Quero começar já confessando que o Batman nunca foi meu herói favorito, não desgosto do personagem, mas sou sim aquelas pessoas amarguradas que zoam o personagem falando que se ele fizesse terapia com certeza ele perceberia que era muito melhor proteger a cidade investindo nela do que comprando roupa preta, tecnologia e armas para bater em pobre. Para mim o mais interessante na mitologia do personagem sempre foi a sua galeria de vilões.

Dito isso, Matt Reeves conseguiu resolver todos esses “problemas”.

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Desde sua primeira aparição nas telas, já se passaram 60 anos e de lá pra cá já tivemos tantas versões do personagem – seja a proposta realista do Nolan ou a surrealista e caricata trazida por Tim Burton – que se por uma lado pode ser um pouco cansativo termos mais um filme do herói, por outro, o Batman é um personagem tão rico (em todos os sentidos) e tão intrinsecamente ligado à cultura pop e no imaginário das pessoas, que acaba permitindo essas diferentes abordagens a ele, é um personagem que, querendo ou não, sempre terá espaço.

A abordagem que Matt Reeves dá ao personagem, talvez não seja a melhor versão que já vimos, mas para mim é a versão “definitiva”. Dando uma nova perspectiva não só para o herói, mas também para o gênero de filmes baseados em quadrinhos, que para alguns já está saturado.

Com apenas dois anos de experiência como vigilante, aqui temos um Batman um tanto quanto “cru”, assombrado pelos seus traumas e que busca nas ruas de Gotham preencher esse vazio que o cerca. Robert Pattinson, como já era de se esperar, consegue trazer todas essas nuances do personagem, entregando um Bruce Wayne introspectivo, melancólico, que internaliza seus traumas e só sabe se expressar por meio da violência, em outras palavras, um perfeito emo. Em diversas cenas, mesmo sem dizer uma só palavra  é possível captar todo o seu peso, um claro resultado da harmonia entre uma excelente atuação com uma excelente direção. Sem falar é claro no seu maxilar que se encaixa PERFEITAMENTE na máscara.

Robert Pattinson sendo um grande gostoso

A trama do filme se inicia após o assassinato violento do prefeito de Gotham, junto do seu cadáver uma pista é deixada e a partir daí se inicia um trabalho de investigação do morcegão em conjunto com Jim Gordon (Jeffrey Wright), onde a corrupção enraizada na cidade é exposta. Temos o clássico filme de detetive que trabalha em conjunto com um policial para desvendar um grande mistério, a diferença é que aqui o detetive tá vestido de morcego.

Como cenário desta investigação temos uma Gotham tomada pelo crime e pela corrupção, mas de uma forma muito mais perigosa e real. O clima sombrio, chuvoso (meu deus como chove nessa cidade) e gótico, se misturam com a tecnologia, as cores dos painéis de led (inspirados na Time Square), contrastam lindamente com o preto e o cinza.

No meio desta Gotham, também encontramos ela, a maioral, Selina Kyle (Zoë Kravitz), acredito que não havia ninguém que duvidasse da competência de Zoë Kravitz em dar vida a personagem, as expectativas estavam altas, mas a atriz conseguiu superar. Ela nos apresenta uma mulher-gato sexy, mas cheia de camadas, que embora tenha um papel fundamental em mostrar ao Batman que o mundo é feito de tons de cinza e não o preto e branco que ele enxerga, ela tem sua própria jornada, não sendo só mais apenas um interesse romântico ou pedra no sapato do morcegão. PRECISAMOS DE UM FILME SOLO DA SELINA KYLE URGENTE.

De qualquer forma, vale ressaltar a química entre os dois, quando juntos em tela a tensão sexual é tão grande, que causa até um “incômod”o em nós espectadores, como se a gente estivesse vendo algo que não devia.

Batman
~insira aqui o vídeo da Pequena Lo gemendo~

No outro lado, temos Charada, esqueça o vilão performático de Jim Carrey, Paul Dano entrega um Charada assustador e ameaçador, lembrando muito o Jigsaw de Jogos Mortais. Mesmo sem aparecer muito, o vilão se faz presente por conta da consequência de seus crimes brutais, trazendo um discurso populista de violência, além de ser um reflexo do próprio Batman.

O restante do elenco também faz um trabalho magnifico, todos os personagens tem seu momento de brilhar. Jim Gordon de Jeffrey Wright não é só um sidekick, ele é de fato o parceiro do Batman nessa investigação, trabalhando de igual para igual com o herói. E embora ainda ache muito duvidoso esse negócio de usar maquiagem inves de contratar um ator gordo para o papel de Pinguin, não dá pra negar que Colin Farrell está fantástico no papel. Aliás, tem uma cena de perseguição com o personagem que é espetacular.

É um filme longo, não dá pra negar, são quase três horas de duração, mas cada minuto é essencial, alguns podem achar que há uma certa barriga ali pelo segundo ato, mas eu vejo muito mais como um respiro necessário em meio a tanto caos. Também não posso deixar de falar da trilha sonora que é um show a parte e faz um excelente trabalho em ajudar na imersão nessa trama sombria.

Aqui temos um filme de origem também, mas o que vemos não é o personagem traçando uma jornada para se tornar herói, mas sim o herói encontrando o caminho de volta para sua humanidade, entendendo que o seu papel em Gotham não é ser a vingança, mas sim a esperança e a justiça.

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Escrito por

Alison Henrique

Publicitário, Empresário, Dançarino, Cantor, Estudante de Filosofia e, claro, APAIXONADO por Cinema, Arte, Música e Livros. Crítico de Cinema aqui no {Des}Construindo o Verbo com muito sentimento, emoção e boas reflexões pra gente mergulhar nas obras do cinema contemporâneo. Seja Ficção, Drama, Romance, DC, Marvel, Ficção Científica, Bom, Ruim, Médio ou Péssimo. A gente sempre vai se encontrar por aqui pra discutir um pouco sobre tudo. Instagram: @alisonxhenrique.