O instinto de amar é natural e orgânico do ser humano, contudo, em inúmeras vezes, se faz do modo mais irracional possível. A gente nunca controla e, principalmente, entende, mas sente de forma intensa e verdadeira. O amor, hora é responsável por iniciar uma história de amor, hora é irresponsável por cometer loucuras. Muitas vezes, o responsável é o desejo, a raiva, a confusão, a instabilidade de sentimentos ou outras emoções complexas demais pra gente entender. Haja terapia para a relação entre corpo, mente e coração. No amor, o corpo fala, a mente traduz e coração sente de forma dilacerante. Mas nesse jogo, como saber a quem dar ouvidos? Só você há de saber. Em “A Natureza do Amor”, uma comédia romântica franco-canadense, temos o amor em sua pura forma e de modo mais humano possível, apresentando uma história linda, intensa, triste, dilacerante e que mostra a verdadeira natureza do amor e como ele transforma a nós, nosso futuro, nossas vidas e nossos corações. 

Sinopse

Em “A Natureza do Amor”, Sophia, uma professora de 40 anos, mantém um relacionamento longo, estável e conformado com Xavier. A vida dela vira de cabeça para baixo ao conhecer Sylvain, que está reformando sua nova casa de campo. Ela vem de uma família rica, enquanto ele vem de uma família de trabalhadores braçais. Sophia questiona seus próprios valores após se entregar aos seus impulsos românticos. Os opostos se atraem, mas eles podem ser duradouros?

Não é trivial, não é clichê e aborda o amor em sua complexidade

"A Natureza do Amor" propõe o debate do amor como desejo, controle, instinto e ação — afinal, qual o seu lugar no coração? | Confira a Crítica do Filme
Imagem: Divulgação / Imovision

Para ser sincero, eu pensava que o nome deste filme era “A Revolução do Amor”, então logo me perguntei que tipo é este de revolução e como ele pode ser ainda mais revolucionário que já é, quebrando barreiras, invadindo e conquistando nossos  corações. Quando me deparei com sua Natureza, tudo ficou em paz, afinal, é mais importante entender o amor do que lutar com suas armas sem fazer primeiramente ser entendível. De forma intensa, poética, didática, clara, imersiva e acessível, “A Natureza do Amor” foge dos clichês para entregar uma narrativa muito rica em detalhes, encontros e desencontros, contextos, reviravoltas e inúmeras emoções para quem assiste. 

Personagens peculiares e muito bem construídos

O mais lindo deste longa é encontrar um um trabalho de elenco que casa muito bem as escolhas para cada papel, deixando que a interpretação faça jus a um enredo que abraça perfeitamente seus personagens. No protagonismo, Magalie Lépine Blondeau (Sophia) e Pierre-Yves Cardinal (Sylvain) protagonizam um casal que exala intensidade, desejo, amor, química sexual e outros sentimentos. Enxergar seus personagens é pouco neste filme, nós criamos uma relação de empatia, carinho e compreensão que conversa com a tela do cinema tranquilamente. Sophia e Sylvain criam uma atmosfera de desejo, sedução, amor avassalador, doses homeopáticas de paixão, carinho e honestidade com a realidade de uma relação intensa e complexa.

"A Natureza do Amor" propõe o debate do amor como desejo, controle, instinto e ação — afinal, qual o seu lugar no coração? | Confira a Crítica do Filme
Imagem: Divulgação / Imovision

Para abrilhantar ainda mais a história, temos personagens maravilhosos e que encantam com carisma, unicidade na atuação e muita personalidade em cada um de seus papéis. Não preciso citar nomes pois são muitos, mas o que me chama a atenção são os diferentes laços e relações que circundam a história e fazem dela ainda mais identificável com nossa vida real. Monia Chokri, diretora do longa e que também atua como Françoise, amiga íntima de Sophia, faz um trabalho majestoso ao entrelaçar a narrativa com tantos personagens secundários, sem deixá-la massante ou carregada demais, mas agregar muito no enredo final trazendo uma história profunda, muito bem contada e equilibrada e com interpretações excelentes também, pois não é para qualquer um o elenco representar fielmente a vida real.

