morte no nilo

Viver outras décadas através do cinema é sempre uma experiência encantadora. Claro, não ignorando as estruturas sociais problemáticas dessas épocas, além de uma sociedade patriarcal, abusiva, escravocrata e outras barbáries; as raízes que outros tempos deixaram através da arte, são o principal ponto de impacto com nossas emoções. Me faz pensar o que mais seria tão poético além de uma história de amor, desejo, vingança e morte. Definitivamente as paixões com tragédia movem o mundo – e entregam obras inesquecíveis no cinema, como Morte no Nilo.

O longa Morte no Nilo é uma adaptação do romance homônimo de Agatha Christie, publicado em 1937. A história se passa no Egito, à bordo do glamoroso navio cruzeiro Karnak, onde o casal apaixonado Linnet Ridgeway (Gal Gadot) e Simon Doyle (Armie Hammer) viajam em Lua de Mel junto com seus convidados. A trama envolve personagens misteriosos que se tornam suspeitos após um assassinato ocorrer durante a viagem, e o único que pode resolver este caso é o detetive belga Hercule Poirot (Kenneth Branagh), que procurará o culpado até o fim.

Imagens belas, estonteantes e impecáveis

Simplesmente um espetáculo de encher os olhos. Com um nome poético e rodeado das belezas do Egito, era de se esperar uma entrega tão grande nas imagens. A estética nos arrebata e arrepia desde as cenas internas e fechadas, até as cenas externas e abertas, que entregam com maestria as paisagens e grandes locações. 

Era hipnotizante olhar para a tela do cinema. O cinema clássico transportado para os anos 2020 trazem uma experiência extraordinária. Claro que temos que enaltecer o trabalho de fotografia, que proporcionou um acontecimento à parte e me fez ficar babando na tela de cinema por cada detalhe minucioso que existia nas cenas. Morte no Nilo entregou uma qualidade visual que me deixou chocado, de verdade.

Os figurinos compõem uma verdadeira orquestra 

Quando dizemos que a moda fala, é possível que muitos filmes não escutem isso (ouviu, House of Gucci?). Morte no Nilo consegue contar toda a sua narrativa através dos looks dos personagens – e isso eu achei deveras, fascinante. Cada figurino em especial além de traduzir fielmente a personalidade de cada membro da história, compõe com maestria cada cena do filme, trazendo detalhes e até mesmo pistas que estão ligadas ao enredo da história.

A paixão, desejo e vingança são anunciados desde o início do filme com muita intensidade, de um jeito clássico e até mesmo clichê, mas assertivo e encantador. A paz, a serenidade, a alegria, a tristeza e até mesmo o luto recebem trabalhos impecáveis no figurino de cada personagem. Um destaque até mesmo para looks do detetive ​​Hercule Poirot, que mesmo com ternos clássicos, conseguiu passar sentimentos em cada composição. Realmente, este filme é um prato cheio para estudantes de cinema e direção de arte (bons estudos, gente). 

O Soul de Salome Otterbourne é o ponto alto do longa

Salome Otterbourne é o acontecimento do longa. Interpretada pela majestosa Sophie Okonedo, ao vê-la no filme o único desejo que fica é de ter um filme apenas para Salome. Forte, atraente e com uma presença estonteante, Salome é uma cantora de Soul ovacionada, que embala festas e bailes com sua voz grandiosa e sua personalidade única, cheia de sarcasmo, ceticismo e que representa muito bem a vivência de uma cantora preta nos anos 30 que faz revolução através da arte.

Emma Mackey é uma personagem hipnotizante

Nossa grande estrela de Sex Education, interpreta Jacqueline de Bellefort, um dos grandes destaques do longa. Mesmo sem um aprofundamento na personagem ou até mesmo momentos de protagonismo na narrativa, Emma Mackey nos hipnotiza com sua estética, beleza, presença e claro, atuação de respeito à personagem. Seus olhos não mentem em nenhum momento – um beijo grande para a equipe de maquiagem – e chega a ser impressionante o sentimento que a personagem nos proporciona em alguns momentos, criando conexões à cada movimento dentro das cenas.  

