Movimentar a indústria de heróis é uma tarefa para corajosos. Quando temos um padrão altíssimo de comparação, o movimento se torna arriscadíssimo em nível de bilheteria mundial. O que mais ouço falar é que, mais uma vez, a DC tenta entregar uma produção Marvel. Já eu entendo que cada um tem seu universo e que, comparação, é coisa pra tratar na terapia. Mas além das discordâncias, talvez as comparações vagas possam representar a frustração de presenciar clichês de herói em um longa que poderia romper com as barreiras do previsível. Confesso que sou do time que, se for pra fazer, que faça bem feito. Mas não sabemos se a DC está preparada para esta conversa. De toda forma, Adão Negro está entre nós e busca um lugarzinho entre tanta expectativa e ansiedade fervorosa por um novo herói – e vai ter que conquistar isso na base da porrada.
O longa Adão Negro (Black Adam, 2022), conta a história de Teth Adam, um escravo da antiga Kahndaq que recebeu poderes dos deuses, mas ao usá-los para vingança, é aprisionado por cinco mil anos. Agora libertado, retorna para lançar sua justiça sobre a terra.
Um roteiro tímido e com pouca profundidade
O mal da humanidade é ainda escrever roteiros previsíveis para filmes de herói. Adão Negro traz uma sequência de clichês extremamente clássicas em longas do gênero, o que promove um ritmo morno, bastante parado em alguns momentos e que tende a encontrar as soluções mais óbvias possíveis para os problemas. Na hora de contar a história com mais riqueza de detalhes, talvez tenhamos um ponto positivo. Mas não impressiona ao entregar a sequência dos fatos e peca ao não se aprofundar em flashbacks. Talvez um erro maior ainda é não oferecer uma personalidade concreta e bem estrutura tanto para o filme quanto para os personagens. Falta diálogo, conexão de falas, contexto, coesão de conversas e profundidade em todos os aspectos.
Um show DC de ação e efeitos especiais
Já a direção de Jaume Collet-Serra (Jungle Cruise) e fotografia de Lawrence Sher (Coringa), não decepcionam ao conduzir cenas épicas de ação e confronto, além de não economizarem nos efeitos especiais. Achei incrivelmente interessante como foram trabalhados os detalhes dos poderes tanto de Adão Negro quanto da Sociedade da Justiça. Adão invade as cenas para dar soco em quem tiver pela frente – julgando o tamanho do homem que é The Rock, creio que deu medo de mexer com o cara no set de filmagem, de tão imponente que sua imagem transparece no longa –, enquanto Senhor Destino nos dá um vislumbre surpreendente do seu poder nas cenas, que trazem efeitos lindíssimos; temos efeitos cheios de elegância da Ciclone frente a presença do Esmaga-Átomo que destaca-se na tela do cinema também.
Personagens ainda crus – mas com potencial gigantesco
Adão Negro é um bebê que acaba de nascer. Mas se tratando da nossa amada Sociedade da Justiça, temos alguns pontos importantes para discutir. Para começar, quero dizer que nosso Gavião Negro (Aldis Hodge), é simplesmente um homem de presença. Gavião infelizmente não foi muito valorizado no longa e poderia ser melhor aproveitado na narrativa. Mesmo assim, entregou bem na história.
Senhor Destino eu simplesmente fiquei encantado. Pierce Brosnan (007: Contra GoldenEye), realmente entregou um personagem que trouxe peso para a história, além de oferecer um verdadeiro show de magia, atuação e papel importante na narrativa. Definitivamente, uma das melhores participações no longa.
Por último, temos Esmaga-Átomo (Noah Centineo), que serviu como um alívio cômico desastrado para a história. Definitivamente um herói que precisa de uma melhor evolução na DC. Frente a isso, temos Ciclone (Quintessa Swindell), que prometeu um pouco mas não entregou o suficiente. Sinceramente, espero que Ciclone tenha ainda mais destaque e talvez seja melhor trabalhada, pois seu valor pode ser inestimável para um longa da DC. Veremos onde isso vai dar.
Adão Negro também é política – com uma excelente abordagem
A junção de herói com política, para mim, não é uma má ideia. O longa aborda muito bem as questões sociais e políticas aliadas aos ideais de Adão Negro. Na verdade achei um excelente contraponto trazer temas como opressão, governos ditatoriais, controle da sociedade, monopólio e poder para este filme. Além da riqueza histórica de Kahndaq e também o passado de escravidão que ainda mostra suas marcas no futuro, o filme trabalha muito bem com esses elementos históricos e conecta isso diretamente com o personagem principal. Acredito que este será um ponto de diferencial e que pode ser ainda mais desenvolvido na saga de Adão Negro dentro da DC.
The Rock é grande demais para um herói ainda básico
Após passar 5 mil anos na barriga da mãe, Adão Negro nasce e fica deslocado na sociedade – entenda. É o que diria uma revista de fofoca de Kahndaq. Embora seja entendível a proposta de construção do herói, ainda temos um personagem tímido para cruzar com a personalidade, presença e figura tão grandiosa que é The Rock. Talvez o erro é nos acostumarmos com personagens anteriores do ator que entregam carisma de sobra nos filmes? Talvez sim. Mas não é pedir muito termos um herói grandioso capaz de ocupar a tela do cinema com sucesso. Grandão sem medo que chama, né. No mais, temos o charme e o carisma que Dwayne Johnson passa até no olhar. Ele foi o acontecimento deste filme e cumpriu seu papel muito bem.
Adão Negro é o começo de algo maior, talvez?
Torcemos para que sim. Adão Negro apesar dos pesares, entregou um bom longa para a DC. O filme carregou muitas expectativas durante as últimas semanas e principalmente questionamentos de “será que vem aí”. Bom, veio aí e acredito que com muita força para ocupar um lugar especial no coração dos amantes da nossa perfeita DC Comics. Acredito que o especial nisso tudo, é saber que Adão Negro fará parte de algo maior que presenciamos neste primeiro longa. A entrada do herói para universo DC trará ainda muitos babados para acontecerem. Mas enquanto este momento não chega, o almoço está servido. Vamos almoçar?
Confira abaixo o trailer oficial de Adão Negro (2022), que estreia nos cinemas nesta quinta, 20 de Outubro de 2022.
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