A narrativa não conta uma história de amor, mas uma história sobre o amor 

Do amor viemos e para o amor retornaremos. É incrível, lindo e inspirador ver o amor ser discutido com propriedade e ser tomado não como uma história de amor simples de resolver, mas um caso complexo que se assemelha as nossas idas e vindas do amor — ou nas idas e voltas também. “A Natureza do Amor” nos faz entender que o amor pode vir de um corpo que fala, que diz sobre seus desejos que sobressaem à flor da pele; que o amor pode vir do desejo de ter, pertencer, ser e amar a alguém cujo sentimento é vivo e verdadeiro; que o amor, sobretudo, pode surgir das nossas escolhas, quando escolhemos amar ou principalmente quando deixamos de amar, por já não existir mais amor, para amar novamente o que nos atravessa o peito.

"A Natureza do Amor" propõe o debate do amor como desejo, controle, instinto e ação — afinal, qual o seu lugar no coração? | Confira a Crítica do Filme
Imagem: Divulgação / Imovision

O longa não fala somente do amor que nossos olhos vêem, mas do amor aos olhos dos outros, sendo o “outro” parte integrante de nossas vidas, seja nas relações familiares ou de pessoas mais próximas. A complexidade de um amor ir de encontro às nossas expectativas, caber naquele espacinho especial que reservamos pra alguém que vai preencher, certificarmos de que é alguém que encaixa em nossos desejos mais profundos, nosso modo de ser, nossa vida, cultura, rotina e tudo o que mais importa. O medo de não ter alguém dá espaço ao medo de ter alguém. Nos vemos presos diante de uma decisão difícil, que envolve inúmeros fatores da nossa vida.

"A Natureza do Amor" propõe o debate do amor como desejo, controle, instinto e ação — afinal, qual o seu lugar no coração? | Confira a Crítica do Filme
Imagem: Divulgação / Imovision

“A Natureza do Amor” mostra que o amor não é desejo, nem controle e muito menos instinto 

"A Natureza do Amor" propõe o debate do amor como desejo, controle, instinto e ação — afinal, qual o seu lugar no coração? | Confira a Crítica do Filme
Imagem: Divulgação / Imovision

O amor é ação. Portanto, entende-se como responsabilidade, comprometimento, sinceridade e comunicação. Isso é o que diz Bell Hooks, filósofa e uma das escritoras mais importantes da nossa geração. No fim, “A Natureza do Amor” sai do espaço de desejo incontrolável e irracional, para dar lugar a sua forma mais racional de compreender os sentimentos, avaliar as emoções e fazer as melhores escolhas do amor para diminuir a dor, sofrimento, angústia, frustrações e tristezas. A gente nunca consegue evitar, mas podemos tentar fazer escolhas que priorizem a nós e o que sentimentos. Ter responsabilidade nas escolhas também é amar. Escolher com quem, como e o que vamos nos comprometer também é amar. Ser sincero ao comunicar nossos sentimentos também é amar. O amor de um animal irracional fica no passado e dá lugar a uma nova era para o amor. 

Confira abaixo o trailer oficial de “A Natureza do Amor”, que estreia nesta quinta (25) nos cinemas. Para quem procura um cinema para assistir em Curitiba, o Cine Passeio está com exibição exclusiva deste filme. Vale a pena conferir.

Escrito por

Alison Henrique

Publicitário, Empresário, Dançarino, Cantor, Estudante de Filosofia e, claro, APAIXONADO por Cinema, Arte, Música e Livros. Crítico de Cinema aqui no {Des}Construindo o Verbo com muito sentimento, emoção e boas reflexões pra gente mergulhar nas obras do cinema contemporâneo. Seja Ficção, Drama, Romance, DC, Marvel, Ficção Científica, Bom, Ruim, Médio ou Péssimo. A gente sempre vai se encontrar por aqui pra discutir um pouco sobre tudo. Instagram: @alisonxhenrique.