

“Emília Pérez”, o novo musical de Jacques Audiard que estreia hoje nos cinemas, prometia ser uma obra audaciosa e inovadora, entrelaçando temas como tráfico de drogas, transexualidade e política social na fronteira entre México e Estados Unidos. No entanto, o que se vê na tela é uma tragédia de contradições, onde a força da temática e do elenco se perde em um emaranhado de escolhas questionáveis e superficialidades. A promessa de um épico musical que abalaria o Festival de Cannes e que pode ganhar assustadoramente vários Oscars em 2025 se transforma em uma experiência frustrante, que nos deixa com a sensação de que algo grandioso se perdeu no caminho.
Sinopse
Emília Pérez narra a história de uma mulher transexual que, ao longo de sua jornada de transição, precisa lidar com os desafios e preconceitos de um mundo que insiste em rotulá-la e marginalizá-la. Em meio a isso, ela se depara com seus próprios conflitos internos, suas inseguranças e medos. A narrativa se desenrola em um contexto social onde a busca pela aceitação e o direito à individualidade se chocam com a rigidez dos padrões e convenções.
Uma atmosfera que não se conecta com o México (e isso é triste demais)
Um dos pontos fracos de “Emília Pérez” é a sua incapacidade de transportar o espectador para o coração do México. Apesar da história se passar na fronteira entre México e Estados Unidos e de haver uma tentativa de retratar a cultura mexicana, o filme falha em criar uma atmosfera autêntica. A fotografia, apesar de tecnicamente bem executada, apresenta um México genérico e estereotipado, com cores vibrantes e cenários exóticos que parecem ter saído de um cartão postal turístico. Essa representação superficial da cultura mexicana impede que o filme estabeleça uma conexão genuína com o país e sua gente, prejudicando a imersão do espectador na história. A sensação é de que o México é utilizado como um mero pano de fundo exótico, sem que haja uma preocupação em retratar a complexidade e a riqueza da cultura local.
Números musicais sem sentido, propósito e sem vida (salvo exceção)
A escolha de transformar “Emília Pérez” em um musical é, sem dúvida, o elemento mais controverso do filme. As canções, em sua maioria, carecem de inspiração e parecem ter sido inseridas na narrativa de forma forçada, sem conexão orgânica com a trama. As letras são fracas, as melodias são esquecíveis e as coreografias são pouco inspiradas. A exceção fica por conta da performance de Selena Gomez, que protagoniza um número musical emocionante e carregado de significado. No entanto, esse momento de brilho não é suficiente para salvar o filme de seu fracasso musical. As canções interrompem o fluxo da narrativa ao invés de complementá-la, criando uma sensação de desconexão e artificialidade.
Selena Gomez tem aparição tímida mas uma performance excelente
Selena Gomez, em sua breve participação em “Emília Pérez”, demonstra todo seu talento e carisma. Sua personagem, Rita, surge como um sopro de esperança em meio à jornada turbulenta de Emília. A performance de Gomez é marcante pela sua sensibilidade e entrega emocional, e sua voz suave e melodiosa se encaixa perfeitamente na canção que interpreta. Apesar de sua aparição ser curta, Gomez deixa uma marca no filme, roubando a cena com sua atuação cativante e sua inegável presença.
Zoë Saldaña assume um protagonismo e carrega o longa nas costas
Zoë Saldaña entrega mais uma atuação impecável em “Emília Pérez”. A atriz se entrega de corpo e alma à personagem, explorando com maestria as nuances e complexidades de uma mulher em busca de liberdade e redenção. Saldaña consegue transmitir a dor, a fragilidade e a força de Emília com uma intensidade impressionante, carregando o filme nas costas e nos fazendo torcer por sua personagem a cada passo de sua jornada. Sua performance é, sem dúvida, um dos grandes destaques do filme.
Karla Sofía Gascón atua brilhantemente, mas a narrativa de ‘Emília Pérez’ não convence
Karla Sofía Gascón, atriz trans mexicana, tem uma atuação brilhante como Emília Pérez. Sua presença em cena é poderosa e marcante, e ela consegue criar uma antagonista complexa e memorável. No entanto, a própria narrativa do filme não faz jus à força de sua atuação, desperdiçando o potencial da personagem em tramas secundárias e pouco desenvolvidas.
Se Emília Pérez não fosse um musical, seria um filme fabuloso e arrebatador
“Emília Pérez” tinha todos os ingredientes para ser um grande filme: uma história envolvente, um elenco talentoso, uma temática relevante e um diretor renomado. No entanto, a escolha de transformá-lo em um musical acaba por sabotar o seu potencial. As canções, em sua maioria, são deslocadas e interrompem o ritmo da narrativa, prejudicando a imersão do espectador. Se “Emília Pérez” fosse um drama convencional, sem os números musicais, provavelmente seria uma obra-prima. Mas, infelizmente, o que vemos na tela é um filme que se perde em suas próprias contradições, desperdiçando a oportunidade de ser algo verdadeiramente grandioso.
Confira abaixo o trailer oficial de Emília Pérez que estreia nesta quinta-feira, 06 de fevereiro de 2025, nos cinemas de todo o Brasil.