond Filmes

Outra atuação impactante foi de Joe Bird (Rabbit, 2017), que interpreta Riley na trama. Basicamente, a atuação que me fez quase passar mal ao assistir o filme. Este personagem carrega consigo uma tensão gigante, desconfortável e que entregou muito, muito mesmo. Já podemos chamar de prodígio? Acredito que sim. 

Foto: Divulgação / Diamond Filmes

Fale Comigo é bizarro, intenso, desconfortável e tem tudo pra ser um sucesso

Sem dúvidas acaba de nascer uma franquia excelente de terror, já que o longa traz consigo elementos independentes para continuar a história — e até mesmo voltar a fita com o flashback que a gente tanto ama nos cinemas, seja para reforçar uma continuação ou nos alimentar com um spin-off. Seja o que for, Fale Comigo tem um grande futuro pela frente e irá surfar muito bem nesse grande hype que tomou conta das redes sociais.

Confira o trailer oficial de Fale Comigo (2023) que estreia nesta quinta-feira, 17 de Agosto, nos cinemas do Brasil.

Escrito por

Alison Henrique

Publicitário, Empresário, Dançarino, Cantor, Estudante de Filosofia e, claro, APAIXONADO por Cinema, Arte, Música e Livros. Crítico de Cinema aqui no {Des}Construindo o Verbo com muito sentimento, emoção e boas reflexões pra gente mergulhar nas obras do cinema contemporâneo. Seja Ficção, Drama, Romance, DC, Marvel, Ficção Científica, Bom, Ruim, Médio ou Péssimo. A gente sempre vai se encontrar por aqui pra discutir um pouco sobre tudo. Instagram: @alisonxhenrique.