Barbie para mim sempre foi a boneca loira perfeitinha, que não se encaixava na realidade preta periférica que foi minha infância. Talvez a Suzy se encaixasse mais, já que era a boneca de baixo custo que mais chegava perto do sonho de possuir uma Barbie. Na verdade o possuir está muito ligado ao fato de ser — e às vezes até parecer ser. Afinal, quem não gostaria de um mundo perfeito todo pintado de rosa? Life in plastic, it’s fantastic. Mas a gente sabe que a realidade vai muito além de ter uma Barbie negra na coleção e sentir alguma representatividade nisso. E mesmo com duras críticas à uma representação superficial da realidade, o longa Barbie (2023), conseguiu trazer discussões importantíssimas em um equilíbrio impecável com a comédia, drama e até mesmo questões sociais, políticas e de gênero. Não precisa me xingar antecipadamente pois vim aqui para ACLAMAR um dos maiores (se não o maior) lançamento deste ano. Vem comigo?
Sinopse
Depois de ser expulsa da Barbieland por ser uma boneca de aparência menos do que perfeita, Barbie (Margot Robbie) parte para o mundo humano em busca da verdadeira felicidade.
Um roteiro autêntico, profundo, hilário, sensível e muito inteligente
É tanta coisa para falar sobre Barbie, que me faltam sentimentos para descrever e adjetivos para incluir em cada um dos aspectos técnicos e narrativos do longa. Vamos começar pela autenticidade que é ponto marcante no longa, trazendo uma originalidade nos diálogos que é de se apaixonar, se encantar e quase pular da cadeira de felicidade. Barbie garante gargalhadas gostosas com as tiradas geniais e as coisas absurdas que acontecem no mundo de plástico, vulgo, Barbieland.
O hilário nos dá espaço para o sensível e profundo também, ao colocar Barbie em situações que questionam as emoções humanas e, principalmente, os problemas de gênero, igualdade, equidade que a mulher enfrenta, além de discussões políticas, socioeconômicas, culturais importantíssimas e que também se fazem presente no filme. Fora as referências do cinema que Greta Gerwig usa com maestria.
Se ela entrega na estética? Oh guys, she’s Barbie!
Na verdade eu nem vou falar muito da estética pois vocês sabem que vai estar tudo lindíssimo. Mas quero só exaltar a produção que fez um trabalho maravilhoso na iluminação do filme (que inclusive, na Barbielândia, foi gravado 100% em estúdio) e, óbvio, exaltar a equipe de figurino que entregou demais em todos os looks (até mesmo dos Ken’s, PASMEM). O ponto alto são os cenários e uma Barbieland toda feita de plástico e um destaque do mundo Barbie no mundo real também, oferecendo um contraste único e vívido.
Uma trilha sonora que abraça o longa perfeitamente
Longe de ser um musical chato e desnecessário, Barbie flui com maestria entre as músicas e entrega uma baladinha envolvente e empolgante, com coreografias que te chamam para entrar na dança com os personagens. Já em outros momentos, temos uma performance cheia de carisma e com o elenco totalmente em sincronia e afiado na coreografia. Além disso, o que mais deixa a trilha sonora tão especial são as letras das músicas, que funcionam como uma extensão do roteiro, trazendo ainda mais sentido para as cenas e deixando os personagens ainda mais carismáticos e hipnotizantes. Definitivamente, um elenco de estrelas que nasceram para brilhar.
E Barbie mostra também que não foi feito apenas para festejar. Se você espera não chorar, prepare o lencinho pois o longa também emociona muito. Uma música que toca profundamente na alma é What Was I Made For?, de Billie Eilish, que por sinal, tem uma letra perfeita, melodia belíssima e vocais perfeitos. Alguém discorda? Pois discorde aí na sua casa.
He’s just Ken
Ele é apenas Ken — a representação mais clara e fiel à imagem do homem que mais tem músculos do que cérebro. O patriarcado trabalha silenciosamente e disfarçadamente aqui. Embora Ken seja quase um acessório para Barbie e, praticamente, um poço de crise de identidade, este tem o papel de mostrar todas as nuances do submundo de masculinidade (tóxica) e virilidade que é ainda mais absurdo que um mundo rosa superficial e de plástico.
