Confesso que não quero falar como um fã da Gaga pouco exigente (sou Little Monster assumidíssimo), mas também não pretendo desmerecer uma obra que entrega beleza e carisma indiscutíveis. Absorvi, interpretei e processei muito minha percepção sobre este filme antes de, enfim, falar sobre ele. Mas de antemão, confesso que foi pra mim a sessão de cinema mais fascinante do ano (até agora, pelo o menos).
House Of Gucci (2021) é uma história do império da família que originou a grife mundialmente conhecida, mais especificamente retratando todos os acontecimentos que levam ao assassinato de Maurizio Gucci (Adam Driver), encomendado por sua ex-mulher, Patrizia Reggiani (Lady Gaga), após um casamento e divórcio turbulentos – uma história digna de novela mexicana. Mas não é uma história sobre o amor pela moda, mas sim, sobre o amor versus o poder de um legado na moda.
Gucci x Reggiani
Confesso que a família Reggiani ganhou meu coração. Com um Augustinho Carrara Feelings, a empresa de transportes bem sucedida do pai de Patrizia, tal qual esta trabalha, traz o pano de fundo perfeito para um contexto cativante da vida de Patrizia. Morri de amores por essa família tão intensa, popular e acolhedora e quero protegê-la do mundo lá fora.
E é aqui que encontramos as diferenças estratosféricas com a família Gucci. Sob uma relação difícil de pai e filho, protagonizada por Rodolfo Gucci (Jeremy Irons) e Maurizio Gucci, encontramos um mar de amarguras, cobranças, decepções e desgostos, além do jogo de poder que envolve os negócios da família. Mas não diria que é uma família ruim, apenas mal amada e mal administrada.
Mesmo com as divergências familiares, é possível sentir o gostinho de uma história de amor calorosa e cheia de paixão no início do filme. O foco da trama no romance e união de um Gucci com uma Reggiani trouxe algo enriquecedor para a história – mesmo que a relação tenha se deteriorado lentamente até virar uma tragédia anunciada.
Novelesco, dramático e exagerado na medida certa
No momento em que a vidente pessoal de Patrizia, Pina (Salma Hayek), faz sua primeira aparição na história, tive um lapso de felicidade dando uma grande gargalhada. Essa foi uma cena marcante que mostra a veia cômica de House of Gucci, mesmo que em meio a um drama enriquecedor. Em alguns momentos, sentimos algo meio pastelão, mas que dão um certo charme único para a obra.
Nada é digno de uma obra de Manoel Carlos, claro. O que uma Dona Helena faria nessa história? Fica uma questão. Daria tudo para uma trama envolvendo Helena Reggiani e Dr. Heleno Gucci, com background da Clínica Gucci na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Digno de Oscar.
Brincadeiras à parte, o ar novelesco de Casa Gucci faz a obra caminhar no tapete vermelho de um grande longa de ambição e poder, mas ao mesmo tempo, pisar em ovos por apresentar uma história complexa como essa, de modo superficial e muitas vezes até confuso – seja pela transição dos fatos ou transição cronológica dos acontecimentos.
Inclusive houve revolta e indignação por parte da Família Gucci (os herdeiros da vida real, no caso), que reprovou muitos pontos no filme – até Patrizia Reggiani aproveitou para beliscar a Gaga por não ter ido visitá-la. Mas fatos à parte, sabemos que nenhuma obra baseada em histórias reais será perfeita. É isso que faz House Of Gucci ser único em sua proposta. A energia “fã ou hater” exalou aqui, mas juro que são as mais sinceras verdades.
Lady Gaga está no ponto alto do seu estrelato – e eu posso provar
É unânime e indiscutível que Gaga entregou uma grande atuação no longa. De longe, um dos papéis mais fortes e marcantes de sua carreira. Desde o primeiro momento do filme, me envolvi completamente com Patrizia, desde seu sotaque marcante (digno de muitas críticas), até as expressões, gestos, trejeitos e o olhar compenetrado que toma conta da cena.
É mais que evidente a entrega da atriz em uma personagem. Afirmo com veemência que House Of Gucci não seria o mesmo sem Lady Gaga. A intensidade, ambição, poder, humor, desprezo e estilo culminou na melhor performance de Gaga para o cinema – inclusive, uma aposta muito comentada para o Oscar 2022.
Ela não tem um bom diretor. Ela não é uma Gucci. Ela não tem uma psicóloga (só uma taróloga, na verdade). Mas ela tem o povo! No fim, sabemos que este, oficialmente, é um filme de Lady Gaga. Eu ouvi um House Of Gaga?
A esperança de uma série é o que me alimentará dia após dia
Ridley Scott, não é nada pessoal, eu juro. Mas eu daria simplesmente TUDO por uma série no estilo American Crime Story: The Assassination of Gianni Versace (2018), dirigida por ninguém menos que Rhyan Murphy. Inclusive, essa série é simplesmente impecável em todos os detalhes. Para quem é apaixonado pelo mundo da moda, fica essa indicação que, inclusive, está disponível na Netflix.
Mas deixando de lado as comparações, a história complexa e cheia de camadas do legado Gucci, abre um leque de possibilidades para uma obra mais profunda e melhor explorada em formato de série. Desde a história dos Reggiani, a família apaixonante de Patrizia que mencionei há pouco; até o legado de gerações e as ramificações da Casa Gucci. Creio eu que a fome por uma adaptação será um desejo sincero de muitos que assistirem ao filme.
House Of Gucci é a queda de um império e ascensão de uma grande obra
É inegável que o império Gucci tenha sido algo forte e grandioso. Fico sem fôlego em pensar na complexidade desta família e em como ela vive hoje com esses fatos do passado. Hoje o que temos é uma das marcas mais emblemáticas do mundo. A junção de moda, história e legado.
Olhando pelo aspecto cinematográfico, House of Gucci fez jus à uma história emblemática. Desde o figurino e maquiagem, até as atuações lendárias de grande peso de Gaga, Adam Drive, Jared Leto (Paolo Gucci, o primo de Maurizio) e Al Pacino (Aldo Gucci, tio de Maurizio), que engrandecem e trazem o impacto merecido à obra.
Tudo isso, envolto em uma atmosfera dos anos 70, 80 e 90, com grandes clássicos na trilha sonora e as principais tendências de moda da época – claro, tudo na mais perfeita maestria Gucci. São nos cenários maravilhosos que o filme nos proporciona, cheios de luxo e bom gosto incontestáveis, que Gaga mais que vestiu com elegância e imponência o legado Gucci – ela sustentou-o e mostrou-se digna de um império. Ela entregou uma Patrizia Gucci.
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