Duas raquetes, uma rede, várias bolas e inúmeros corações batendo forte a cada jogada. Minha experiência com tênis é totalmente cinematográfica e televisiva, salvo algumas partidas de beach tennis em que descobri que sou bom, pasmem. No coração, minha torcida é e sempre foi de Serena Williams, principalmente após conhecer sua história em King Richard: Criando Campeãs, que rendeu Oscar de melhor ator para nossa lenda viva Will Smith. Já no jogo do amor, para mim, a profundidade da partida é o que conta, sempre. Infelizmente, mais perdi do que ganhei (chore comigo), dando mais atenção a mim do que o adversário, ignorando as regras e preocupado demais com os espectadores, perdendo pontos e evitando marcá-los, com medo absurdo de perder mas também com medo de ganhar. Vai entender? No amor e no tênis, a gente tem uma infinidade de coisas para aprender e explorar — salvo as metáforas, que vocês me perdoem por usá-las —, e é o que o mais aguardado e até então aclamado “Rivais” tem para nos mostrar em um longa cheio de intensidade, sedução, excitação, dramaticidade e um triângulo amoroso complexo que transpassa a tela do cinema e invade o coração do espectador. Abrindo sua estreia no Rotten Tomatoes com 100%, “Rivais” tem tudo pra ser um dos melhores filmes (se não o melhor) de 2024. Fica comigo que vou te contar todos os sentimentos sobre o filme e, principalmente, enaltecer nossa maioral, Zendaya.
Sinopse
Um campeão de tênis do Grand Slam se vê do outro lado da rede do outrora promissor e agora esgotado Patrick, seu ex-melhor amigo e ex-namorado de sua esposa.
Impecável nos detalhes e intenso do início ao fim
A narrativa passeia tão bem por todos os meandros da história que você fica encantado por cada curva, cada ponto e ação que tornam esta uma obra completíssima e bem amarrada. “Rivais” não é básico, foge do clichê e se joga em uma profundidade impressionante para fazer-nos sentir parte do triângulo amoroso entre Tashi (Zendaya), Art (Mike Faist) e Patrick (Josh O’Connor). Você vai desejar cada um deles, se encantar, sentir uma atração absurda e querer uma história de amor para acabar com sua vida. Brincadeiras à parte, pois não sou fã de trisal, mas nesse caso a vontade aparece sem pestanejar.
O longa tem uma escolha mais que assertiva ao focar a história em apenas três personagens e nada mais. Além do tempo de tela, que é inegável um fator de grande intensidade para tornar a obra tão impactante como é, a profundidade que “Rivais” consegue alcançar é algo difícil para outros filmes, pois consegue responder muitas perguntas que o enredo levanta e deixar que a história seja relevante em cada minuto de filme e cada cena bem produzida, conduzida e dirigida por Luca Guadagnino, o responsável pelo romance lindíssimo Call Me by Your Name (2017) — embora ao falar de romances gays, eu prefira mil vezes o maravilhoso e desprezado Azul Cobalto (2022).
O que nos prende é a química e a tensão sexual deste triângulo amoroso
Simplesmente uma aula de química para casais no cinema — e olha que tem muitos atores e atrizes precisando. É inegável a tensão sexual no ar, a atração explodindo e o jogo de intimidade entre Tashi, Art e Patrick, perceptível seja na cama, nas quadras, na rua, na praia ou em qualquer outro lugar. É nítido no olhar, na aproximação calorosa, nas ações e gestos mais simples ou expressões de qualquer um dos personagens. Conseguimos entrar nesta relação e se sentir parte dela, ficar no meio do fogo cruzado, ou melhor, das raquetes, da rede e das bolas rápidas e que faltam pegar fogo de tanta intensidade que são sacadas e rebatidas. Nesta rivalidade a gente não tem só um challenge que disputa a vitória, nós temos uma história de orgulho, medo, paixão, talento, fracasso e amor de sobra pra dar e receber.
O verdadeiro triângulo amoroso é entre a estética, a trilha sonora e a direção de arte
O jogo de câmeras é o ponto alto e o que mais me impressionou neste longa. Os ângulos brigam por espaço numa rivalidade (saudável) de câmeras para buscar o melhor alinhamento, o melhor olhar que vai captar uma partida. Para se sentir no jogo, brincam com as jogadas e arremessam o espectador para aumentar a expectativa e a emoção do desafio. De um lado para o outro, as câmeras jogam também fora das quadras, mantendo viva a rivalidade em qualquer oportunidade e acesa a chama, a química e a relação enrolada desse trisal. Os closes são impecáveis ao se mostrarem minuciosos para captar os detalhes e as emoções dos personagens e, principalmente, a beleza desses três que é surreal.
