

No fim de 2025, chega aos cinemas uma daquelas surpresas que aparecem de mansinho e, quando você percebe, já está sorrindo sozinho na poltrona. ‘Entre Nós – Uma Dose Extra de Amor’ se apresenta como “mais uma comédia romântica”, mas logo revela algo muito mais ousado, afiado e emocional do que o título brasileiro sugere. A vibe parece leve, porém o que se desenrola é uma história sobre desejo, limites, responsabilidades e o tipo de caos afetivo que todo mundo já viveu e se não viveu, ainda vai.


Faíscas, confissões e o labirinto depois do prazer
O ponto de partida é direto e cheio de faíscas: três adultos, dois na casa dos trinta e poucos e uma mais jovem, embarcam em uma noite impulsiva de sexo a três. Connor, apaixonado por Olivia desde sempre, segue sua rotina meio sem rumo até que surge Jenny, conhecida num bar, e o trio decide aproveitar o momento. Só que o momento decide aproveitar o trio de volta. As consequências vão muito além do esperado e transformam a fantasia moderna em um terreno cheio de conversas delicadas, inseguranças inesperadas e decisões que colocam a vida adulta dos três em xeque.
O filme brinca com clichês conhecidos, mas nunca se apoia neles como muleta. Triângulo amoroso, melhor amigo gay que ilumina o ambiente, idas e vindas emocionais, personagens que você reconhece à distância, tudo isso aparece com propósito. O roteiro de Ethan Ogilby usa o humor seco e os diálogos afiados para revelar camadas que fogem da fórmula rápida. É justamente nessa mistura de desconforto, ternura e surpresa que o filme encontra seu ritmo, convidando o espectador a se colocar no centro do redemoinho junto com o trisal.
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Direção precisa e a força do elenco central
A direção de Chad Hartigan também foge do óbvio. Nada de exageros ou cenas escancaradas. A noite que dá origem a toda essa confusão é filmada com uma delicadeza quase cúmplice, como se fosse um segredo compartilhado apenas entre os envolvidos. Depois disso, a montanha-russa emocional se instala. Olivia precisa lidar com seus ciúmes que aparecem sorrateiros; Jenny tenta conciliar expectativa e realidade enquanto o mundo muda ao redor; e Connor descobre o que acontece quando a vida te convida para o olho do furacão sem deixar bilhete na porta.
O trio central funciona com uma química que pulsa. Zoey Deutch domina cada cena com a energia que já virou marca registrada, enquanto Ruby Cruz entrega sutilezas que transformam uma personagem aparentemente simples em alguém muito mais interessante. Jonah Hauer-King cresce junto com a própria trama e guarda seus melhores momentos para quando a história exige pé no chão. Até os coadjuvantes entram na dança com charme, como Greg, sempre pronto para recolher os cacos emocionais do grupo com uma piada precisa.


Quando pequenos momentos viram histórias que ficam
No fim das contas, Entre Nós revisita um tema bastante explorado, mas encontra um jeito sensível e divertido de reinventar o caminho. É romântico sem melar, engraçado sem cair na bobeira e, acima de tudo, profundamente humano. Mostra como uma noite pode virar um redemoinho que suga todo mundo, mas também como relações inesperadas podem revelar afeto, força e um tipo quase secreto de esperança no meio da confusão.
O título brasileiro até tenta desviar o público, mas o filme entrega uma história que conversa com a vida real, com seus tropeços, sustos, gargalhadas e aquela carga extra de responsabilidade que chega sem convite. No fim, é uma daquelas dramédias que ficam rondando a cabeça por dias e lembram que crescer, muitas vezes, é só aprender a lidar com as consequências de momentos que pareciam simples demais para darem tanto trabalho.
Assista o trailer oficial de ‘Entre Nós – Uma dose extra de amor’:
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