E você realmente acha que Barbie será superficial?
É o que mais tenho ouvido a respeito, como se uma boneca de plástico que veste rosa fosse o maior problema mundial de 2023. Quem dera tivéssemos uma catástrofe cor-de-rosa iminente. Já checou se suas barbies irão participar da dominação mundial? Bom ficar de olho se ela não está tramando contra você.
Concordo que Barbie é uma das maiores contradições da face da terra. Sua superficialidade maquiada em tons de rosa traz o mundo ideal que gostaríamos de viver, e o ideal que gostaríamos de ser. Mas por qual motivo essa perfeição incomoda? É uma das tantas perguntas que o longa responde através de cenas com diálogos profundos e cheios de sensibilidade, além de humor pra gente rir da vida real e se deleitar com os problemas humanos que nos rodeiam.
Margot Robbie é a chave para o sucesso do longa — assim como todas as outras atrizes
A atuação de Margot Robbie deixa um quentinho no coração de uma Barbie que vai eternizar a imagem da maior boneca do mundo na tela dos cinemas. Os movimentos, trejeitos, emoções e o sorriso perfeito nos encantam a todo momento. E o carisma de todas as Barbies? É simplesmente o que deixa o filme cheio de vida, com uma atuação excelente de todas as mulheres, que entregam talento, originalidade, inteligência e senso de comunidade.
Além de Margot, temos um brilho único, claro, da nossa maravilhosa Barbie Presidente, interpretada por Issa Rae; da Barbie Estranha, interpretada por Kate McKinnon; e do carisma sem igual de America Ferreira e Ariana Greenblat, que interpretam mãe e filha e dão ainda mais vida para o longa, trazendo um sentimento de familiaridade e identificação para o filme. A escolha de America como Gloria foi um acerto excelente para o filme e digo isso com tranquilidade.
Barbie é obrigatório para todas as mulheres (e homens também)
Se você ainda acha que Barbie é perda de tempo, um filme irrisório, fraco e sem propósito, não sou eu quem vai te convencer do contrário pois não estou aqui pra isso. Mas o que posso dizer é que este longa é importantíssimo para toda e qualquer mulher na face da terra. Não de todas as idades, pois a classificação indicativa do filme é a partir dos 12 anos de idade, então não, não é para crianças. Se algum pai ou mãe reclamar, você já sabe o que falar. Mas além de mulheres, os homens também se incluem no público, já que precisam de um choque de realidade para entender que nem tudo é sobre o Ken eles pensam que é.
Barbie além de abordar com leveza e humor a feminilidade como um todo, traz reflexões importantes sobre a batalha árdua e pesada da mulher no mundo, oferecendo um espaço de desconforto para tratar de forma sensível, verdadeira e confiante tudo o que as mulheres precisam saber para entender que, quem precisa mandar no mundo, são elas.
Já separou o look Barbiecore?
Pois este é o momento de você servir nos looks para estréia de Barbie nos cinemas. Se a sua rua, seu feed, seu guarda-roupa ou até mesmo sua mãe não ficou rosa, você não está vivendo essa fase Barbie do jeito certo. Aliás, não aguento mais ver comida cor-de-rosa no meu feed. Parem de acabar com estoque de corante alimentício rosa no mercado para colocar no miojo, eu imploro.
Barbie é, sem dúvidas, o maior ato do cinema em 2023. Coerente, profundo, hilário, inteligente, autêntico, envolvente e impecável. Ele vai muito além de plástico e conversa com a realidade, contradição e com as emoções de um jeito lindo e amável. Barbie é um longa para rir, chorar, se divertir, refletir e tirar as coisas do lugar para que façam mais sentido (ou não façam). É para te fazer pensar que não estamos muito distantes de uma metáfora de plástico, que veste rosa e é cheia de glamour. Você vai entender, definitivamente, que a busca pela nossa essência, força e identidade nunca pode acabar, e se você acha ou tem certeza que chegou ao fim, acredito que se enganou. Boa viagem até Barbieland para você.
Confira abaixo o trailer de Barbie (2023), que estréia nos cinemas nesta quinta-feira, 20 de julho de 2023.