Kenneth Branagh – É ELE! 

Se existe um homem perfeito no mundo, este homem é Kenneth Branagh. Indicado nessa semana ao Oscar de melhor diretor por “Belfast”, Kenneth não à toa entrega uma direção extraordinária de Morte no Nilo e, PASMEM, uma atuação que assume todas as rédeas do filme interpretando o detetive Poirot. Este homem literalmente (precisamos falar depois sobre a banalização do termo ‘literalmente no mundo’) entrega e se entrega em absolutamente tudo neste longa.

Como direção, temos um trabalho surpreendente de Kenneth, que comanda uma orquestra complexa que é a narrativa do longa. Dentro dessa complexidade, claro, acredito que temos alguns pontos no meio de caminho de Morte no Nilo que o fazem ficar um pouco confuso e, até mesmo, cansativo. Mas acredito que, no geral, este é um ponto que faz a obra como um todo ser grandiosa. Será que foi a obra ou minha tensão e ansiedade? Fica uma questão. 

Como ator, temos o encantador detetive ​​Hercule Poirot, um personagem clássico nas obras de Agatha Christie. O personagem traz sua aura de mistério, sagacidade e genialidade ao filme, ao mesmo tempo que mostra sua vulnerabilidade e lado mais humano na obra, criando uma conexão intensa com o público. Definitivamente, foi o personagem que mais me cativou e que, mesmo tímido ao falar se seus sentimentos, deu muitos motivos para ser o protagonista da história. 

O elenco em meio à polêmicas, gera uma antipatia proposital

Fica até difícil e desconfortável falar sobre escolhas do elenco um tanto problemáticas, que levanta a questão se irá impactar na experiência dos espectadores no cinema. O filme, que foi rodado em 2019 com previsão de lançamento para 2020, foi adiado devido à pandemia e isso ainda se multiplicou em meio à problemas envolvendo Gal Gadot, que fez comentários polêmicos sobre o conflito entre Israel e Palestina; Letitia Wright, com posicionamentos anti-vacina; e Armie Hammer que enfrenta acusações gravíssimas de estupro e canibalismo – fato que, por conta das investigações, adiou o lançamento somente para este ano (2022). Não carrego o peso desses fatos aqui, mas também não os excluo. 

A presença de Gal Gadot no longa, que interpreta Linnet Ridgeway, trouxe algumas cenas extremamente inspiradoras, mas não foi um protagonismo que gerou uma conexão tão grande com o público, assim como a atuação de Armie, como Simon Doyle. Algumas escolhas no elenco, geraram deveras alguma antipatia com os personagens que vão muito além dos fatores externos, pois acredito que foi seja algo realmente proposital na construção de cada um na história, já que o mistério todo gira em torno de encontrar o assassino. 

A adaptação vai corresponder às expectativas? 

Assistindo ao longa, as expectativas de começo, meio e fim trazem um jogo psicológico pra nossa mente. Até mesmo para quem não tem expectativas, só vive o momento (como eu); acredito que os sentimentos serão os mesmos ao presenciar o jogo conturbado e fascinante que é Morte no Nilo. Todo o evento em torno do mistério, investigação e suspense nos faz imergir nas entranhas da obra, gerando até uma certa ansiedade pelo clímax, mas curtindo cada minuto que leva até ele. Aos fãs de Agatha Christie: apreciem e deleitem-se.

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Confira abaixo o trailer oficial de Morte no Nilo (2022), que estréia nos cinemas nesta quinta, 10 de fevereiro de 2022. 

Escrito por

Alison Henrique

Publicitário, Empresário, Dançarino, Cantor, Estudante de Filosofia e, claro, APAIXONADO por Cinema, Arte, Música e Livros. Crítico de Cinema aqui no {Des}Construindo o Verbo com muito sentimento, emoção e boas reflexões pra gente mergulhar nas obras do cinema contemporâneo. Seja Ficção, Drama, Romance, DC, Marvel, Ficção Científica, Bom, Ruim, Médio ou Péssimo. A gente sempre vai se encontrar por aqui pra discutir um pouco sobre tudo. Instagram: @alisonxhenrique.