Embora eu não seja um grande cosumidor de filmes de terror, é inegável que esse gênero se destaca pela sua incrível capacidade de se reinventar ao longo do tempo. A cada nova obra, ele nos surpreende com abordagens cada vez mais criativas e originais. Claro, como tudo na vida, o terror tem seus altos e baixos, mas é inegável que, nos últimos anos, especialmente a partir do final da década passada, o gênero deu um salto significativo em termos de força e impacto, muito disso graças ao talento de visionários como Jordan Peele. Filmes como “Corra!”, “Nós” e “Não, Não Olhe” trouxeram uma vibe fresca para o gênero, especialmente por trazer personagens negros no centro das tramas, coisa que não acontecia muito. Se não fosse esse impacto de Peele para indústria, definitivamente não teríamos filmes como “The Blackening”.
Se nos filmes de terror tradicionais, o personagem negro muitas vezes era o primeiro a dizer adeus, “The Blackening” dá uma virada nessa tradição. Pegando como base o curta-metragem do trio cômico 3Peat, o filme parte do principio de “Se em filmes de terror o primeiro personagem a morrer é sempre o negro, o que aconteceria se todos o elenco do filme fosse negro?” e nos leva para uma cabana isolada na floresta onde um grupo de amigos se reúne para uma festa de junho. Só que, ao invés de só curtir a festa, eles acabam tendo que lidar com um assassino misterioso. O resultado é uma aventura hilária e cheia de reviravoltas.
Leia também: Mansão Mal-Assombrada: uma aventura gostosa em um clássico “Sessão da Tarde”
O retorno das satiras de terror?
Há algum tempo, vinha sentindo falta daquelas comédias que satirizam dos filmes de terror, como “Todo Mundo em Pânico” e “The Blackening”. E adivinha só? “The Blackening” parece ser como uma versão atualizada dessa mesma vibe! Além de proporcionar boas gargalhadas, o filme também se destaca quando o assunto é a linguagem cinematográfica. Claro, ele não atinge o patamar das obras-primas de Peele, como “Corra!” e “Nós”, mas ainda assim é incrivelmente divertido, com uma abordagem criativa que já conquista desde o início.
Sob a direção de Tim Story e o roteiro afiado de Tracy Oliver e Dewayne Perkins, “The Blackening” brinca com elementos de algumas das franquias mais icônicas do gênero, como “Pânico”, “Sexta-Feira 13” e “Jogos Mortais”. Uma das maiores forças de “The Blackening” é sua habilidade de misturar habilmente tensão e momentos cômicos. O filme se estabelece como uma comédia slasher, levando o público por uma montanha-russa emocional de sustos e risadas. A habilidade dos cineastas em equilibrar esses elementos é impressionante, mantendo o público entretido e engajado ao longo de toda a jornada.
Elenco carismático, lindo e talentoso
O elenco carismático é um dos pontos mais brilhantes do filme, com uma química incrível e um timing de comédia muito bem ajustado. Cada membro do elenco traz uma dinâmica única, criando um ambiente onde as interações parecem autênticas e espontâneas. As piadas fluem de maneira natural e descontraída, proporcionando momentos genuinamente engraçados que nos fazem rir junto com os personagens. A forma como eles interagem cria uma atmosfera envolvente e cativante, até mesmo nos momentos mais intensos do filme.
Em poucos minutos, é impossível não se afeiçoar aos personagens e torcer para que todos sobrevivam à ameaça sinistra que paira sobre eles. Entre eles, Isa e Nnamdi, que se reencontram depois de uma separação de uma década, trazem uma dinâmica complexa e emocional ao enredo. Enquanto isso, King busca deixar para trás seu passado de gangsterismo, Shanika e Allison estão em busca de diversão e descontração, e Cliffton, o nerd do grupo, luta para se encaixar. Conforme a trama se desenrola, os personagens se veem no meio de um jogo de gato e rato com o assassino. Essa diversidade de personalidades cria uma dinâmica fascinante e torna cada personagem memorável à sua maneira.
Texto sagaz e cheio de referências
“The Blackening” tem um texto rápido cheio de referências e piadas e ele é tão sagaz, que se você não tá por dentro das coisas vai acabar perdendo, aliás acredito que muitas das piadas só pessoas negras vão sacar. Além disso, o filme é repleto dos clichês de terror, mostrando como personagens negros reagiriam a essas situações, destacando a resiliência e a inteligência que frequentemente são subestimadas em filmes similares. É um testemunho da maneira como o cinema pode subverter expectativas e empoderar grupos historicamente marginalizados, ainda assim de forma extremamente engraçada.
“The Blackening” não tenta reinventar a roda e causar um grande impacto no gênero ou no cinema, os mistérios por trás da trama são bem previsíveis e em poucos minutos já é possível descobrir não só a identidade do assassino.mas também suas motivações, acredito até que essa previsibilidade seja intencional. No final das contas isso é só mais um detalhe, “The Blackening” é aquele tipo de filme onde é mais interessante ver as reações dos personagens às situações aterrorizantes em que se encontram, do que quem os colocou nelas.
Não dá pra chamar “The Blackening” de obra-prima do terror, mas com certeza é um filme que merece um lugar na sua lista. Já que representa um novo frescor para as paródias de terror, combinando elementos de comédia e horror, o elenco cativante e à representação comica, mas digamos genuina, de personagens negros em filmes de terror fazem deste um filme que vale a pena assistir repetidas vezes. É aquele tipo de filme perfeito para você assistir com os amigos e dar boa risadas.