Em suas divulgações o negócio prometia ser quente — pelo menos era o que mostravam as imagens fetichizadas de mais dois branquelos protagonizando mais um romance do mesmo diretor de Me Chame Pelo Seu Nome (2017), embora eu ache superestimado e prefira mil vezes o longa Azul Cobalto (2022), que possui uma sensibilidade atroz e uma estética arrebatadora. Mas enfim, após nos entregar uma obra apaixonante, enérgica e perfeita que foi Rivais (2024) e que você pode conferir aqui a crítica, Luca Guadagnino chega aos cinemas agora com Queer, uma adaptação da obra literária de William S. Burroughs. E aí você me pergunta, o que esperar deste longa? Bom, digo pra não ficar muito animado e preparar-se para momentos tediosos, melancólicos, aleatórios e psicodélicos.

Sinopse

Na Cidade do México de 1950, William Lee, um expatriado americano solitário, vive à margem, limitado a encontros ocasionais com sua pequena comunidade. Tudo muda com a chegada de Eugene, um ex-soldado. Juntos, eles exploram a chance de uma conexão íntima, que desafia o isolamento e as cicatrizes do passado.

De melancólico, monótono e arrastado, a surreal, audacioso e exagerado

Este longa caminha por inúmeros sentimentos, visões e compreensões. No início, o tédio toma conta da tela e é difícil esperar algo de um enredo que parece monótono, arrastado, um pouco clichê demais e sem nada a acrescentar. De repente, torna-se uma aventura tímida com poucas cenas de aproveitamento e um período na selva com planos fechados, personagens aleatórios e incompreendidos, momentos cômicos e bizarros e uma viagem psicodélica regada de ayahuasca. “Queer” tem camadas e mais camadas, porém todas parecem bastante desconectadas uma da outra.

Daniel Craig traz um personagem intenso, complexo e transformador

Lee é um personagem irritante, angustiante, ansioso, arrogante, intenso, apaixonado, amoroso e transgressor. Apresento-lhes um personagem cheio de camadas e com uma leitura complexa para o público. Confesso que o achei por muitas vezes deselegante e imaturo, mas é aí que Luca Guadagnino consegue impressionar ao deixar de lado o superficialismo e mostrar a essência do personagem. É a empatia que começa a se fazer presente e fazer sentido para com o personagem, que muda o jogo e cria uma conexão genuína com Lee.

Daniel Craig navega por águas profundas e intensas com o personagem e vai além disso, mostrando principalmente suas vulnerabilidades. Acredito que isso é o que faz deste personagem fascinante, tornando-o o ponto alto do filme que, apesar de se perder no enredo e tentar ser diruptivo demais, consegue encontrar na atuação de Daniel Craig e na profundidade do personagem um ponto de equilíbrio e a salvação de uma obra — mesmo que esta seja branca demais.

Já Drew Starkey, serve apenas como objeto de prazer e fetiche

E isso é triste pois, Allerton, o personagem de Drew Starkey, poderia ter um pouquinho mais de tempo de tela seja para contextualizar sobre o personagem, apesar de entender a decisão do diretor em manter um certo mistério sobre quem é Allerton, o que pensa e como pensa. Neste ponto temos subjetividade, mas o que fica explícito mesmo é a fetichização do branco padrão cheio de inocência, ingenuidade, aquele branquinho que se complementa com um daddy, sabe? É esta a visão que temos ao ver o personagem de Allerton ao lado de Lee. O fato é que temos algo que corrobora com os padrões gays que a comunidade ama, e disso a única crítica (principalmente no twitter) que talvez tenhamos, é de não termos a exibição dos protagonistas com nudez total, o que o diretor optou por preservar e transferir este papel para outros personagens no elenco.

“Queer” tenta ser intenso, vivo e inspirador, mas perde-se num mar de exageros

A tentativa foi válida, confesso. A tentativa de entregar um romance queer que foge do comum e cria um rebuliço de sentimentos, traz um amor catastrófico, uma paixão platônica irremediável e um desejo avassalador. De certa forma Luca Guadagnino traz sua essência para este longa, que naturalmente tem sua assinatura e seu jeitinho único de apresentar relações disruptivas sem tabu e preconceitos.

O que acontece foi que, em Queer tivemos inúmeros pontos que mais deixam o filme desinteressante e envolto de clichês, do que surpreendem e conectam-se com o público de alguma forma. O exagero em subjetividade e a melancolia desmedida contribuem para uma obra que deixa um gostinho de “faltou tempero, algo a mais”. Parece que falta uma parte, algo essencial seja para os personagens ou seja para a história. E para ajudar, os clichês tornam esta obra menos especial, mas genérica e com problemas de formar algo enriquecedor, conectável e compreensível. Faltou cor, detalhe e mais amor.

Confira abaixo o trailer de “Queer” que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 12 de dezembro de 2024.

Escrito por

Alison Henrique

Publicitário, Empresário, Dançarino, Cantor, Estudante de Filosofia e, claro, APAIXONADO por Cinema, Arte, Música e Livros. Crítico de Cinema aqui no {Des}Construindo o Verbo com muito sentimento, emoção e boas reflexões pra gente mergulhar nas obras do cinema contemporâneo. Seja Ficção, Drama, Romance, DC, Marvel, Ficção Científica, Bom, Ruim, Médio ou Péssimo. A gente sempre vai se encontrar por aqui pra discutir um pouco sobre tudo. Instagram: @alisonxhenrique.