Não foi azia nem má digestão, mas a falta de um bom cardápio. O sucesso de Estômago, longa de 2007, foi estrondoso e merecedor de seus 39 prêmios, sendo 16 deles internacionais. Mesmo com um legado inabalável e 17 anos que separam um lançamento do outro, o sucessor “Estômago 2 – O Poderoso Chef” deixa a desejar e pode até mesmo tornar-se um filme completamente esquecível. O que será que aconteceu com este lançamento? Por qual motivo o longa em vez de trilhar um novo caminho e visar uma obra ainda melhor e desafiadora, decidiu repetir a fórmula e sucesso de 2007, com duas histórias consecutivas, mesmo sabendo que não há como repetir um feito? Acompanhe comigo alguns pontos sobre este lançamento e sentimentos deste humilde jornalista que vos falar.
Sinopse
Nonato conquista, por meio de sua culinária, pessoas de poder na cadeia em que cumpre a própria pena. Porém, um famoso mafioso italiano quer medir forças com ele a qualquer custo.
“Estômago 2” tem uma proposta interessante e promissora, mas se perde na conexão com o público
O que era para ser um banquete, não torna-se nem um pastel com caldo de cana (que é louvável e a supremacia de felicidade do brasileiro). Esta foi a tentativa frustrada de “Estômago 2 – O Poderoso Chef” de entregar um sucessor da obra incrível de 2007 — que sou fã apaixonado e guardo no coração como lembranças afetivas —, mas que se perde nos pratos, nos pedidos, ingredientes, temperos e até mesmo no sal. O sabor é insosso e arrisco dizer que sequer nem o mesmo sabor do sucesso anterior de Estômago, que marcou o cinema brasileiro.
Neste novo longa, as decisões tomadas foram erradas demais e prejudicaram uma obra tinha muito potencial, mas optou por um formato que já conversou com o público e falou o que tinha pra falar. Visar o futuro no cinema é o passo principal e essencial para o bom desempenho de uma continuação de uma obra. As expectativas criam-se na comparação e, não superá-las, é um erro fatal para a morte ou declínio desta.
O tempero italiano dá um charme e sofisticação — mas torna-se mais do mesmo
Neste longa nós temos o sabor italiano nas massas, nas pastas e inclusive nos personagens e parte da trama da história. O lado italiano da história caiu muito bem para toda a narrativa e deixou a trama interessante, mas carrega alguns erros de execução, construção dos personagens e alguns erros de conexão com a história que ficaram muito no ar e esqueceram de aterrizar para explicar aos espectadores. A abordagem da itália por fim, deixa mais de agregar à história e passa a atrapalhar nossa experiência. Se por um momento o longa todo se passasse na itália, seria algo mais rentável e que talvez tornasse esta sequência mais inovadora e, principalmente, ambiciosa, visando atingir novos patamares e ganhos históricos.
Apesar de um bom elenco, não temos interpretações surpreendentes
Neste segundo capítulo de Estômago, temos a presença brilhante de João Miguel como Raimundo Nonato, nosso Chef talentosíssimo da prisão que consegue fazer a revolução através do seu cardápio extenso e saborosíssimo. Raimundo é o legado desta obra e, mais uma vez, consegue entregar uma interpretação excelente de um personagem único e peculiar. Mas infelizmente sua presença, ou melhor, a falta dela, foi sentida durante todo o enredo, sendo a sua ausência um ponto que atrapalha muito tanto o desenvolvimento do personagem quanto a evolução e estrutura mais sólida da história.
Como destaque, temos o romance de Nicola Siri e Violante Placido, que fazem jus ao lado italiano da história que conseguem construir uma química boa e entregar boas atuações no longa, inclusive possuem bastante tempo de tela e são personagens decisivos na história. Temos ainda a presença de Paulo Miklos no elenco, que entrega um personagem caricato e desbocado, e até mesmo a presença de inusitados como Projota. No mais, temos personagens que ficam descolados da narrativa como Giulio Beraneck, que traz um ar de vilão italiano de novela do SBT.
O ar de “paródia” deixa o clima do longa como algo a não se levar a sério
O ar pastelão declina o nível da obra e impacta muito no resultado final da obra. Tratando-se de um longa que possui co-produção com a Warner Bros, é tudo o que não queremos. Estômago 2 – O Poderoso Chef perde o seu glamour na produção, talvez pela escolha das locações italianas principalmente, até a escolha do elenco e a condução das cenas e as interpretações que exigiam uma pegada mais perigosa e mafiosa. Acredito que até no lado brasileiro tenhamos algumas dificuldades, principalmente para desenvolver a história na prisão e trazer novos elementos para movimentar a história.
Mas o que atrapalha mesmo, é o ar de paródia que parede estar presente a todo instante, como se partes do filme fossem esquetes do finado Comédia MTV e não conseguíssemos levar a sério os fatos da história. O diretor Marcos Jorge ficou com uma tarefa grande de dedicar-se a um roteiro bem estruturado, a condução do enredo e a interpretação cinematográfica para nós, reles mortais. Talvez esta tenha sido uma aposta alta e arriscada, que só vamos avaliar após seu lançamento e avaliação do público.
Entre comparações inevitáveis, o longa não se supera e fica preso ao passado
Estômago 2 – O Poderoso Chef traz sua aposta para as telas do cinema em 2024, 17 anos após o último lançamento, deixando dúvidas sobre seu objetivo, seu legado e até mesmo seu futuro — que é incerto após ter uma primeira impressão inferior e não tão qualificada. Entre feitos e promessas, o longa que é um novo capítulo da obra incrível que é Estômago, tentará conquistar o coração de fãs apaixonados e emplacar feitos inéditos e uma aceitação do público. Não sabemos como será sua recepção, mas desejo sucesso em seu lançamento e um futuro mais promissor e inovador, sem querer repetir o passado, mas com ambição de triunfar no futuro.
Confira abaixo o trailer de Estômago 2 – O Poderoso Chef, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 29 de agosto de 2024, nos cinemas de todo o Brasil.