

GOAT (HIM), dirigido por Justin Tipping e produzido por Jordan Peele, é um thriller psicológico que leva o futebol americano para um território raramente explorado: o do terror. Com 96 minutos intensos, o filme acompanha Cameron Cade (Tyriq Withers), um jovem atleta que, após sofrer um traumatismo craniano, pode ver sua carreira encerrar antes mesmo de florescer. A salvação parece vir quando Isaiah White (Marlon Wayans), lendário quarterback oito vezes campeão, o convida para treinar em seu complexo isolado, ao lado da enigmática esposa Elsie (Julia Fox). Mas dessa proposta logo se revela um pacto sombrio.
A marca registrada de tudo o que Jordan Peele coloca as mãos aparece logo de cara: o terror aqui vai além do visual, ele também é social. GOAT (HIM) revela como corpos negros e não brancos são celebrados no esporte, mas sempre dentro de um espaço delimitado pela branquitude. São permitidos no campo, idolatrados nos momentos de vitória, mas ao mesmo tempo aprisionados em uma engrenagem que lucra com seu talento e os descarta quando já não servem. Essa camada dá ao filme uma sofisticação que o afasta de qualquer clichê de terror esportivo.
Leia também: ‘A Hora do Mal’: Zach Cregger cria um novo clássico do horror! {Crítica}


O Terror físico do treino se torna um espetáculo estético
Um dos maiores trunfos do longa está na forma como transforma o treino em espetáculo de horror. A disciplina rígida, os exercícios quase coreografados e o peso do corpo em sofrimento lembram muito a lógica ritualística de Suspiria, só que adaptada ao universo masculino e heterossexual, que infelizmente ainda é muito reproduzido no mundo dos esportes. O espectador sente na pele o cansaço, a dor e o desconforto, como se o campo de treino fosse uma espécie de altar de sacrifício.
Visualmente, GOAT (HIM) é um filme muito bonito. A direção de arte aposta em contrastes entre o brilho dourado da glória esportiva e a escuridão sufocante do isolamento. A fotografia e a maquiagem lembram produções como American Gods e 300, reforçando um tom quase mítico para o filme.
Uma narrativa batida, mas bem interpretada em GOAT
A trama do mestre que se revela mais sombrio do que aparentava é um recurso já explorado inúmeras vezes, ou seja, não chega a reinventar o gênero. Mas o diferencial está em como essa narrativa é embalada: crítica racial, pressão social, obsessão pela perfeição e a transformação da glória em algo perturbador. É nesse equilíbrio entre discurso e estética que o filme encontra certa força.


Quem rouba a cena no quesito atuação é Marlon Wayans. Por ser mais conhecido pela comédia, ele surpreende em um papel dramático e intenso, equilibrando carisma e ameaça em uma performance que prende o espectador. Tyriq Withers até que segura bem o protagonismo, levando em consideração que ele precisa retratar um jovem dividido entre a ambição e o medo. Já Julia Fox repete o arquétipo de “it girl”, meio que a web diva faz da sua personagem uma presença performática, uma influenciadora que parece existir apenas para reforçar o culto em torno da imagem.
Grandeza exige sacrifício
Por fim, GOAT (HIM) não cria nada radicalmente novo, mas encontra um lugar interessante para Justin Tipping se introduzir melhor no mundo dos longas-metragens (se eu não me engano, ele só tinha dirigido o longa ‘Kicks’, de 2016, até então). O diretor se apega no cruzamento entre disciplina, culto à fama e crítica racial, ou seja, um terreno fértil para o medo (infelizmente). O visual é marcante e as atuações são boas, é um filme que vai dividir opiniões, mas dificilmente vai deixar o público indiferente.
A estreia acontece hoje, 2 de outubro, nos cinemas do Brasil. E aí, ficou com vontade de assistir?
Assista ao trailer oficial legendado de GOAT:
Nos siga no instagram: @desconstruindooverbo