Quem não brinca em serviço também é a direção de arte. Após elogiar a D.A de outro lançamento recente dos cinemas — Abigail (2024) —, vi que esta foi básica perto da maestria de “Rivais”. Além das cores darem o tom perfeito para cenas e o contexto, os elementos como marcas, logotipos, figurinos minuciosamente planejados, visuais, cenários muito bem produzidos e até mesmo os acessórios de Zendaya apresentam uma fineza, elegância, cuidado e primor com este fator de grande peso para uma obra.
E por último, o que arrebatou de vez foi a trilha sonora enérgica, que traz composições de um eletrônico pesado no bass que dá o tom perfeito em momentos que poderiam ser comuns, numa conversa sem trilha e focada no olhar, respiração e o momento em si, mas que a obra opta por vincular a uma trilha envolvente, que instiga o desafio e, aqui mais uma vez, mantém a intensidade da rivalidade suspensa no ar. Além do eletrônico, um projeto excelente de Trent Reznor and Atticus Ross + Boys Noize (que você pode conferir abaixo), nós temos também algumas músicas que compõem a trilha sonora que também preenchem muito bem as cenas, hora de modo muito interessante, hora de modo profundo e emocionante. O que mais impressionou na trilha é a presença da música Pecado, de Caetano Veloso, presente em um momento lindo e que fecha muito bem a história.
Zendaya mostra que é a patroa e arrebata em sua atuação brilhante — sem ofuscar os meninos
Não tem como, ela sempre é a maior no que faz e no que se propõe a fazer. Após mostrar sua força e brilhar como Chani, em Duna 2 (2024), Zendaya entrega uma atuação de carreiras ao protagonizar “Rivais”, trazendo uma personagem forte, potente, inteligente, sagaz, perspicaz, ambiciosa, além de linda, chique e elegante em qualquer momento e situação. O que mais me deixa feliz é Zendaya ocupando um lugar de inspiração para milhões de mulheres e meninas negras que aprenderão com ela, principalmente neste longa, como uma mulher negra deve sonhar, almejar, se posicionar diante das situações e fazer prevalecer seus sonhos e desejos acima de qualquer outra coisa. Seu posicionamento, desde sua postura até a coesão de tudo o que fala, é algo surpreendente na interpretação de Tashi. Será que nossa lenda garante uma indicação ao Oscar com sua atuação espetacular? Oremos.
Abrilhantando ainda mais esta obra lindíssima, Mike Faist e Josh O’Connor se entregam na atuação e nos apaixonam na interpretação dos maravilhosos Art Donaldson e Patrick Zweig. Ao ver o trailer a gente pensa: “qual é a desses dois?”. Eu vou te dizer que é uma coisa bem forte que vem por aí. Eles são estonteantes, impactantes e apaixonantes em cada segundo nas telonas. Temos dois personagens que exalam rivalidade no olhar, mas também uma química extremamente excitante e uma conversa que não precisa de palavras para acontecer, se encontra em sinais e expressões íntimas e pessoais que os dois carregam em suas histórias. Mike, como Art, é destemido, poético no olhar, sensível e cria uma conexão inexplicável com o espectador em sua atuação. Já Josh, como Patrick, é também destemido, mas marrento e debochado, ao contrário de Mike, que é mais observador e retido, Josh é mais falador e agitado, opostos que brigam e fomentam ainda mais esta rivalidade.
“Rivais” é uma partida sem fim no jogo do amor e quem vence é o coração
Não importa quem joga, quais os sentimentos em jogo e qual é a história de amor que está de um lado para o outro da quadra — a gente não consegue vencer o coração ou se entregar para a razão. Quem escolhe assumir os riscos, que lide com as responsabilidades. Numa partida, temos que estar preparados para todas as probabilidades e sempre levar em conta a nossa história, aliás, nunca esquecer o que nos trouxe até aqui.
“Rivais” assume todos os riscos e responsabilidades de um amor complexo para dar vida a um jogo de tênis incomum, onde três disputam não para um prêmio vencedor, mas para manter acesa a chama da rivalidade. É isso que nos mantém vivos, a ambição de jogar, disputar, encontrar os adversários cara-a-cara, mas além disso, encarar nossos medos e sentimentos mais profundos e ter que lidar com eles. Não dá pra fugir sempre das emoções, viu? Uma hora ou outra você terá que chamá-las para uma partida. Quem ganha ou quem perde, você nunca vai saber, mas depois de muito tempo vai entender, se entregar e sentir.
Confira abaixo o trailer oficial de RIVAIS (2024), que estreia nos cinemas em 25 de Abril de 2024.