É o melhor da força de Ogum. O orixá guerreiro das batalhas, da coragem, da proteção e da vitória. É a representação maior da guerra na África Ocidental – já que em iorubá, Ogum significa guerra. É carregando o poder de uma divindade de origem africana, que temos a história memorável e real das grandes guerreiras Agojie, um exército composto apenas por mulheres que protegiam o reino africano de Dahomey nos anos 1800. Com um espetáculo audiovisual a parte, A Mulher Rei celebra o protagonismo da mulher preta no cinema, trazendo a imponência de Viola Davis e o talento de grandes atrizes para construir uma obra digna de Oscar – e quase 100% de aprovação no Rotten Tomatoes.
A fotografia preta é o que emociona
A pele negra irradia e brilha com toda sua força na tela do cinema. É simplesmente um trabalho cheio de maestria que a estética e visual que A Mulher Rei carrega. Começando pela pele tomada por uma espécie de óleo que as guerreiras Agojie usam como técnica de combate – o que intensifica ainda mais a cor da pele negra em sua totalidade. É lindo ver a riqueza que a cor da pele nos traz através do cinema. Sem dúvidas, foi de arrepiar vê-la sendo muito bem valorizada em conjunto com uma história poderosa.
Uma narrativa clássica, porém assertiva
A Mulher Rei se segura em elementos narrativos que são bastante clássicos no cinema – mas entendo que, com uma história real por trás, ficamos esperando talvez um novo Pantera Negra (Marvel, o que você está fazendo comigo?), mas tenha calma. Com roteiro de Dana Stevens, o longa trabalha muito bem com os elementos narrativos em uma ordem cronológica perfeita, além de trazer bem os flashbacks e contar a história com assertividade, em um ritmo nada acelerado e bem pontuado.
Viola Davis entrega-se por completo
Desde o treinamento para ser a General Nanisca, líder das Agojie, Viola Davis junto às atrizes do filme entregam-se de corpo e alma para a história do filme e a história da África Ocidental. É simplesmente lindo ver a demonstração de força em sua pura forma nas cenas de luta, combate e guerra que, em especial, Viola Davis mostra que está pronta para moer na espada todos os inimigos que ousam invadir e violar o reino de Dahomey.
Sabemos que Viola tem uma entrega grandiosa no cinema em tudo o que se prontifica a fazer. Ela é gigante demais para qualquer papel. Mas em A Mulher Rei, acredito que temos Nanisca como uma extensão de Viola Davis em sua totalidade – sua força, resiliência, bravura, orgulho e sua forma mais bem representada de uma mulher negra que carrega a história de seu povo – e faz o seu melhor com ela. Nanisca incendeia a tela do cinema em todas as suas batalhas para vencer. Sua conquista é merecida. É a conquista do protagonismo em um longa à altura – que renderá mais um possível Oscar para nossa maioral, Viola Davis. Viola, eu estou com você.
O elenco de mulheres é o alicerce da obra
Simplesmente encantando pelas atuações perfeitas de atrizes de peso. A Mulher Rei nos presenteia com talento de sobra de mulheres negras grandes demais para a tela do cinema. Além da menção honrosa a nossa majestade Viola Davis, temos destaques merecidos para Lashana Lynch, que interpreta Izogie, uma comandante cheia de bravura e inspiradora; Amenza (Sheila Atim) que carrega uma sabedoria imensa; e a jovem Nawi (Thuso Mbedu), que entrega um protagonismo grandioso para o filme ao lado de Viola. Nawi brilhou em todos os momentos e com certeza irá lhe emocionar ao apresentar sua bravura de uma verdadeira Agojie.
Uma representação cultural impecável
Desde elementos culturais que contam a história com riqueza nos detalhes, até rituais, danças e costumes. Começo pelos figurinos que fiquei simplesmente encantado. A construção dos uniformes das Agojie se entrelaçam com a história do filme, trazendo características peculiares em cada cena – a identidade cultural é o maior peso que um filme pode carregar, e A Mulher Rei está muito ciente disso ao nos presentear com a representação da guerra nas armas, na armadura, nas cores e na África Ocidental em cada detalhe.
Além da representatividade através das Agojie, temos a riqueza muito bem trabalhada nos figurinos do rei Rei Ghezo (John Boyega), que eu simplesmente quero para mim – decidi isso ao ver tantas joias simplesmente surreais e o trabalho minucioso nos tecidos reais em vestes cheias de dourado. É a riqueza da África Ocidental traduzida em um filme que honra isso culturalmente.
É para se arrepiar do começo ao fim
E vibrar com uma celebração tão grande na tela do cinema. A Mulher Rei é uma obra que transcende a ficção e nos imerge em um pedaço da história que, até então, era desconhecida. As peculiaridades culturais tão representadas na obra são de uma grandeza imensa para quem é apaixonado pelos fatos históricos, pela riqueza cultural da África Ocidental, pelo culto aos nossos ancestrais e as grandes divindades. Para mim, carrega um tesouro para quem tem consciência da sua cor. É a força, a luta, a conquista e a vitória na arte que imita a vida – e na vida que imita a arte. O filme é uma experiência única para todos. É Viola Davis. É Lashana Lynch. É Thuso Mbedu. É Sheila Atim. É Ogum e toda a África Ocidental.
Confira abaixo o trailer oficial de A Mulher Rei (2022), que estreia nos cinemas nesta quinta, 22 de Setembro de 2022.