

É impossível não entrar na sessão de Morra, Amor com aquele entusiasmo quase infantil, afinal, Jennifer Lawrence e Robert Pattinson juntos já valem o ingresso. Some a isso Sissy Spacek, Nick Nolte e uma campanha que prometia mais calor do que a temperatura do Recife em fevereiro. Porém, apesar da crítica lá de fora ter aplaudido, a experiência foi… complicada. O filme é arrastado, não decide qual caminho quer seguir, e a certa altura eu já estava me perguntando se a própria narrativa também estava lidando com um quadro de confusão mental.
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Jennifer Lawrence brilha, mesmo cercada pelo caos
A premissa até promete: uma mulher isolada na zona rural americana tenta manter a sanidade enquanto lida com a maternidade, um casamento sufocante e uma psicose que só piora. Jennifer Lawrence interpreta essa personagem com uma entrega física e emocional impressionante. Você consegue sentir até mesmo o peso no olhar, nos gestos e nas respirações. O livro que deu origem ao filme, quando caiu nas mãos de Martin Scorsese, acendeu um alerta imediato: ele recomendou para Jennifer, que virou produtora e chamou Lynne Ramsay para dirigir. O interesse dela pelo papel é óbvio, ainda mais porque há ecos claríssimos de Mãe! (2017). E seguindo essa linha de raciocínio também não é um filme fácil de digerir.
A bagunça começa na estrutura: flashbacks, sonhos, delírios, presente, passado, tudo jogado na tela sem muita cerimônia, mas em vez de imergir, você fica desorientado, e não daquele jeito intencional que enriquece a experiência, mas de um jeito meio “onde é que eu entrei?”. A tentativa de retratar um quadro de psicose ou depressão pós-parto é válida, mas a construção da personagem é tão dispersa que fica quase impossível ter empatia.
Entre flashbacks, delírios e falhas de roteiro
Além disso, o filme parece esquecer algumas peças no meio do caminho. Em um momento, o personagem de Pattinson trabalha sem parar, no seguinte, passa dias em casa. Lakeith Stanfield existe ou é fruto da imaginação dela? Não há explicação, não há sequer um momento em que as cenas e a sua presença se conectam. Não há vestígios para serem interpretados. E quando você pensa que o filme vai finalmente encerrar o assunto, ele revela um novo “último capítulo”. Várias vezes.


Será que uma atuação forte é tudo que basta em uma obra?
Mas nem tudo está perdido. O elenco sustenta o filme com dignidade. Especialmente Jennifer, que mergulha sem medo na vulnerabilidade, na nudez, no ridículo e até nos surtos. Ela está indicada ao Gotham, Astra e BIFA, e deve aparecer no Globo de Ouro e no Critics Choice. Já o Oscar…
Jennifer Lawrence brilha, mas Morra, Amor pede muita paciência… Tem grandes atuações e ideias interessantes, mas se perde num labirinto emocional que exige demais do espectador. Jennifer Lawrence merece todos os elogios. O filme ao redor dela, nem tanto. Querendo ou não, é daquelas obras que você respeita mais do que curte.
Assista o trailer oficial de ‘Morra, amor’:
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